Capítulo 12

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A cabeça de Rubi girava como um peão. Estava embrenhada em algo grande que poderia custar sua vida. Nunca dera muito valor à tranquilidade monótona de sua existência no espaço, como também nunca imaginou estar metida até o pescoço numa trama perigosa, à iminência de um ataque surpresa dos exilados.

Em tão pouco tempo, conhecera os cabeças rebeldes que estavam por estourar um levante a qualquer momento, pondo em xeque a tênue ordem piramidal da colônia Genesis. Ou, estava prestes a assistir a chacina de um grande número de pessoas desesperadas por um punhado de comida e oxigênio.

Mas as coisas não eram tão simples. Como confiaria informações confidenciais do setor de Engenharia da Corporação Landor a um espião que nem ao menos conhecia? E se falasse para o homem errado? E se descobrissem que ela fora cúmplice de um roubo de carga pirata?

Não, eles nem sabiam do roubo. Para todos os efeitos foi um choque com um asteroide. Eles tinham que acreditar nisso pra que pudessem se safar. A ansiedade pulsava nos vasos de seu pescoço.

Tudo estava acontecendo rápido demais e logo sua cabeça estaria à prêmio. Ficou com raiva de si mesma por desejar viver uma aventura na vastidão do espaço. Sua vontade de potência à trouxera para essa perigosa missão e não havia mais chance de recuar. Pela primeira vez em sua vida, teve o genuíno medo da morte.

Apesar do medo, ela não queria desistir. Iria até o fim com Botsume, escolhendo voluntariamente o seu propósito de vida. Já que era pra viver uma aventura, que ela mesma fosse a protagonista de sua própria história.

Decidiu vestir uma roupa confortável que não fosse tão chamativa. Era difícil encontrar algo discreto como os macacões típicos do cargueiro Montenegro. Estava com saudades de pilotar.

Colocou um vestido longo azul, evitando deixar o corpo à mostra. Não queria os bajuladores de Landor no seu encalço. Desceu para o refeitório comunal, onde os colonos partilhavam dos alimentos básicos como grãos e bolos à base de farinha de insetos liofilizados, com aromatizantes que incrivelmente enganavam o paladar. Um suco a base de maçãs cultivadas nos viveiros parecia fresco o suficiente para matar a sede.

- Ora, ora! Se não é a Rubi estonteante que deixou nosso anfitrião pelos encantos de um belo par de braços! - disse um homem de cabelos lambidos que lembrava estar no salão Vip, no dia do banquete.

- Eu já estou de saída...

- Não se acanhe! - Falou o esquisito, tocando sua mão no intuito que ela ficasse. Mas Rubi se recolheu ao toque, desconfortável.

- Eu entendo sua reação de desgosto com o governador. Todos temos aversão àquele fanfarrão e toda a sua comitiva de puxa-sacos bajuladores! - e deu uma piscadinha discreta. Rubi detestava aquele cacoete dos homens marcianos. - Porém, todos temos que entender que tudo o que temos aqui, devemos à corporação da família Landor, que domina o mercado de tudo e mais um pouco. Do bem mais precioso que consumimos aqui na colônia Genesis!

O estranho pegou um pequeno cubo de gelo de dentro do copo e pôs na própria boca, com satisfação.

Rubi não gostou do rumo daquela conversa. Aquele homem, de ar nada confiável, que chegara de repente cheio de intimidades após uma noite sem terem sequer sido apresentados. Aparentando não se intimidar com o vácuo deixado por Rubi, ele continuou:

- O suco desta maçã e a carne que degustamos no banquete vem de suas fazendas, na ala oeste da colônia, e de seus fartos carregamentos oriundos da Terra. O ar que respiramos é reciclado por todo um ecossistema artificial mantido pela mais alta tecnologia desenvolvida nos laboratórios da corporação. Os grãos deste simples bolo de milho são geneticamente modificados por biotecnólogos pagos pela sua fortuna. - Mudando seu humor repentinamente, ele ficou sério, num tom mais intimidador. - E mesmo a oportunidade de estar viva aqui e agora, para comer e respirar esse ar de aroma frutado, depende da boa vontade do nosso magnânimo Senhor!

