Capítulo 20

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Com o choque do vaso em seu crânio, o Senhor do Entretenimento caiu estatelado no chão, sem reagir. Rubi tocou no pescoço do homem esguio e percebeu que ele ainda estava vivo.

- Desculpa, Twin!

Ela pegou o cartão translúcido sobre a mesa e também um tablet pessoal dele. Saiu pela porta espiando ao corredor, que parecia vazio.

Ela correu de volta ao elevador multidimensional e retornou ao passeio comunal, onde uma multidão corria de um lado ao outro feito formigas sob um ataque de gafanhotos. Havia guardas por todos os lados, além de gritos histéricos e sons de pessoas chorando. O caos gerado no ataque frustrado ainda não havia sido neutralizado.

Rubi ligou o tablet e buscou o mapa da colônia Genesis, no intuito de encontrar o caminho mais rápido para o Centro de Ciências e Engenharia. Um diagrama tridimensional holográfico se projetou da tela digital, mostrando os corredores e portas ao longo de todo o complexo.

Manualmente, Rubi induziu a ampliação do trecho específico da ala sul, ponto onde precisava chegar. Ela teria que atravessar as fazendas de cultivo até o outro lado, na área restrita dos laboratórios.

Escondendo-se entre as árvores do passeio e os pilares, Rubi conseguiu ocultar-se dos batalhões de segurança que marchavam de um lado ao outro, escoltando nobres, abordando pessoas e arrastando suspeitos para o setor de inteligência.

Drones de varredura flutuavam e escaniavam as pessoas, fazendo reconhecimento facial e acendendo luzes verdes ou vermelhas de acordo com o veredito do banco de dados sobre a identificação de supostos rebeldes e traidores.

Ela só teria uma chance de encontrar o pai do seu filho e ela não poderia falhar. Era tudo ou nada.

Após atravessar toda a área pública sem chamar a atenção, correu pelos corredores até a ala sul da Colônia. Ao final de uma passagem estreita, chegou finalmente numa área expandida, diante de dois grandes portões de metal maciços. Um drone saiu de um buraco na parede exigindo sua identificação.

Rubi mostrou o cartão de passe livre de Twin, com a mandíbula pressionada de tensão a ponto de doer seu maxilar. O pequeno aerobot fez a varredura do cartão e virou-se para Rubi:

- Seja bem-vindo à fazenda de cultivos orgânicos!

E os portões se abriram, revelando uma gigantesca estufa repleta de árvores, carramanchões e galpões numa área de cerca de 10 ha de extensão. O acesso aos laboratórios ficava do outro lado.

Caminhando através daquele mar verde, Rubi ficou impressionada com o aroma natural e a umidade do ar. Fileiras de laranjais, macieiras e bananeiras se extendiam por cerca de um quilômetro em corredores simétricos. Grades ostentavam tomateiros, feijões e parreirais de uvas que subiam por suportes suspensos até o teto. Morangos vermelhos e vistosos brotavam de furos nas paredes artificiais, intercalados por tempeiros e chás aromáticos.

Com cautela, se aproximou de um dos galpões e entrou, em busca de alguma ferramenta que pudesse ser usada como arma. Ao abrir a porta, se deparou com uma fedorenta possilga de porcos imensos, confinados em cubículos, sendo alimentados constantemente por tubos e aparelhos monitorados por robôs.

Havia um sistema integrado de alimentação intravenosa, injeção de hormônios sintéticos de crescimento e pesagem para a triagem do abate. Porcas férteis eram separadas para a reprodução, toda monitorada e controlada por autômatos mecanizados pré programados. Era algo estranho e aterrador.

Perto da porta, uma espécie de armário com ferramentas mecânicas de cultivo exibia equipamentos eletrônicos e manuais. Pendurados num suporte, pendiam tesouras de poda, pás, ansinhos e uma grande faca de corte bem afiada. A navegadora pegou a faca, pensando em como aquilo poderia ser tão perigoso quanto inútil. Porém, ao abrir uma gaveta automática sob o balcão, deparou-se com uma pistola laser calibrada e carregada.

Sem pestanejar, largou a faca e pegou a pistola, saindo da possilga em direção aos laboratórios.

Após atravessar o viveiro de mudas e a criação entomófila de insetos comestíveis, Rubi chegou próximo à porta que dava acesso ao corredor que levava aos laboratórios. Estava tudo estranhamente calmo e silencioso. Havia uma grande tensão no ar.

Antes que almejasse abrí-la, um homem magro de óculos saiu pela passagem, distraído com a averiguação de planilhas em seu tablet. Ele apareceu tão subtamente, que Rubi permaneceu onde estava, disposta a não perder mais tempo.

Rubi foi vista pelo homem, que ela identificou como sendo o mensageiro de Botsume, o Oficial Murdock.

O homem pálido e esquálido, devido aos anos confinado em laboratórios e salas climatizadas artificialmente, se assustou com sua presença e se dirigiu a ela em tom defensivo:

- O que você faz aqui? Essa área é restrita!

Ele olhou para a pistola na mão da mulher, e intensionou voltar por onde havia entrado. Porém, Rubi fez sinal para que parasse. Levantou a mão com a pistola para cima, na tentativa de mostrar que não atiraria nele. Queria apenas que a ouvisse.

O suor escorria pela sua testa até o pescoço.

- Você é o Murdock, certo?

Ele acenou que sim com a cabeça.

- Você lembra de mim, sou a Roberta Gomez! Eu preciso falar com Botsume urgente e você tem que me levar até ele!

Com tom assustado, ele falou sem tirar os olhos da pistola:

- O que você quer? Você vai matá-lo?

- Não! - Rubi estava ficando sem paciência com aquela conversa. O tempo corria e ela precisava agir. - Prometo que não vou machucá-lo! Eu só quero que me leve até Botsume!

Ele não tirava os olhos da arma, mesmo quando falava com Rubi. Ele desconfiava de suas intensões.

- Por que a pistola laser?

- Porque há soldados por todo o lado e houve um atentado que matou o presidente terráqueo! Estamos todos em perigo e vão caçar todos os envolvidos com a rebelião! Por favor, me leve até Botsume!

Murdock sabia do atentado na Cúpula dos dois mundos e também sabia da situação repressora do sistema de segurança da colônia. Ele conhecia os exilados, assim como sobre o envolvimento de Botsume com os rebeldes.

Murdock Saiu da atitude defensiva e passou a colaborar. Ele era um oficial de confiança de Botsume e ajudava como colaborador interno dos exilados. Seu papel na revolta era contrabandear tecnologias para que o engenheiro de motores levasse-as até Malik. Seus infiltrados no angar possuíam acesso à área externa e também através dos túneis. Era uma manobra muito arriscada, mas mantera a vida dos 800 refugiados em Marte sobrevivendo nas minas subterrâneas.

- Venha, Rubi! Botsume está na zona de testes concluindo seu trabalho de tecnologia reversa de salto espaço-temporal!





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Será este o grande encontro que Rubi esperava?

O que vai acontecer depois que ela atravessar a entrada do laboratório?

A tensão vai aumentando conforme Rubi vai avançando seu caminho nos tortuosos corredores da estação Genesis! Continue acompanhando esta Space Opera e descubra novas revelações sobre o contato alien.

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