Tentando

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No carro enquanto voltávamos para casa o silêncio reinava. Eu estava até confortável com isso, eu não precisaria ficar dizendo sobre o quanto eu estava chateada e coisa e tal. Mas Tom decidiu quebrar o silêncio.

-Podemos passar um tempo no Brasil, se quiser, posso pedir umas semaninhas de folga, eles entenderão!

-Não precisa- falei sem olha-lo - Eu volto a trabalhar amanhã mesmo! 

-Não precisa fazer isso - ele disse com a voz preocupada.

-Não é questão de precisar, é questão de querer - respondi ainda sem olha-lo, eu não queria que meus olhos delatassem a dor que eu sentia.

-Tá tudo bem ser fraca as vezes, amor - ele disse

-Por que? - perguntei o olhando "Será que eu havia demonstrado?"

-É que... você não chorou e é normal se sentir triste, não precisa parecer forte o tempo todo - ele disse com cautela

-Eu to legal - menti, a dor no meu peito era enorme.

-Tudo bem! Mas eu to aqui, sou seu parceiro para qualquer coisa! 

-Eu sei, obrigada! - falei sorrindo.

Assim que chegamos em casa, desci do carro e entrei direto em silêncio. Peguei umas roupas e fui direto tomar banho, eu só precisava ficar sozinha. Enquanto a água quente caía em meu corpo eu repassava cena por cena do que havia acontecido, onde eu havia errado? Não era onde eu havia errado, eu estava errada, a culpa era minha e totalmente minha, por ser fator Rh negativo, meu próprio corpo expulsou meu filho. Eu não sentia tristeza, quer dizer, sentia também, mas eu tinha raiva, muita raiva de mim mesma, a culpa era minha! 

 Peguei o sabonete e o joguei na parede, eu queria quebrar tudo, eu queri me quebrar,na verdade, eu já estava quebrada, só queria que tudo ficasse igual a mim. A agonia parecia querer me consumir, eu podia sentir o nó na garganta, eu queria gritar, gritar alto, mas eu não podia, eu não iria. Eu até tentei chorar, mas não consegui, nem sequer uma lágrima, nem isso eu era capaz. Saí do banho, coloquei uma roupa, me vi no espelho e garanti que a minha cara não mostrava o que eu sentia. Assim que abri a porta, vi Tom sentado na cama, me olhando preocupado.

-Eu posso te abraçar? - ele perguntou me olhando.

-Não preciso de abraços, preciso comer e ver o que fazer para melhorar o sistema de instalação dos softwares do set.

Ele ficou um tempo me olhando sem dizer nada, eu até achei que ele não ia responder, mas estava enganada.

-Eu quis dizer que eu preciso de um abraço - ele me falou com o olhar triste.

Eu não podia rejeitar, podia? Então estendi o braço e ele veio, me abraçou com todo o carinho do mundo, não falou nada, até porque eu não precisava de palavras, mas eu podia sentir todo o amor dele, naquele gesto de acolhimento e aceitação, senti aquele nó na garganta apertar e foi quando eu desfiz o abraço.

-Espero que esteja melhor- eu falei para esconder qualquer sentimento meu.

-Mais do que imagina - ele disse forçando um sorriso.

Comemos e tarde da noite nós fomos dormir, bem, Tom foi dormir, eu não! Após me virar várias vezes na cama decidi ir até a sacada do meu quarto, fiquei ali olhando o céu, que tinha pouquissimas estrelas, inclusive.  Comecei a repassar novamente tudo o que aconteceu e aquela raiva que havia adormecido havia poucos minutos, voltou em fúria.

-Por que fez isso comigo? - perguntei olhando o céu,  falando com quem quer que seja que olhasse para mim de lá. - Eu estou tão brava, mas tão brava, que eu seria capaz de fazer não sei o que!

A mulher do Computador - Imagine com Tom HollandOnde as histórias ganham vida. Descobre agora