Rubi se percebeu diante de uma prova clara de que estava sendo vigiada a todo momento e deveria tomar muito cuidado a cada passo que tomava dentro da colônia. Não seria fácil seguir para a doca espacial sem deixar suspeitas. Não poderia sair deliberadamente nesta missão confidencial e deixar ser vigiada por câmeras e bajuladores espalhados por todos os cantos. Foi então que teve uma ideia:

- Você não me disse seu nome, apesar de saber quem eu sou.

- Hum, está interessada agora? Muito bom. - sorriu maliciosamente. - Me chamo Twin, encarregado do entretenimento aos nossos visitantes!

- Ótimo, pois me sinto um tanto entediada no confinamento dos meus aposentos. Já explorei o passeio público e não conheço outros locais onde eu possa... me entreter.

- Temos uma gama de atividades interessantes para uma dama. Há salões de jogos, com cassino e apresentações de música, dança e teatro. Caso queira algo mais profundo, temos salões de entorpecentes lícitos, com os melhores depressores e estimulantes do sistema solar! Agora, se quiser ter um pouco de luxúria, as casas de prazer são muito recomendáveis, para todos os gostos e desejos.

Nada parecia essencial. Rubi não queria jogar dinheiro fora, tão menos se entorpecer até perder os sentidos de si. E ela sentia algo por Botsume que tornava as casas de prazer uma recreação desinteressante. Tinha que haver algo mais emocionante e útil pra ocupar seu tempo.

- Vocês não tem algo que estimule mais a adrenalina, uma diversão mais prática, por assim dizer?

- Bom, tem as áreas esportivas e de luta, que são frequentadas por oficiais do exército marciano. E
há também os simuladores. Mas não costumam ser frequentados por civis.

Rubi estava começando a se interessar mais por aquela conversa.

- Que tipo de simuladores?

- Não são para você, uma dama de alta classe. Deixe os soldados brincarem com seus videogames enquanto a Corporação Landor lucra com o fim da pirataria!

Rubi teve vontade de rir, mas se conteve. Não poderia dar muita bandeira para aquele cupincha esquisito. O cabelo lambido não combinava com a cara dele.

- Pois saiba, senhor do entretenimento, que sou uma navegadora altamente qualificada, com formação na Academia de Pilotos e 20 anos de experiência na condução de cargueiros pelo espaço. Você vai me negar a chance de pilotar em um simples simulador de vôo?

Twin não parecia muito impressionado, mas o charme de Rubi parecia fazer a diferença. Ela tentou persuadí-lo por meio da insistência indireta, encarando-o firmemente e dando um sorrisinho no canto do lábio. Twin suspirou, mas decidiu dar trela:

- Não é um simples simulador de voo e muito menos um ambiente frequentado por mulheres.

- Não sou uma mulher comum! Já deveria saber disso. - continuou, com seu jogo persuasivo.

- Deu para perceber. - comentou Twin, dando uma espiadela em Rubi, de cima à baixo. - Posso abrir uma exceção, se você se comprometer a passar seu período de recreação comigo em sua estadia na colônia!

Era um pedido que Rubi detestaria cumprir, mas por hora, era o melhor jeito de conseguir abrir uma porta para seu acesso às docas.

- Fechado! Me leve para o simulador de voo pelas manhãs e passo às tardes de recreação com você.

O homem esguio de cabelos lambidos se deu por satisfeito, terminando a conversa com um risinho cretino.



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O que pretende o esquisito Twin, ao se oferecer como acompanhante de Rubi em sua estadia na colônia Genesis?

Como Rubi vai conseguir chegar à doca sendo vigiada todo o tempo?

Acompanhe essa Space Opera do Wattpad e descubra o que vai acontecer nos próximos capítulos!

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