Capítulo 24 - Na casa do meu Pai eu sou filho

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*Recadinho da autora*

Oi, amorecos! Estamos entrando na parte final da fic e eu quero agradecer a vocês todos que votaram e comentaram nos capítulos. Tem sido muito importante pra mim.

Espero que continuem gostando!!

*Fim do recadinho da autora*

Eu estava sentado do lado de Camille na cadeira de acompanhante e contava tudo o que aconteceu nos últimos dias.

— Depois que April me explicou aquelas coisas, eu comecei a ler a bíblia. Amor, algumas coisas são bem difíceis de entender, sabia? Eu fico muito confuso, mas vou anotando as dúvidas e sempre ligo para o pastor Phill para entender mais sobre aquilo. Sei que se você estivesse aqui me explicaria. — Suspirei. 

Sentia muita falta de Camille. Iríamos entrar na quarta semana de entubação e nada dela acordar. 

— Toda vez que ligo para ele, o pastor Phill me chama para ir aos cultos. Ah, aqui as coisas estão voltando ao normal aos poucos. As igrejas abriram com a capacidade reduzida. Então, ele sempre me chama, mas eu desconverso, só que dessa vez ele me encurralou. — Sorri. — Eu aceitei e vou com Matthew e April na sua congregação no domingo. 

Neste momento eu olhava para a mão de Camille sobre a minha e então aconteceu. Ela apertou a minha mão. Rapidamente eu olhei para ela, mas seu rosto ainda parecia desacordado. Os aparelhos não registraram nada, mas ainda assim eu estava em êxtase. 

— Meu amor! — Eu comemorava. — Você apertou a minha mão, meu amor? Eu não estou sonhando, estou? 

A mão se apertou de novo em torno da minha e as lágrimas começaram a rolar do meu rosto. 

— Senhor, eu te peço, por favor, faça com que Camille acorde. Por favor. 

Eu olhava para a máquina, mas ela não dava nenhum sinal de mudança. Então eu voltava a orar, com ainda mais fé. E olhava de novo para os aparelhos, mas nada. Nenhuma mudança. Senti o gosto das lágrimas. Esperei ansioso para que ela acordasse, mas não acordou. Então meu coração esfriou. 

[...]

Eu não queria mais ir para o culto. Me sentia extremamente desanimado. Parecia que Deus tinha me dado aquela fagulha de esperança e depois pisado no meu coração como fazemos para apagar o fogo acidental que causamos. Contei para Meredith e Alex, mas eles não acreditaram muito em mim. Não que tenham falado com essas mesmas palavras, mas deram a entender que talvez fosse o cansaço ou a vontade de que aquilo fosse real, mas eu sei. Eu sei que não era. 

Fiz um esforço para vestir a roupa social que separei para a ocasião e me arrastei a contragosto para a igreja. Encontrei com April e Matt que sorriram amistosos e se sentarem perto de mim, me desejando boas-vindas. Inesperadamente vários outros membros que estavam ali se dirigiram até mim para me cumprimentar e desejar que eu me sentisse em casa. Era difícil me sentir em casa já que eu não queria estar ali. 

O culto passou tranquilo e uma ou outra coisa que o pastor Phill dizia no sermão eu me lembrava de ter lido enquanto fazia minha empreitada fantasiosa como leitor da bíblia. No momento final eles começaram a entoar os louvores. Um coral bem afinado estava puxando uma música que parecia bem conhecida por todo mundo. Eu decidi fechar os olhos e ouvir a música. Eles começaram a cantar:

— Quem sou eu, para que o Rei grandioso me acolhesse? Eu estava perdido, mas Ele me abrigou. O seu amor por mim!

Naquele momento comecei a lembrar do que April disse, sobre não termos qualidade alguma que justifique o amor de Deus por nós. Lembrei de todas as vezes em que me senti merecedor de coisas boas, mas ao mesmo tempo a lembrança do meu comportamento pecaminoso me envolveu. Todo o ódio e o rancor que eu sentia. Eu era uma pessoa amarga e muitas vezes deixei com que esse amargor fosse despejado em outras pessoas. Eu, inclusive, desejei despejar minha ira nelas. E em Deus. 

