Capítulo 7 - Novo Mundo

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Foi então que repentinamente uma silhueta surgiu na janela ao lado. Braços e pernas adentraram o quarto e então um homem estava de costas, a poucos metros de distância de mim, usando uma roupa preta com detalhes branco e prateado. Engoli em seco. Meus olhos imediatamente encontraram a longa espada em suas costas e os seus cabelos arrepiados. Ele não precisou se virar para eu saber quem era.

Eu imediatamente peguei a faca de cima da bandeja e apontei na direção dele, com os braços tremendo.

Ele veio atrás de mim! Ele havia matado Tyler e agora tinha vindo atrás de mim para acabar o serviço.

— Saia daqui! Assassino! — berrei, e imediatamente o paciente ao lado da cortina gemeu, parecendo sonolento dessa vez, mas logo voltou a dormir.

Ele olhou para fina cortina ao meu lado, caminhou em direção a ela e deu uma verificada. Ele torceu os lábios, parecendo satisfeito, olhou para mim e então deu uma risadinha debochada. Deu alguns passos e disse:

— Você não vai querer acordar esse cara...

— Cale a boca! Saia daqui, seu monstro! — vociferei.

— Opa, calma aí. Eu só fiz o meu trabalho.

— Desde quando matar pessoas é um trabalho? — berrei, segurando firmemente a faca. — Você é algum tipo de mercenário ou coisa do tipo?

— Aquilo não era uma pessoa. Deixou de ser uma quando o mal tomou conta de seu corpo — ele disse, com um tom tranquilo na voz. — Eu mato demônios. Sim, sim. Esses monstrinhos com chifres que você vê em qualquer filme de terror por aí. Isso facilita bastante pra você, não acha?

Um silêncio ensurdecedor surgiu repentinamente e pairou pelo local por um breve momento. Eu simplesmente tinha paralisado ao ter ouvido aquilo. Será que eu não estava ficando louca? E aquelas tais criaturas de fato existiam? Não, é claro que não.

— Eu não acredito em você... — murmurei de cabeça baixa, deixando deslizar momentaneamente a faca de minha mão até a bandeja. Porque eu sentia como se meu mundo tivesse virado de cabeça para baixo se eu não acreditava nele? — Eu vou chamar a polícia. Eles vão prendê-lo por ter matado Tyler.

Ele soltou uma gargalhada.

— Ah, não, não, não... Não sou eu não quem eles vão prender!

— Do que você está falando?! O que você quer comigo?

— Estão achando que foi você quem matou aquele cara... É apenas questão de tempo até eles virem prendê-la. E eu odeio admitir isso, mas... acho que isso é injusto com você, sacou? Ser culpada e punida por uma coisa que eu fiz, e não você. Sou uma pessoa humanitária, se é que me entende. — eu o entendia parcialmente, mas isso não significava absolutamente nada. O garoto de preto inspirou profundamente e então finalizou: — Eu posso ajudá-la a fugir daqui, se quiser. Tudo depende de se você vai ou não querer tirar essa sua bunda mole daí dessa cama.

De repente, o som distante de uma sirene adentrou a janela do quarto até chegar aos meus ouvidos. Merda! Isso está mesmo acontecendo?

— Eu avisei — disse o garoto estranho.

O desespero inundou meu corpo por dentro, tomando totalmente conta de mim. Eu não queria ser presa, não conseguiria ficar longe de Nathan. Mas então... eu teria que fugir mesmo com aquele estranho... eu poderia levar Nathan comigo?

Ele pegou uma de suas facas entorno de seu quadril e ficou batendo na mão, imitando o ritmo vindo do relógio na parede.

— O tempo voa, Lola...

— Como sabe meu nome?

— Isso não importa.

Revirei os olhos, bufando.

— Digamos que eu vá, para onde iria me levar?

— Essa cidade é muito pequena, iriam te achar facilmente. Eu sugiro que no mínimo saiamos de Washington, talvez ir para Oregon ou Wyoming. Você escolhe, se quiser.

Aquilo era tão injusto. Eu ia mesmo passar o resto da minha vida como fugitiva!? Tudo por culpa dele! Mas que outra escolha eu tinha? Eu deixaria que me prendessem por um crime que não cometi? Sem chance.

— Se está arrependido, por que não se entrega? Foi você que matou Tyler Etchison e não eu.

— Você entendeu errado, garota. Eu não estou arrependido — esclareceu ele. — Só quero ajudá-la a sair dessa merda toda, e com certeza eu não irei me entregar para polícia. Tenho coisas melhores a fazer.

— Argh! — Resmunguei.

— Quando resolver ir, já será tarde demais. — Falou ele, se aproximando.

— Tudo bem — disse por fim, mas logo me senti um pouco arrependida. — Mas como vou sair daqui nesse estado?

Ele me olhou rapidamente dos pés à cabeça.

Minha perna esquerda estava quebrada e engessada, e o meu braço direito estava fraturado. Não conseguia ficar de jeito nenhum de pé, imagine sair do hospital às pressas.

— Será fácil — disse ele, com um olhar confiante.

Antes que eu pudesse perguntar como, ele tirou do bolso da calça um pequeno objeto parecido com um cristal, mas que olhando de perto dava para perceber que era bem mais que isso. O objeto era transparente, mas brilhante, com alguns pequenos símbolos enigmáticos e prateados estampados na parte de cima, perto do que parecia ser um botão, dentro dele existia um grande céu nebuloso, com nuvens escuras, cheias de relâmpagos e raios. Tive que piscar duas vezes para que conseguisse sair do transe.

— Segure a minha mão.

Devagar, com desconfiança, segurei a mão quente e macia daquele garoto de que nem sequer sabia o nome...

— Um... dois... — contou ele.

— Qual seu nome? — finalmente perguntei.

Mas ele nem ao menos pareceu ter me ouvido.

— Três!

Ele apertou o botão.

De repente, fomos sugados pela pedra brilhante. Sim, exatamente isso. Como se o cristal fosse um aspirador de pó, e nós, a sujeira. O mundo a minha volta girou e se transformou em uma imagem borrada e enodoada. Meus ossos e órgãos pareciam ter se transformado em água. Quase não consegui respirar naquele momento.

E então, em um piscar de olhos, eu estava sentada no banco do carona de uma caminhonete velha e enferrujada.

— Priam — ele finalmente respondeu, sentado ao meu lado com as mãos no volante. — Priam White.

EntidadesWhere stories live. Discover now