VINTE E CINCO| Dançando Até A Morte.

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É sábado.

Desperto aos poucos, em minha cama, sorrindo com as memórias bem vindas de dois garotos nus, em uma cachoeira de água cristalina.

Eles estão radiantes. Tudo parece leve como deveria estar. Os peitos colados um ao outro enquanto se beijam, mostrando como seus corações estão alinhados, batendo no mesmo ritmo, com a mesma força consumidora e latente.

Toco meus lábios, na região onde repousou sua boca três dias atrás. Ainda com um sorriso bobo que insiste em não sair do meu rosto, rolo para os lados, me embolando nas almofadas e no edredom, suspirando de um jeito profundo.

Gostaria de poder escrever sobre isso agora, mas deixei meu diário na escola. É um tanto frustrante, mas ele com certeza está mais seguro por lá, longe do alcance das pequenas mãos gordinhas da minha irmã mais nova que insiste em pegar alguns dos meus materias para seus desenhos.

Me lembro disso no instante que a porta se abre, e ela caminha até mim com os cabelos para cima, bagunçados, e a cara inchada de sono. Embora seu cabelo seja como o da mamãe, sua noção de espaço e boa parte de sua personalidade são muitos dos traços do lado paterno da família.

— Bom dia mano. — Megan diz baixinho, vindo se deitar ao meu lado, como um pequeno gato preguiçoso. — mamãe disse que vamos ver o reverendo Jackson amanhã.

— Ah é? — puxo-a para mais perto, afagando seus cabelos macios. Para mim, é como se ela ainda tivesse três anos. — você não parece muito animada pra ir.

— Ela disse que estou na idade de ser uma pequena noviça. Uma coroinha ou sei lá.

— Você não quer fazer isso? — pergunto sem esconder a graça que vejo em seu tom voz contrariado. Mesmo nova, ela já parece tão adolescente quanto eu. — na sua idade, eu ia para a igreja com o papai e a mamãe todos os domingos de manhã. Eu até tocava piano algumas vezes, e me lembro de gostar dos hinos.

— E por que você não vai mais? — questiona, prontamente a seguir.

Deixo escapar uma risadinha, enquanto penso em como posso dizer a minha irmã de uma forma que ela entenda, sem precisar me achar confuso.

— Bom, eu acho que eu ainda sei tocar piano… devo estar um pouco enferrujado, talvez. Às vezes eu sinto falta, mas quando eu tinha a sua idade, bem, eu já sabia que não queria mais tocar. Eu não me sentia tão bem quando estava lá.

— Mas aquela é a casa de Jesus, Ansel. Por que você não se sentia bem lá?

Dou um beijo em sua testa, e respiro fundo.

— Isso pode ficar para outra hora. — encerro o assunto. — vamos falar de você.

— Mamãe falou que eu vou ter que aprender algum instrumento. — ela acrescenta, como se lembrasse disso após meu comentário. — o papai disse que eu não posso tocar guitarra.

— E por que não? — questiono. — a Barbie não toca uma dessas em Barbie: vida de rockstar? Algo assim, acho.

— Sim, ela toca — Megan revira os olhos, sem muita paciência. — Mas o  papai disse que não posso tocar guitarra na igreja, e que rock não é algo cristão.

— É, isso é um problema. — Afirmo. Nos apertamos mais, agarrados um ao outro num abraço. — me conta, o que você realmente gosta de fazer? você não quer aprender nenhum instrumento, certo? Também não quis fazer dança.

Ela fica calada por um segundo, mas logo me dá uma resposta.

— Eu gosto de desenhar. — e então sorri.

Com Amor (E Ódio), Seu ExOnde histórias criam vida. Descubra agora