I'm Just Kidding

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Madison

E de repente foi como se eu tivesse tudo e ao mesmo tempo nada, pois eu sentia tudo o que eu havia conquistado escorrer pelos meus dedos. Minha família, minha boa relação com meus pais, a vaga na universidade, meu relacionamento com Mads... tudo parecia tão obsoleto agora que eu sabia que Daniel poderia destruir a minha vida em um piscar de olhos.

Com os ombros encolhidos e braços abraçando meu próprio corpo, eu andava de um lado para o outro na calçada. Meu cérebro insistia em reviver em looping a cena de minutos atrás no banheiro, e estando tão confusa eu não conseguia refutar a sucessão de imagens grotescas que pareciam estar gravadas a fogo no interior de minhas pálpebras, me permitindo ver o rosto demoníaco de Dan mesmo estando de olhos fechados.

Pensei em chamar um Uber, contudo, minhas mãos trêmulas e visão embaçada dificultavam o desbloqueio do meu celular, pois na quinta tentativa o aparelho bloqueou temporareamente por "senha incorreta". Bufei e enfiei o telefone de volta no bolso traseiro do meu shorts surrado, amaldiçoando deus e o mundo.

Eu me via em uma espécie de crise, e mesmo o ar abundante daquela noite úmida parecia insuficiente para preencher meus pulmões ansiosos com oxigênio. Meu peito subia e descia num ritmo descompassado e diligente, meus órgãos vitais lutavam para me manter em pé e todo o meu corpo se movia no piloto automático. Ao mesmo tempo em que eu revivia os fatos, minha mente também era uma caixa vazia, uma tela em branco.

Como eu não conseguia chamar um motorista pelo aplicativo, iniciei a árdua tarefa de conseguir um taxi. Ainda inquieta e relutante em permanecer parada, continuei a dar passos apressados de um lado para o outro enquanto agitava meu braço no meio fio. Carros amarelos passavam por mim e sequer desaceleravam ao me ver chamando. Uma caminhonete vermelha lotada de universitários na carroceria parou diante de mim, e quando os homens em cima dela começaram a assoviar e gritar para mim eu revirei os olhos e dei as costas para eles.

Me sentia como uma cobaia em algum experimento social onde o objetivo do estudo era ver o quanto de desventuras uma garota de dezoito anos poderia suportar; e devo dizer que eu não suportaria muito mais se aquele tipo de desgraça continuasse a acontecer.

Tudo o que me restava a fazer era fingir que aquilo não passava de um surto coletivo.

Eu estava quase desistindo e voltando para casa a pé, quando subitamente vejo Mikkelsen irromper pelas portas do karaoke. Assim que seus pés tocaram a calçada, seus cabelos esvoaçaram, fustigados pelo vento calmo que soprava do lado de fora. Aquela visão etérea foi responsável por apaziguar meus batimentos cardíacos e me inundar da mais densa eletricidade.

O dinamarquês parecia ter sido mandado por anjos para me salvar.

Ele veio em minha direção aparentando preocupação, e quando já havia percorrido mais da metade do caminho até mim, dei dois longos passos e me joguei em seus braços, envolvendo seu corpo com força e urgência. Era como se eu estivesse morrendo, e ao abraçá-lo meu cronometro reiniciasse eu pudesse viver novamente. Minha cabeça pousou em seu peito, chocando-se em seu esterno, no entanto, assim que nossos corpos entraram em contato, demorou segundos para que ele me afastasse e adotasse uma postura indiferente e distante.

- A senhorita está bem? - ele me chamou.

Me espantei com a formalidade de suas palavras até que notei que um grupo de alunos os havia seguido até ali e se encontravam parados, dispostos em um semi-círculo para nos observar. Instantaneamente levei as mãos ao rosto e o enterrei em minhas palmas, ansiando por gritar e liberar todo o estress acumulado em meus ossos.

- Estou zonza. - menti parcialmente, tentando justificar o abraço de segundos atrás.

Mads segurou meu rosto entre as mãos, virou-o de um lado para o outro enquanto me analisava. Olhou fundo em meus olhos e depois pousou com delicadeza uma mão em minha testa enquanto a outra descansava em minha nuca.

Brooklyn BabyWhere stories live. Discover now