Ainda

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Sakura

Passei a noite sonhando. Sonhando que segurava meu neném – no sonho era um menino. Brincava com ele, abraçava e acarinhava. Acolhia em meu peito. E então ele ia embora. E havia tanto sangue em seu pequeno corpinho... E o que eu podia fazer? Nada. Ele estava morto. Os gritos, o choro, meu desespero ao saber que ele tinha ido embora... Tudo era inútil. Ele já estava sob a terra. E eu viva.

Itachi

Ele entrou pela porta da frente. Senti seu cheiro quando chegou. Ri da dor que senti em seus passos. Sakura estava morta. Tive certeza ali. Ele cheirava a luto e a terra. Já tinham enterrado? Eu queria minha aliança de volta.

- Olá, irmãozinho querido – provoquei-o quando ele entrou em meu quarto. – Senti sua falta. E da minha esposa. Mas parece que dela sentirei falta eternamente, não é?

Sasuke estava de cabeça baixa. As mãos relaxadas, o resto do corpo tenso. Então ele levantou a cabeça e me olhou com os olhos pequenos e cheios de ódio. E carregados de um vermelho vivo. O sharingan. Mais vivo do que nunca. Mais forte do que nunca. Talvez mais forte do que o meu próprio.

- Como fez aquilo? – perguntou ele, com a voz grave e gutural.

Abri um meio sorriso, interessado e pronto.

- É um truque de família... Você não sabia? É isso que nos une. Isso e o Sharingan, claro. Mas o lado ruim que existe em nós nos mantém unidos. – Abri mais o sorriso. – Desculpe-me – ironizei. – Matei o amor da sua vida?

Sasuke, então, que sorriu. Mostrou seus dentes de forma quase ameaçadora. E riu. Alto. Sem humor.

- Não. Matou seu filho – cuspiu ele.

Sasuke

- Impossível. Sakura é estéril – rebateu ele. Mas eu sentia a ponta de dúvida em sua voz. E era isso que eu queria.

- Ela mentiu, seu idiota! Você é tão imbecil que nem percebeu! – gritei, fazendo-o dar um passo para trás, incrédulo.

- Não... Não mentiu... Ela não faria isso... – gaguejou ele, fraquejando. Que idiota meus pais tinham criado! Eu tinha vergonha de ser irmão daquele ditador inacreditavelmente egocêntrico e prepotente. Como se ninguém fosse capaz de driblá-lo! Há-há!

- Blá-blá-blá – debochei, pegando minha espada. – Vamos acabar logo com isso.

Sakura

Passei o dia chorando no quarto de Sasuke. Não sei bem o porquê, mas tinha decidido ficar lá. Talvez por saber que tinha sido lá que tudo tinha começado. Minha vida tinha voltado quase ao normal por causa do que tinha acontecido ali. Viver um mês com Naruto, Kakashi e Sasuke tinha me trazido lembranças e emoções que eu achara ter esquecido. Eu tinha amado Sasuke pela primeira vez ali. E, apesar dos motivos pelos quais aquilo tinha acontecido, eu tinha gravado aquele momento para sempre. E agora aquele lugar era o significado de um acontecimento desastroso. Uma lembrança dolorosa.

Mas acho que preferia estar ali porque tinha sido em meu quarto que eu tinha perdido meu filho. E tinha sido nesse que eu o tinha ganhado.

A porta foi aberta. Sequei, discreta e rapidamente as lágrimas em meu rosto.

- Desculpe, eu não sabia que você estava aqui - sussurrou ele, ao entrar.

Sasuke me deu as costas, mas falei antes que ele saísse:

- Não precisa sair. Esse é seu quarto, afinal.

Ele parou na porta. Percebi então que estava sem camisa e com as costas enfaixadas.

TempoWhere stories live. Discover now