Capítulo Oito

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___ CAPÍTULO OITO___

Baleroni vs. Scheidegger

— LAIANA!

— Fala mais alto, já que quer que o Curupira te pegue!

— Quem quer ser pega por aquela vara de pesca é você, saindo desse jeito no meio da noite!

— Ah! Tem razão! Mas eu tenho certeza que não serei pega!

— Espero que tenha razão! – Sophia resmungou – Essas escadas não acabam nunca!

— Onze e Quarenta! – Laiana respondeu – Vamos antes que percamos o horário.

— Tanta pressa para um estúpido duelo!

— Oras, não diga asneira! Eu vou amassar a cara daquela ridícula. Espera só!

— Eu não confiaria na Mirella se fosse você. Acha mesmo que era vai estar lá?

— Meia noite, na sala do observatório, no topo de Castelobruxo. Foi o combinado. Se ela não aparecer é por que é uma covarde!

Sophia tinha encontrado Laiana naquela noite no salão principal, logo após Olívia ter mencionado que ela tinha se envolvido em um duelo com Mirella. Ela tentou de todos os modos impedir que Laiana fosse, porém, esta última não deu ouvidos. Sem muita noção do que fazia, acabou dizendo que iria junto. A verdade era que lá no fundo, por mais infantil que parecesse, Sophia ainda gostaria de ver Laiana socar a cara de Mirella.

Vários minutos se passaram subindo às escadas. Quando chegaram ao observatório, encontraram a porta entreaberta.

— Olha só, talvez ela já esteja aqui! – Laiana comentou e abriu a porta.

A sala estava muito escura. Não parecia que havia alguém ali. Os telescópios cintilavam com a fraca luz do luar. Laiana segurou a varinha cuidadosamente e continuou andando rente à parede. Sophia a seguia.

— Não acho que tenha alguém aqui, Laiana.

— Você está escutando isso?

— Escutando o que?

Laiana não respondeu e Sophia afinou os ouvidos. Parecia alguém conversando. O som parecia vir detrás de um enorme telescópio que ficava sob o pequeno estrado no meio da sala. A medida em que elas ficavam mais próximas, mais audíveis se tornavam as palavras.

— Isabella, é você?! – A silhueta de uma jovem surgiu de repente detrás do telescópio. A falta de luz dificultava a identificação, todavia, Sophia a reconhecera.

— Quem é você? – Laiana sussurrou.

— Ah! Desculpem-me, eu achei que ela realmente tinha vindo – A garota no escuro respondeu e voltou a sentar detrás do telescópio.

Antes que Laiana e Sophia pudessem se aproximar mais, uma voz sarcástica ecoou por toda a sala.

— SABIA QUE TERIA TRAVESSOS FORA DA CAMA HOJE!

Laiana e Sophia viraram instintivamente e, apesar da escuridão, ambas sabiam identificar uma Caipora. Era o Senhor Curupira.

— Corre! – Sophia ouviu Laiana dizer antes de iniciar uma desembestada correria, sem sequer importar se o Curupira estava atrás ou não. Ela, de maneira nenhuma, amanheceria o dia pendurada em um anzol no teto do salão principal.

Ambas saíram pela porta oposta ao que o senhor Curupira tinha aparecido e agora tinham que correr na escuridão enquanto desciam escadas. Impossível não tropeçar, cair e ser apanhada pelo anzol.

— Gárgulas vorazes, agora vamos ser pegas! – Sophia disse mais para si mesma do que para Laiana.

Accio, Vassoura!– Laiana exclamou.

Ambas começaram a descer as escadas enquanto o feitiço de convocação de Laiana era executado. A cada segundo, os passos do Curupira ficavam mais altos.

— Não vão escapar! – Sophia ouviu o Caipora chefe dizer e olhou de relance para trás. A escadaria listrada pelo luar que entrava pelas grades das janelas altas iluminava o ser peludo e com cabelo espetado segurando sua vara de pesca e pronto para lançar o anzol.

