Capítulo 15

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Dentro do cargueiro Montenegro era como estar em casa. Só que dessa vez, uma casa high tech, com circuitos de alta tecnologia quântica de ponta, a especialidade marciana.

A vontade de Rubi era sentar na sua mesa de navegação e partir para nunca mais voltar. Só que não dava daquele jeito. Ela precisava seguir em frente com o plano para manter a colônia estável, ao menos, por enquanto. Vidas de centenas de pessoas poderiam ser poupadas caso resultasse em sucesso a sua missão.

Seguiram para a ponte de comandos e Rocket lhe mostrou novos recursos de navegação.

- Quem dera ter esses recursos há 20 anos! - comentou Rubi, admirada com os sensores cranianos neuroelétricos de navegação. Sua experiência no simulador de voo lhe dera confiança e domínio na pilotagem de aeronaves com tecnologia de ponta do planeta vermelho. Ficou imaginando como seria comandar o Montenegro por meio de comandos neurais.

- Isso é só uma palha do que os engenheiros de Genesis andam produzindo nos últimos anos. Há muita coisa nova em tão pouco tempo! Nem os cientistas terrestres conseguem acompanhar.

Rocket não sabia sobre a origem alienígena do rápido avanço tecnológico. Se realmente fosse uma infiltrada rebelde, deveria saber do resto da verdade para alertar os insurgentes e evitar um verdadeiro massacre que Rubi acreditava estar a um passo de acontecer.

- Podemos nos falar aqui? - questionou Rubi, com pressa de voltar para a doca sem deixar suspeitas.

- Sim. Sua nave, suas regras.

Rubi sorriu pelo reconhecimento de sua relação com o velho cargueiro e pensou nas palavras que iria proferir. Engoliu seco antes de se pronunciar:

- Tenho uma mensagem de Botsume, que está trabalhando há dias no setor de Ciências e Engenharia da colônia. Ele afirmou estar envolvido na criação de uma nova tecnologia de motores, algo extraordinário com capacidade para fazer um salto espaço-temporal!

Os olhos bicolores de Rocket pareciam indecifráveis. Não era possível saber se ela estava impressionada com a revelação, ou se apenas esperava a navegadora terminar seu falatório. Tentando demonstrar entusiasmo, Rubi continuou:

- Botsume disse ser uma fonte alienígena de conhecimento, que pode mudar pra sempre o rumo da rebelião!

Rocket finalmente moveu os olhos, transparecendo uma discreta surpresa diante da revelação. Ela já suspeitava que havia algo mais do que apenas uma pesquisa científica em solo vermelho. Rubi tocou no seu braço, tentando expressar confiança:

- Diga aos insurgentes que não ataquem agora! Botsume acha que essa nova tecnologia vai mudar os rumos da revolução. É necessário esperar.

- Esperar? - reagiu Rocket, afastando-se com evidente impaciência. - Temos esperado por toda a nossa vida! O que uma mulher que usa vestidos esvoaçantes em salões cheios de pucha-sacos fedendo a costeletas e álcool, comendo e bebendo feito porcos adestrados, entende por esperar?

- Calma! É só adiar o levante até a próxima instrução de Botsume! Ele sabe o que está fazendo, ele acredita que vai ajudar os exilados!

- Eu não teria tanta certeza disso. - respondeu a metalúrgica, vestindo novamente o capacete de proteção e virando as costas, retornando ao seu trabalho.

A garota de olhos bicolores se afastou e continuou seu ofício como se nada houvesse acontecido. Em pouco tempo, desapareceu em meio aos barulhos metálicos e faíscas que saltavam das serras e soldadores elétricos.

Rubi ficou nervosa, não sabia se seu desempenho fora satisfatório ou se pôs tudo a perder. Transmitira a informação conforme Botsume a instruiu e o que Rocket faria com aquele conhecimento estava fora de seu controle.

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