DEZENOVE | Você Se Lembra?

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Respirei fundo, abrindo os olhos com calma, aos poucos, me adaptando a luz que entrava através da cortina pesada, feita de um tecido cinza.

Olhei para a esquerda, onde um copo com um resto velho de vodka e duas garrafas repousavam na pequena cômoda. Salivei, sentindo toques amargos pela língua, seguidos de uma pontada na cabeça, os nervos latejando. Respirei mais uma vez, ainda me familiarizando com as sensações e o espaço, ainda que meu corpo me desse uma clara sensação de ter sido atropelado por um rolo compressor.

— Merda. — bati a mão sobre a testa, como alguém faz, admitindo para si mesmo um erro.

Só então me dei conta da respiração suave ao meu lado. Meus músculos paralisaram quase no mesmo segundo, com medo do mínimo movimento ser capaz de despertá-lo.

O cabelo de Shawn estava uma bagunça castanha, com a franja caída sob a testa. Um dos braços no alto, atrás da nuca, revelando pelinhos igualmente acobreados nas axilas. O peito nu, subindo e descendo num ritmo pacífico, enquanto o edredom que usávamos, parecia um tanto embolado sob suas longas pernas. Arregalei os olhos no instante seguinte, levantando o edredom para olhar.

— Não... — disse para mim mesmo num sussurro duvidoso, vendo que eu estava vestido com um short leve, de um pijama talvez, sem cueca por baixo. Abaixei o edredom, e voltei a olhar para o teto.

Minha mente estava tão organizada quanto o apartamento de um adolescente que acabou de se mudar para Nova York, fazendo faculdade, trabalhando e comendo apenas pizza e sanduíche no almoço e jantar. Revirei uma, duas... Várias vezes, mas não havia nenhuma imagem coerente em minha mente.

Tudo que eu via era água, o barulho de alguém mergulhando, enquanto uma música ecoava por todo lado, logo depois, a lua... Ela estava grande, brilhante, e mais nada. Outra pontada na cabeça.

Inferno! Praguejei mentalmente. Mas uma pequena parte de mim quis sorrir com o fato de que aquela era minha primeira ressaca da vida.

— Você acordou cedo. — Shawn resmungou, a voz ainda grossa e áspera. Logo depois virou de barriga para baixo, afundando a cara no travesseiro, com tanta alegria quanto um urso sendo acordado da hibernação.

— Já são sete e meia, — respondi, olhando para o despertador digital ao meu lado. — temos que ir para a escola. Na verdade, preciso ir para casa e depois para a escola.

Levantei de uma vez, encontrando minhas roupas do avesso, no canto oposto do quarto. Aquela era a casa dele, provavelmente. Uma imagem clara do rosto da minha mãe me encarando veio a minha mente, e isso me fez tremer.

— Ham... minha mãe sabe que restou aqui... nesse lugar onde estou? — perguntei, recolhendo minha calça, tentando não parecer tão desesperado como estava.

— Você não sabe onde está? — questionou de volta, levantando a cabeça, o tom de voz um pouco mais alto e inseguro.

— Se a minha mãe souber, já vai estar ótimo. Aliás, cadê meu celular?

— Deve estar no bolso da calça.

Seu tom de voz soou um pouco mais frio. Ele estava realmente mal humorado.

— Vou tomar um banho, você vem? — se levantou, jogando os braços para cima, para se espreguiçar, e então meus olhos correram por seu corpo extenso, desde as mãos para o alto, até os pés descalços, passando pela barriga definida em músculos e a cueca preta, que era a única coisa cobrindo sua nudez.

— N-não, — Gaguejei em resposta.

Rapidamente ele entrou no banheiro, dando de ombros para minha reação, visivelmente abalado com sua presença e o efeito que ela causava a minha mente e minha virilha.

Com Amor (E Ódio), Seu ExOnde histórias criam vida. Descubra agora