𝟒. 𝐂𝐨𝐦𝐦𝐞 𝐮𝐧𝐞 𝐌𝐚𝐫𝐢𝐨𝐧𝐧𝐞𝐭𝐭𝐞.

123 5 1
                                    



Como uma marionete, cujos fios se tivessem escapado dos dedos de seu manipulador, após uma morte breve e rígida e num momentâneo embotamento dos sentidos, volto a entrar em ação para o tumulto donde há pouco fugira fatigado, desanimado e envelhecido.

Aquela foi a primeira noite em que me aconcheguei nos galhos espinhosos que logo me sufocaram, perfurando cada pedaço da carne macia e corroendo os pulmões vagarosamente, dolorosamente e sorrateiramente.

Me deixei deitar e descansar no mar de espinhos naquela noite, me deixei sentir o falso gosto da paz que jamais existiu. Me deixei relaxar todos os ossos e órgãos que, dias depois, poderiam se desfazer a qualquer momento em uma dor insuportável.

O fato é que eu não faço a mínima ideia de quantos dias estou trancado neste quarto. Apenas recebo visitas de Jeon diariamente, este que me trata como um objeto de extremo valor. Já perdi totalmente a noção sobre o tempo e espaço.

O desespero já havia tomado controle de meu corpo há muito tempo.

                            Um mês antes.

— Já era para estarem aqui, não acha? — Indago para Jungkook enquanto movimento minhas pernas, inquieto. — Sunmi nunca foi uma mulher de atrasos.

Escuto a respiração pesada de Jungkook preencher o cômodo, sobressaindo o som emanado pela televisão da grande sala. Ele estava diferente nos últimos meses, sempre preocupado demais, protetor demais.

— Bom, pode ter acontecido algum imprevisto no caminho. Não se preocupe, ela deve chegar logo. — Sinto a temperatura quente de sua mão acariciar brevemente meus dedos inquietos.

Não venho recebendo visitas muito frequentes de Taehyung e Jennie, então resolvi ligar para Sunmi na noite passada com a ajuda de Jungkook que conseguiu me ensinar cada posição e som dos números do telefone caso necessário dias antes.

Taehyung, Jennie e eu nos resolvemos também por telefone alguns dias depois do ocorrido, eu definitivamente não queria perder meus únicos amigos de uma forma tão egoísta; Taehyung conseguiu seguir sua vida e atualmente está em um relacionamento estável com um companheiro de trabalho cujo quer me apresentar pessoalmente quando conseguir e Jennie se mudou, mas sempre que pode me atualiza sobre sua nova rotina corrida com a faculdade de moda e trabalho.

— Para onde vai? — Escuto Jungkook perguntar imediatamente assim que levanto do sofá aconchegante. Não consigo me manter imerso na dúvida, isso me corrói.

Pode ter acontecido algo grave.

— Vou ligar para Sunmi, quero saber o que aconteceu para demorar tanto. — Me dirijo ao pequeno cômodo ao lado da porta para a cozinha e escuto os passos de Jungkook contra o chão logo atrás de mim.

— Eu não acho que deveria fazer isso. — Sua voz me acompanha até o móvel gélido de madeira maciça.

— E por que não? — Pergunto enquanto procuro o aparelho, sem sucesso. — Onde está o telefone? — Sua presença some. — Jungkook?

— Você não pode fazer isso. — Sinto sua respiração contra minha nuca e seguro no móvel em minha frente fortemente.

— Eu não estou entendendo, onde está o celular? — Me viro rapidamente e pouso minhas mãos em seu peitoral coberto por uma camisa fina e levemente molhada. — Jeon, o que está acontecendo?

Eu estou cuidando de você, Jimin.

Quanta ânsia sufocante de pureza.

Quanta mentira adocicada e disfarçada.

O sufocante grito mudo preenche o vazio pesado do quarto, mordo o lábio, está seco. Ardente no peito, foge o ar dos pulmões ao ouvir os passos pesados subindo as escadas devagar outra vez. Sinto um vazio que dói profundamente, sinto uma dor angustiante e sufocante. sinto vontade de pedir socorro, mas de nada iria valer, o esforço seria atoa. Ele disse que trancou tudo, agora estava seguro, sob a sua vigilância a cada duas horas ou até menos, depende do quanto ele precisa me ver.