— Sua graça é profunda. Enquanto eu era escravo do pecado Jesus morreu por mim. 

A vontade de chorar crescia ao mesmo tempo em que eu meditava sobre o fato que eles cantavam: Jesus morreu por mim quando eu ainda era um pecador. Sem que eu fizesse ou merecesse nada, Ele morreu, para que eu vivesse Nele. Aquelas palavras foram penetrando fundo no meu coração e eu senti as primeiras lágrimas se formando em meu rosto. Eu estava tentando fechar o meu coração para não sentir aquilo, mas era impossível de conter. Lembrei de todas as vezes de que Camille tinha me sanado as dúvidas que eu questionava e o quanto eu a subjuguei. No meu íntimo a fé dela a tornava menos inteligente para mim. Mesmo que a admirasse incrivelmente como profissional, lembro de desdenhar no meu íntimo quando ela falava sobre isso. Me senti terrivelmente mal por isso. 

— Quem o Filho liberta é verdadeiramente livre!

Eu estava ficando cada vez mais consciente das coisas ruins que se passavam dentro de mim e isso só me fazia ter vontade de me prostrar aos pés de Deus e pedir perdão por ter sido tão prepotente, por ter sido tão arrogante, por ter apostado tanto em mim mesmo e me esquecido de tudo e todos à minha volta, por ter me fechado nesse círculo egoísta de só olhar para mim mesmo… Por ter praguejado o nome de Deus naquele telhado e em toda oportunidade que eu tive. Me perguntava como eu faria para me achegar a Ele. Será que Ele me aceitaria depois de tudo o que fiz? Voltei a prestar atenção na música:

— Eu sou filho de Deus. Na casa de meu Pai há um lugar para mim.

Aquela estrofe derreteu o meu coração e eu me derramei em lágrimas. Senti Matthew me apoiar pelos ombros. Eu sentia meu corpo inteiro explodindo de emoção. O pastor recebia as pessoas que queriam se juntar à igreja e sempre que alguém se levantava todo o povo explodia em palmas e louvores. Eu queria ir até lá. Eu queria, mas faltava algo. Foi então que senti bem no fundo do meu ser. Não era uma voz audível, mas era como se alguém falasse dentro de mim. Também não era a minha própria voz, nem muito menos a voz da minha consciência. Era algo sem precedentes. 

Venha, meu filho. Venha!

Naquele momento senti uma grande alegria e tinha vontade de sair pulando e festejando. Deus me aceitava! Ele me chamou de filho! Ele pessoalmente me chamou! Não era mais ninguém me dizendo que eu era filho, era a Sua voz me chamando e confirmando minha identidade na família Dele. 

— Eu fui escolhido, não abandonado! Eu sou quem Tu dizes que sou. — O coral entrou no último refrão quando comecei a caminhar pela congregação. 

Eu nunca tinha caminhado em uma igreja assim. Na verdade, entrei na igreja poucas vezes, uma delas para roubar uma noiva e em outra ocasião para devolver esta noiva ao seu marido. Olhei para trás e vi April e Matthew sorrindo. Sorri de volta e continuei caminhando. Eu já chorava tanto a essa altura que estava prestes a soluçar. O pastor Phill me abraçou e me orientou a ficar de joelhos. Eu obedeci e ele orou comigo. Ele fez uma oração que eu podia sentir o abraço de Jesus naquele lugar. Orei junto com ele, entregando-me por inteiro para Deus. 

Ouvi toda igreja bater palmas quando os novos integrantes da congregação se levantaram da oração. Eu sorri. Me sentia acolhido por eles, me sentia realmente em família. Não fazia ideia do que aconteceria depois disso, mas sabia que não queria passar nem mais um dia sequer longe do meu Pai. 

A nova chefe do TraumaWhere stories live. Discover now