Bar

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Sinto sabor de desgosto e humilhação à medida que nos aproximamos do barzinho. Aceitei o convite num impulso guiado pelo sentimento de dívida que sinto por Marcos e sua família. Eles me acolheram no momento mais difícil da minha vida e nunca cobraram absolutamente nada por todo carinho e apoio, mas eu não sei receber nada de graça por que ainda não aprendi a diferença entre a bondade e o interesse. Eis mais um desafio que terei que superar na terapia.

Eu sempre achei que as luzes eram o ponto alto desse barzinho com decoração retrô. Nada me encantava mais que elas. 72 lâmpadas. Contei e recontei cada uma delas, já que foram muitas às vezes em que eu fiquei aqui a espera do meu ex-amante ou a espera de algum milésimo de segundo que ele tivesse a me oferecer às escondidas, dentro dos banheiros ou nas vielas ao redor.

Eu sempre quis estar sentada num desses banquinhos vintage de madeira envelhecida, enquanto o garçom nos serviria com vodka e gim. Nunca soube o porquê, mas ele amava gim. Eu até posso visualizar a imagem de nós dois rindo e trocando olhares e carícias de amor e desejo.

Sempre foi uma visão bonita, mas a garota sentada com ele nunca fui eu e sim Vitória. Eu era a outra e as amantes não sentam em banquinhos de madeira vintage no barzinho onde o amante leva a namorada e encontra os amigos.

- Tem certeza que é esse o lugar? – Pergunto a Marcos, tentando esconder meu desconforto.

- Você não gosta daqui? – Ele me olha como se pudesse adivinhar meus pensamentos.

- Até gosto. Só não estou no clima pra barzinho hoje. – Minto.

- Sei. – Ele observa minhas mãos. Cravo as unhas na pele deixando marcas avermelhadas.

- Baby, - ele ainda não aceitou o "nome" dado pelo meu ex e continua pronunciando-o como se estivesse sendo obrigado a falar de algo impuro e medonho. E não está de todo errado. – não sei quantas vezes você veio aqui ou se conhece o lugar por completo...

- Sim, eu conheço. – Interrompo-o imediatamente.

Então nossos olhos se encontram. É claro que eu já os vi, mas é a primeira vez que eu os noto. São verdes. Daqueles verdes escurecidos como musgo. O desenho que se forma na pupila dele é indecifravelmente delicado. De uma certa forma, é uma cor que me conforta. Decido, nesse exato momento, que esse é meu tom favorito de verde.

A verdade é que em nenhum momento ele tirou os olhos de mim. Ficou sempre ali, me olhando e me tomando conta. Marcos me observava como alguém que estava sondando um território tomado pelo inimigo, ao mesmo tempo em que tentava fazê-lo se render.

- Eu só preciso que você confie em mim. – Ele me pede e eu me rendo.

Aperto a palma da mão de Marcos quando saímos do carro. Deixei marcas avermelhadas na mão dele também. Apertei forte, na esperança de despertar nele o desejo de me soltar, mas ele permaneceu firme e foi essa firmeza que me fez encarar o soco no estômago que eu recebia a cada passo em direção à entrada do bar.

- Baby. – Ele falou sem me olhar. Já percebi que ele evita me mostrar o desgosto que esse nome lhe traz.

- Tu sabia que apenas 5% dos prédios da cidade possuem cobertura do tipo terraço?

- E todos eles não são cobertos? – Tento brincar para espairecer e esquecer dos olhares que eu sinto se direcionarem a mim.

- Você vai ver só o que eu quero dizer. – Percebi que o sorriso dele, olhado de perfil é tão bonito quanto de frente. É como uma prévia do que vem a seguir, como um petisco de bar.

- O que você quer beber? – Ele me pergunta.

- Uma cerveja ta bom. – Não tenho estômago para beber, mas vou acompanhá-lo mesmo assim.

BABYWhere stories live. Discover now