— Fiz sopa novamente e espero que coma um pouco desta vez. — Sua voz invade o quarto, quebrando o silêncio pesado e me fazendo recuar entre os lençóis.

O peito doía, a respiração era cortada e frágil.
Os pulmões poderiam parar a qualquer momento e as mãos suavam de forma descomunal a temperatura gélida que as abraçavam.

— Você precisa se alimentar bem, o inverno começou e não quero que fique resfriado. — A cama se movimentou, ele estava sentado em minha frente, conseguia até mesmo saber quais movimentos estava fazendo com sua proximidade.

Senti a garganta fechar ao toque do metal gélido da colher em meus lábios e pude apertar o lençol outra vez. O estômago embrulhou e o vômito veio outra vez naquele dia, mas o contive massageando o abdômen levemente. Estava cansado, enjoado e aterrorizado. Estava sendo um inferno.

— Você precisa se alimentar... — A mão de Jeon pôde tocar minha testa suada de forma assustadoramente suave, acariciando meu rosto em seguida. — Está tão branco como a neve que cai lá fora, Meu bem.

— Eu não vou comer. — O respondi secamente, empurrando a colher para longe, ouvindo o metal se chocar contra o chão de madeira em seguida e Jeon suspirar pesadamente.

Me assusto ao ouvir o som do prato ir ao chão com força ao meu lado, fazendo um barulho ensurdecedor. Jungkook volta para a cama e segura meu rosto com firmeza, me fazendo olhar para o seu rosto não distante.

— Eu faço absolutamente tudo para manter você seguro e feliz e você me agradece assim? — Seu toque era pesado, meus dentes doíam. — Me responda, Park Jimin.

Cuspo em seu rosto, arranhando o colchão com força. Eu poderia batê-lo naquele momento e definitivamente o faria se minhas mãos não estivessem presas à cama.

— Bom, muito bom. — Sua mão desce para o meu pescoço, o apertando sem muita gentileza sinto a pele de meu antebraço rasgar, me fazendo gritar de forma abafada. Não demorou muito para que o líquido tingisse os lençóis e tampouco minha roupa. — Você vai fazer o que eu quiser pois sou eu que te mantenho vivo, Jimin. Eu sou o único que me importo com você realmente.

Eu poderia falar, poderia rebater, mas a dor de sentir a pele abrir vagarosamente invadiu o meu corpo outra vez. Minha clavícula derramou o líquido carmesim instantes depois e pude sentir a blusa fina que vestia grudar em meu corpo lentamente de acordo com o caminho traçado pelo sangue.

— Por deus, Park. Está sujando toda sua roupa... — Sinto a mão de Jungkook se desvencilhar de meu pescoço, me devolvendo o ar lentamente. — Porra, você sujou os lençóis! — Escuto sua voz abafada e sinto sei peso sair da cama.

Sinto a blusa rasgar.

Sinto meu corpo flutuar.

Sinto meu peito gritar.

Sinto meu corpo afundar.

De repente tudo fica calmo, os ouvidos estão abafados, o corpo está molhado e minha mente não funciona.

Sinto as últimas bolhas de ar saírem de minha boca e sinto a mente apagar ali mesmo, mergulhando em uma imensidão de falsa calmaria.

Tu és jovem portanto tolo. O tempo vai te curar disso. Agora vives da esperança, que é uma falsa amiga, uma sombra que se projeta diante de ti e que se perderá na escuridão da noite. Vou te contar rapaz, como é a vida. É o sofrimento e nada mais. Nós continuamos vivos porque por mais miserável que a vida seja, a morte, que nos espera como um animal selvagem espera o caçador incauto, oferece apenas a extinção. Tu achas que a nossa vida é deplorável e de fato é. Sofremos de frio, fome e medo. No entanto, todas as manhãs o sol se levanta. Ao entardecer, observamos a luz agonizante brincar sobre as águas e sabemos que os mortos nada veem.
— Allan Massie.

आप प्रकाशित भागों के अंत तक पहुँच चुके हैं।

⏰ पिछला अद्यतन: Jul 09, 2020 ⏰

नए भागों की सूचना पाने के लिए इस कहानी को अपनी लाइब्रेरी में जोड़ें!

𝐒𝐄𝐍𝐒𝐈𝐓𝐈𝐕𝐄 | 𝐣𝐤+𝐣𝐦जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें