Capítulo Dezoito

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___ CAPÍTULO DEZOITO___

Sexta Treze

— O que vocês estão aprontando?

— Já lhe disse! Caminho com ela para esfriar a cabeça, sabe! Exames chegando e tudo mais...

— Junto com o Saci? – Natalie arqueou uma sobrancelha.

— Que Saci? – Sophia riu sem jeito.

Aparentemente, Natalie resolvera segui-la e acabou descobrindo onde ela e Laiana frequentavam quando saíam às pressas da biblioteca.

— Conhecendo Laiana, ela com toda certeza está para aprontar alguma! E se o Saci estiver envolvido, piora em cem por cento a situação! Eu vou contar aos professores!

— Contar o que? – Sophia replicou – Quem seria tolo o bastante ir encontrar aquele fedelho sabendo que ele pode pregar uma peça a qualquer hora?

— Vocês duas! Ou já esqueceram que quase morreram para o Mapinguari?

Sophia não respondeu.

— Enfim, você está a fim de estudar hoje? Exames estão logo ali!

— Hoje não.

Natalie encarou Sophia com desaprovação.

— Tudo bem. Se precisar de mim, sabe onde me encontrar.

O dia havia chegado. Assim que Natalie se retirou do salão principal, Sophia procurou por Laiana e Reyes e juntos, revisaram seus planos. À noite, em vista da data especial, CasteloBruxo teria uma apresentação à noite no salão principal. Porém Mirella não iria ficar ali. Isto porque Sophia, intencionalmente, deixou escapar enquanto conversava com Olívia Melo, em sua casa comunal, de que naquela data um ser conhecido como Alamoa aparecia na superfície do lago de CasteloBruxo.

— Dizem que ela realiza qualquer pedido para a primeira pessoa que a encontre – Sophia mentira deliberadamente enquanto via de relance Mirella prestando atenção em sua conversa.

— Certo, caso o plano A dê errado e Mirella não se interessar pela Alamoa, é aí que você entra Reyes – Laiana disse – Terá que atrair ela de algum modo para fora.

— É bom evitar Natalie – Sophia pontuou – Ela está muito desconfiada. Viu a gente com o Saci.

— Certo! Vou me lembrar disso! – Laiana sorriu esfregando as mãos.

A noite caiu mais rápido que Sophia esperava. Passara o dia ajudando na decoração do salão principal, tão somente para que Natalie visse que estava ocupada com alguma coisa, e não à toa maquiando uma peça maquiavélica. Aparentemente, dera certo, pois ela parara de segui-la.

Quando fixava mais uma cortina de linho fino com o professor Bolinhas, Laiana aparecera e cochichara que estava na hora. Após colocar a cortina, avisou ao professor que iria se preparar para a comemoração e desceu até o pátio externo para encontrar com a amiga.

— Já falei com Reyes, ele está nos calcanhares de Mirella para ver se ela vai morder a isca. Parece que ela não citou com ninguém que uma suposta Alamoa apareceria hoje à noite.

— Isso é ruim, não?

— Sim, mas o Reyes está lá para atrair ela, caso dê errado.

Quando já não mais havia a luz do sol, ambas desceram pela planície até o lago. Caminharam até perto de uma grande rocha e ficaram ali, aguardando. Não demorou muito para que elas avistassem uma figura adolescente caminhando por entre a vegetação da planície. Tratava-se de Mirella.

Laiana e Sophia se entreolharam com um sorriso. Mas ele sumiu quando viram que logo atrás vinha mais alguém. Era Natalie.

— Espera!

— Mirella! – Natalie repetiu – Estou lhe dizendo, não aparecerá Alamoa alguma aqui. E outra, mesmo se aparecesse, Alamoa não pode realizar desejos, tampouco trazer seus pais...

— Natalie! Volta logo para CasteloBruxo! Eu disse que queria ficar sozinha! Não me importo com o que você acha!

— Eu sei, Mirella – Natalie retrucou – Alguém está mexendo com você.

Mirella ficou em silêncio, mas continuou andando, sem se importar com os avisos de Natalie, que deu ombros e parecia dar meia volta, desistindo de ajudar.

Subitamente, o ambiente tomou um ar soturno. A vegetação que bailava suavemente com a leve brisa noturna agora agitava repentinamente. A luz da lua que inclusive refletia na superfície do lago foi sufocada por uma nuvem escura.

Logo, o local antes iluminado, foi tomado por uma medonha escuridão. As luzezinhas das janelas de CasteloBruxo ao longe tornaram-se a única fonte de luz.

lummus! – Sophia ouviu a voz de Mirella. Natalie repetiu o feitiço.

— Acho que já deu! – Natalie começou – Definitivamente, não devíamos estar aqui Mirella.

— Talvez seja a Alamoa que apareceu!

Natalie tentou responder, mas não conseguiu.

Ouviu-se um galope alto, violento. Natalie e Mirella se aproximaram, ficando de costas uma para outra.

Uma relinchada estridente que arrepiou Sophia inteira veio em seguida. Os galopes continuaram cada vez mais altos, até que Laiana e Sophia viram, quando um ser passou por cima de suas cabeças e parou a centímetros de Mirella. Era uma mula. Onde devia estar sua cabeça, havia um buraco que lançava chispas de fogo.

Sophia podia ter imaginado várias e várias vezes qual seria a reação de Mirella com um susto daqueles. Nenhuma delas chegaria perto da que ela teve: a de cair ao chão desmaiada. Natalie a segurou e apontou sua varinha para a Mula-sem-cabeça.

Foi então que houve uma explosão de risadas. O saci apareceu rodopiando e pulando ao redor de Natalie. Ria e assobiava até que caiu no chão e começou a socá-lo e a rolar. Quando finalmente passou sua histeria, deu umas palmadas no ser com cabeça de fogo que galopou em direção à mata e desapareceu.

— O show acabou, as duas podem sair daí! – Saci denunciou e Laiana e Sophia que não tiveram escolha, senão sair de onde estavam escondidas.

— EU SABIA! EU SABIA QUE ESTAVAM APRONTANDO ALGUMA! – Natalie estava ao chão junto à Mirella que estava desacordada – Só não sabia que fariam algo tão irresponsável assim! Ah vocês vão ter que se explicar muito para os professores!

— Tenho meu discurso pronto – Laiana sorriu em deboche – Mirella desmaiou de susto. Ela está bem?

— Está – Natalie resmungou – Vocês quase a mataram do coração.

— Sabe o que é melhor que pregar uma peça? – Saci disse subitamente.

Ninguém respondeu.

— Pregar duas peças! – Ele disse depois de um vago silêncio.

As meninas se entreolharam, mas logo entenderam. O Curupira apareceu de repente montado em seu porco do mato com a vara de pesca muito bem segura nas mãos.

— Achei três meliantes hoje! – Saci pontuou – Você assume daqui!

Três balanços, três meninas capturadas no anzol do Curupira.

— Elas armaram para essa menina, tadinha – Saci disse olhando para Mirella ainda caída ao chão.

O Curupira pegou Mirella e a colocou no porco. Sem dizer nada, tomou seu caminho de volta ao Castelo, com Sophia, Laiana e Natalie presas no anzol.

Sophia e o CasteloBruxo - Livro 01Where stories live. Discover now