Capítulo 8 - Arrebatada

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— Por que fez isso? — Eu queria saber.

Priam White retirou de seu bolso sem fundo outro objeto estranho, mas aquele não era tão estranho assim — pelo menos aparentemente — comparado ao anterior. Era semelhante a um crucifixo, com um par de asas encardidas na parte de cima. Tinha a leve impressão de ser uma seringa também. Priam apertou bruscamente o objeto e rapidamente surgiu na parte de baixo uma agulha fina e brilhante. Agora definitivamente é uma seringa, pensei.

Priam enfiou subitamente a agulha da seringa-crucifixo, ou sei lá o que, em minha perna quebrada. Depois ele tapou minha boca com sua mão, evitando que eu começasse a gritar.

A única coisa que eu podia fazer no momento era apenas observar o que estava prestes a acontecer; uma forte luz azul surgiu e saiu de dentro da seringa-crucifixo, submergindo o interior de minha perna. Ziguezagueou por dentro dela alguns minutos, até achar o local fraturado. Então, meus ossos voltaram ao seu lugar de origem. A sensação era a mais estranha do mundo.

Tão logo ele fez a mesma coisa com o meu braço.

— Pronto — disse ele, por fim. — O problema da perna e do pulso já foi resolvido. Mas não há nenhum Artefato para cara esfolada — ele riu baixinho com a própria piada.

— Isso já é bem satisfatório, eu acho — falei para ele.

Desci do carro devagar e fiquei completamente atordoada quando me vi começar a andar.

— Isso é impossível... — sussurrei.

— Por que todos falam isso? Meu Deus. Você acha mesmo? Pois você está vendo que não é.

Entramos pela porta dos fundos do prédio de alguma loja, passando por uma breve sala escura, então chegamos ao corredor principal, que na verdade era uma lanchonete. Priam foi correndo até a janela de vidro, procurando algum sinal de vida dos policiais.

A lanchonete estava pouco movimentada, mas as poucas pessoas que estavam ali ficaram olhando para mim indiscretamente. Então percebi que era minha roupa de paciente de hospital que estava chamando a atenção deles.

Eu e Priam sentamos em uma mesa nos fundos.

— Você precisa tirar essa roupa — disse Priam.

— Ah, é mesmo? — felizmente ele percebeu o meu sarcasmo.

— Vai querer alguma coisa? — indagou ele.

— Não — falei rudemente. — Eu só quero que me explique que merda está acontecendo.

Seu olhar parecia um pouco distante. Ele navegava pelos seus pensamentos, bastante preocupado. Minutos depois ele voltou a olhar para mim, sério, respirando fundo e depois começando a desembuchar:

— Você sabe — ele me encarava ainda mais sério, franzindo as sobrancelhas. — Estamos fugindo da polícia.

— Argh — bufei, revirando os olhos. E seu sorriso aqueceu quando ele me viu fazendo aquilo. Eu acabei me estremecendo sem saber muito o porquê.

— O que você quer saber?

— Há muitas coisas que quero saber — eu lhe disse. — O que são esses trecos que você usa? Como foi possível... nos teletransportar, ou sei lá como se fala, do hospital para aquela caminhonete? Como aquela seringa bizarra deu um jeito em minha perna?

Ele tirou dos bolsos o cristal transparente e a seringa-crucifixo. Apontou para a pedra cristalina e disse:

— O paiol dos Ceifadores é bastante vasto, mas vamos lá. Este Artefato aqui se chama Kosmus, não me pergunte o porquê dele se chamar assim, eu também não faço a mínima ideia — ele deu de ombros. — Ele basicamente teleporta você para os lugares que se imagina. Não para muito longe, como daqui para o outro lado da cidade...

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