Quando Sophia achou que iria ser pega, sentiu Laiana puxar sua mão e gritar "segure em minhas costas". Não houve tempo para pensar. Sophia fez como Laiana lhe dissera, abraçando-a fortemente. Quando ambas tombaram para frente de encontro ao chão, Laiana montou na vassoura e ambas realizaram um voo rasante no pequeno espaço entre as duas paredes e as escadas. Quando chegaram ao andar de baixo, caíram no chão e saíram rolando alguns metros.

— Você está bem? – Sophia perguntou levantando-se.

— Estou ótima! – Laiana respondeu. Ela tinha um sorriso irradiante – Quase fomos pegas...

Um grunhido as fizeram olhar para a escadaria do andar de baixo. Uma sombra gigantesca de um porco do mato as fizeram correr novamente.

— Por aqui! – Laiana puxou Sophia para frente de uma porta.

— Não podemos entrar aqui! Sabe-se lá que sala é essa!

— O porco ou a sala! – Laiana retrucou – Alohomora!

Houve-se um estalo e a porta se abriu. Desesperadamente, ambas passaram por ela, fecharam-na e apuraram os ouvidos, à escuta.

— Para que lado eles foram? – Era o Curupira perguntando.

Houve-se um grunhido em resposta.

— Tudo bem não os ter visto! Mas ao menos capturamos a amiguinha deles. Vou a pendurar no anzol e ela vai dizer quem é que são os outros baderneiros.

— Será que era a Isabella, senhor Curupira? – Uma voz feminina perguntou.

— Isabella morreu menina! – Curupira bufou – Vem, vamos logo. Mesmo sendo você, regras são regras!

Os passos distanciaram e ambas soltaram a respiração.

— Será que era a menina lá do topo do observatório? – Laiana sussurrou para Sophia.

Porém Sophia não ouvira Laiana.Estava segurando em suas mãos um frasco vermelho, muito parecido com o que Judas... ela olhou em volta. Havia um letreiro escrito de maneira muita clara as palavras: "Sala de Judas, não toque em nada", acima do armário onde pegara o frasco.

— Sophia, o que está fazendo? – Laiana perguntou.

— Estamos na sala do professor Judas! – Sophia respondeu – E olha o que eu encontrei.

— Um frasco? E daí?

— Preciso ver o que tem dentro!

Sophia abriu-o. Havia um líquido prateado quase brilhante.

— Tem alguém vindo, Sophia! Temos que sair daqui!

— Isso é... – Sophia estava boquiaberta!

— Sophia! – Laiana sussurrou quase gritando – Temos que ir agora!

Rapidamente, ela guardou deixou o frasco dentro do armário e seguiu Laiana que se esgueirou pela janela. Assim que saíram, ouviram Judas realizar o feitiço "lumus", visivelmente irritado. Correram e se esconderam em um armário de vassouras que ali havia.

— Amanhã cedinho, vamos ao salão principal para o desjejum como se nada tivesse acontecido – Laiana riu baixinho – Não podemos nos arriscar mais por aí!

Sophia assentiu, porém, sua cabeça fervilhava. O frasco vermelho de Judas continha sangue de unicórnio... O que Laiana havia lhe dito? O traficante argentino conhecido como El Chapo traficava animais fantásticos, em sua maioria.

Parecia que Sophia descobrira o porquê desse traficante ser tão procurado e perigoso, bem como onde frasco que vira na travessa João Teles de Menezes havia ido parar. Ela não gostava nem um pouco do professor Judas, porém não imaginava que ele faria uma coisa tão cruel. Será que os professores tinham ciência daquilo?

Laiana resmungou de que iria se vingar de Mirella pelo o que havia armado para ela, antes de ambas pegarem no sono.

Sophia e o CasteloBruxo - Livro 01Where stories live. Discover now