Insônia

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Estava escuro. A única luz que entrava vinha do poste ligado bem na frente da minha janela. Dentre as frestas da cortina, a luz encontrava o caminho até mim e me impediam de dormir. Não gosto de claridade. Para conseguir dormir eu preciso estar 100% no escuro.

Fechei os olhos e esperei o sono vir, mas uma imagem projetava-se na minha mente, tipo quando os resquícios de luz e imagens se misturam e permanecem dançando dentro dos olhos mesmo com as pálpebras cerradas. Era ele que dançava bem na minha frente.

Tentei focar num ponto de luz na cortina esvoaçante para esquecer dos pensamentos que me atormentavam e me incomodavam bem mais que a luz, mas meu corpo ainda sentia a pele roçando na minha perna, discretamente, em baixo da mesa de jantar. Me virei diversas vezes na cama, mas não teve jeito, a memória dos pés dele cortando caminho no meio das minhas coxas e me provocando sem me olhar ainda me faziam contorcer de desejo.

Primeiro a ponta do dedão dele veio subindo pela minha perna esquerda, depois na direita. Ou será que foi o contrário? Por mais que eu tente relembrar os detalhes, as lembranças picantes começam a desaparecer da minha memória e eu sei disso porque a cada nova degustação da lembrança eu me arrepio menos. E os arrepios são a própria denúncia do prazer.

Ele deixou o talher cair de propósito. Senti-o chutar o garfo para perto de mim, assim ele pode me acariciar um pouco mais intimamente. Ele não sabe, ou melhor, ele sabe sim, o quanto foi difícil não revirar os olhos com aqueles dedos roçando em mim, mas os arrepios estavam lá e Vitória logo se voltou para mim.

Foi só quando percebi que ela me observava que fui então tomada por uma onda de vergonha e eu nunca me senti tão exposta em toda minha vida. Ela parecia capaz de enxergar todos os meus segredos somente com aqueles olhos azuis. Ela é uma boa garota, tenho que admitir. Sempre foi leal ao namorado, aos amigos e à família. É boa em tudo que faz, seja no trabalho ou na faculdade de medicina. Muito educada e gentil. Completamente diferente de mim.

Não sei até que ponto ela compreende as más intenções que habitam os corações de pessoas como eu, talvez até ela esteja se recusando a enxergar a verdade que está bem diante de seus olhos. Ou ela é apenas estúpida demais para não reparar na forma como escondo um sorriso (e um gemido) mordiscando meu lábio inferior.

É essa mesma lembrança que abranda o fogo que estava tomando conta de mim, mas eu não quero que ele se apague. Eu quero que ele cresça, então decido alimentá-lo sozinha até que ele me queime também.

- Baby. – Alguém sussurrou enquanto eu estava perdida em meio a meus pensamentos e gemidos.

Arregalo os olhos assustada e me sento comportadamente o mais depressa que consigo.

- Está tudo bem. Sou eu. – Ele acaricia minhas pernas com o equilíbrio perfeito entre suavidade e firmeza.

Demoro um pouco a reconhecer as feições dele, mas o toque...ah o toque. É impossível não reconhecer. De uma certa forma, minha pele já sabe quando o calor que me esquenta vem do corpo dele. Meu organismo explode em regojizo.

- Estava com saudade de mim não é. – Ele enlaça a mão na minha mão e sorri quando percebe que ela está molhada.

- Só um pouco. – Respondi arfando aliviada e excitada.

Uma porta bateu no corredor e nos assustamos, eu muito mais que ele.

- Vitória? – Eu sussurrei.

- Dormindo.

Ele se aproximou do meu corpo, as mãos cada vez mais próximas da minha virilha.

- Pensei você estivesse dormindo também. – Ele disse enquanto eu segurava os primeiro gemidos.

- Eu estava quase. – Menti quase sem voz.

- Eu vi.

Ele introduziu dois dedos em mim e não hesitou em girar. Logo em seguida estávamos trocando beijos ardentes e desesperados, como se não nos beijássemos há anos.

- Por que você veio? – Perguntei depois de gozar.

Meu coração acelerado disparou ainda mais quando as mãos que me acariciavam pararam de me tocar e ele se afastou um pouco de mim, como se eu o tivesse despertado de algum transe em que ele estava perdido.

"Continue, continue". Eu pedia internamente. "Não me deixe assim pela metade".

A escuridão agora parecia menos intensa e, mesmo de longe, quando nossos olhos se encontraram eu vi que ele também ardia de paixão.

- Por que precisamos acabar o que começamos no jantar, Baby.

Ele me disse como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Uma fração de segundo depois ele já estava abrindo espaço entre as minhas pernas com o corpo todo e eu, claro, não hesitei em recebê-lo.

Não consegui dormir nesta noite e não foi por causa da luz do poste. Na verdade eu estava muito ocupada rolando na cama ao lado do meu amado para se quer me preocupar com a luz do poste.

Até pensei em perguntar algo mais sobre Vitória, mas foi apenas uma pequena lembrança de culpa que veio me saudar. Não me deixei levar por esses pensamentos que abrandariam o meu fogo, o nosso fogo. Isso eu não queria. Eu desejei tanto e eis que agora ele estava aqui, deslizando o corpo dele sobre o meu, me presenteando com a melhor noite de insônia.

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Se você chegou até aqui imagino que seja por que está dando uma chance a está história e eu te agradeço imensamente por isso!! 💙✨

BABYWhere stories live. Discover now