Capítulo Dez

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___ CAPÍTULO DEZ___

Isabella Flores

O vento acariciava gentilmente o rosto de Sophia enquanto ela descia cantarolando em meio à imensa planície ao lado do grande lago que desaguava no rio amazonas que corria para a Cidade de Manoa em uma imensa cachoeira, logo aos pés da imensa construção de CasteloBruxo.

O professor Sebastião costumava a ficar em sua cabana, logo à orla da floresta, onde havia seu imenso zoológico onde era realizadas as aulas de Magizoologia ou o Trato das Criaturas Mágicas. Sua cabana era de aparência simples e rústica. Muito parecida com uma oca ameríndia, a cabana era um amontoado de pedras com uma única portinhola e duas janelinhas.

Quando ia bater na porta, alguém a abriu de repente. Para surpresa de Sophia, era Natalie Borage. Ela estava com os olhos muitos vermelhos, como se estivesse chorando.

— Volte quando quiser, Natalie! Sempre é bem vinda aqui! – Sophia ouviu a voz do professor Sebastião.

Natalie se virou e Sohia pôde perceber que esboçara um sorriso.

— Muito obrigada, professor! E obrigada pelo chá também! – Ela respondeu e pôs-se a descer os pequenos três degraus.

— Oi Sophia – Natalie a cumprimentou quando passou por ela.

— Oi – Sophia respondeu baixinho tentando entender o que uma Borage estaria fazendo em uma cabaninha daquelas em seu tempo livre.

Depois que a Borage retirou-se, Sophia se adiantou à porta.

— Professor Sebastião?

— Entre, entre! – Ele apareceu à porta e Sophia estava decidida a não tirar o olhar dos olhos dele.

— Quer chá? – Ele perguntou quando Sophia entrou.

— Não, obrigada professor – Sophia respondeu se acomodando em um banquinho de madeira.

Além da cama, do fogão e vários outros utensílios amontoados em um canto do único aposento da casa, havia ali um menino que Sophia já vira pelos corredores de CasteloBruxo, porém nunca chegara a conversar com o mesmo. Ele era da casa de sua irmã, a casa Kuiara. Ostentava um cabelo muito preto e muito liso caído sobre a testa me uma franja. Suas feições lembravam um ameríndio, muito raros na escola.

— Já conhece o Guará? – Sebastião perguntou – Ele é primeirista em CasteloBruxo, veio da tribo dos Maués.

— Prazer em conhecê-lo, Guará! – Sophia estendeu a mão – Eu sou Sophia.

Quando finalmente o professor sentou-se de frente para Sophia e olhou diretamente para ela, pareceu que o sangue fugiu de seu rosto, ficando pálido, como se visse um fantasma.

— Está... Está tudo bem professor? – Sophia indagou.

— Como disse que seu nome era mesmo?

— Sophia... Sophia Strobbel.

— FORA! – O professor berrou tão alto que Sophia pulou da cadeira.

— VAMOS! EU DISSE FORA!

— Mas... Professor...

Sophia não estava entendendo nada.

— Aqui, a professora Anahi lhe pediu para lhe entregar essa carta!

O professor tomou a carta em suas mãos e rasgou em dois pedaços. Apavorada, Sophia abriu a porta da cabana e saiu tropicando pelos degraus até desequilibrar-se por completo e cair com a cara no chão. Enquanto se levantava, ouviu o professor bater a porta mais forte de quando Judas saíra irritado da sala da professora Anahi.

— Que deselegância! – Sophia resmungou irritada tirando a poeira das vestes.

Ela já estava quase chegando ao fim da encosta que dava acesso ao grande campo próximo à CasteloBruxo quando alguém gritou seu nome. Era o menino índio de antes.

— O que você quer? – Sophia perguntou.

— Eu vim pedir desculpas pelo o que aconteceu em nome do professor Sebastião.

— Desculpas não aceita. Se ele quiser se desculpar depois, que ele mesmo faça isso! – Sophia retrucou e deu às costas retornando ao seu caminho.

— Espere! – O menino começou a acompanhá-la.

— Hoje é o aniversário de morte da sobrinha dele, a Isabella Flores.

Sophia parou.

— Quem?

— Isabella Flores. Ela estudava aqui em CasteloBruxo há cinco anos. Eu... Eu não sei de muito, mas, eu acho que como ela era amiga da sua irmã no primeiro ano...

"Será que era a Isabella, senhor Curupira?".

"Isabella morreu menina!".

Sophia lembrou-se da conversa de sua irmã com o Curupira na noite passada. Devia se tratar da mesma pessoa.

— E o que aconteceu?

— Bom quem realmente sabe é meu irmão, o Guaraponá, que era amigo delas. Os três eram primeiristas em CasteloBruxo há cinco anos. Segundo ele, sua irmã tinha um comportamento tendencioso a ser contra as regras da escola e fazer coisas às escondidas. Isabella Flores acabou se aventurando junto com ela em várias dessas aventuras, enquanto meu irmão sempre dizia as regras eram feitas para serem seguidas. Neste dia, há cinco anos, sua irmã apareceu desesperada à Cabana do professor Sebastião e chamou-a para ir a determinado lugar. Ela não dera muitas explicações. No dia seguinte, sua irmã apareceu à escola sozinha. Quando perguntaram onde estava Isabella, ela apenas disse: "Ela disse para eu não me preocupar, que logo estaria de volta" e caiu desmaiada. Quando ela acordou, nunca mais foi a mesma. Isso é o que Guaraponá me contou.

Sophia estava boquiaberta.

— Eu sei que deve ser muito para você. Mas, como forma de desculpas, o que queria do professor Sebastião. Talvez eu possa ajudá-la – Guará continuou.

— E-eu... E-eu preciso de chifre de bicórnio em pó... E-e tempo, para pensar.

— Pode deixar que eu falo com o professor Sebastião por você. Assim que eu conseguir, eu aviso.

— Tudo bem, obrigada.

Sophia então se retirou, retornando para CasteloBruxo, completamente perdida com seus próprios pensamentos.

Sophia e o CasteloBruxo - Livro 01Where stories live. Discover now