Capítulo 3

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Emma

Quando chego em casa, mamãe está digitando furiosamente em seu computador.

— Não era para você estar na escola? — é a primeira coisa que ela diz quando me vê cruzando a porta.

— E não era para você estar digitando ao invés de tentar assassinar o teclado? — respondo, e ela ri — Tive uma das minhas crises de dor de cabeça, decidi voltar.

Nunca contei sobre minha "peculiaridade" para minha mãe. Afinal, não era fácil para uma menina de 12 anos dizer que conseguia ouvir pensamentos de outras pessoas na própria cabeça, e agora, aos 16, não tinha mudado muita coisa. Mas no início eram apenas sussurros. Nem pareciam reais, e eu só conseguia ouvir os pensamentos de quem era próximo de mim. Com o tempo, as coisas foram piorando, ao ponto de me fazerem perder o controle.

— O remédio está na mesa da cozinha, toma dois comprimidos se a dor estiver muito forte. — ela responde sem tirar os olhos do computador.

Jogo a mochila no sofá e vou até a cozinha. Ao chegar perto da mesa, me detenho. Dois envelopes ali em cima me chamam a atenção. Quando os pego, percebo do que se tratam, e solto um suspiro. Dois alertas sobre as contas de luz e gás, que estão atrasadas. Mamãe tinha me dito que pagara tudo naquele mês. Disse que tinha sobrado dinheiro para comprar o notebook que eu estava precisando como presente de aniversário. Sabia que as contas não batiam.

Volto para sala e limpo a garganta, tentando chamar sua atenção, e ela se vira para mim.

— Algum problema, querida? — pergunta, com uma expressão preocupada.

— Você disse que o computador foi comprado com um dinheiro extra. Até onde eu sei, o dinheiro da conta de luz e gás não é extra. — cruzo os braços, e ela fecha os olhos.

— As contas em cima da mesa. — ela conclui, e eu aceno positivamente com a cabeça, embora saiba que ela não consegue me ver. — Está tudo sob controle, Emma. Você precisava do computador para a escola, eu estou com alguns trabalhos avulsos para fazer. Vou ganhar dinheiro extra logo. Não precisa se preocupar.

— Devemos devolver o computador, eu posso pedir emprestado o do Peter quando precisar.

— Não! Não devemos. Eu resolvo isso, filha. Não se preocupe.

Como posso não me preocupar?! Ela está se matando de trabalhar em seus dois empregos, isso não faz bem à ela. Deveria ter batido o pé e negado o notebook quando ela me entregou. O dinheiro que gastamos nele faria falta cedo ou tarde... 

— Vou procurar algum emprego amanhã, depois da escola. — digo, e ela me olha irritada.

— Já falamos sobre isso. Você vai focar na escola. Precisa se preocupar apenas em tirar notas boas para entrar numa faculdade boa. Um emprego só vai te prejudicar. Eu dou conta disso.

— Se eu arranjar algum emprego ainda terei tempo de estudar, e teremos mais um salário para ajudar nas contas. Você vai poder pelo menos parar de fazer esses trabalhos extras. É a melhor opção.

— Emma...

— Isso não está aberto à votação! — brinco, imitando sua expressão brava, e ela ri, se levanta e me abraça.

— Eu não quero que você fique sobrecarregada.

— Não ficarei. Sou muito organizada, você sabe, — ela ri novamente, pois isso é uma completa mentira. — posso fazer isso com o meu tempo. Vou me adaptar, você vai ver.

Nós nos desgrudamos, e eu finalmente tomar meu remédio. O que mais quero fazer agora é dormir, e esperar para que a dor de cabeça passe.

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Filhos do Infinito | Peter ParkerWhere stories live. Discover now