Parte 1 | Capítulo 5: Marcus

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— Quer que eu apareça aí? Podemos nos encontrar naquele lote vago na rua abaixo da sua casa? — sugeri.

— Melhor não — respondeu. — Acho melhor eu ficar aqui sozinho por enquanto.

— Tá bom! — Disse desanimado em não poder estar ao lado dele naquele momento complicado. — Quer falar para mim o que aconteceu?

— Resumindo meu pai vai acabar com a minha vida se eu continuar com você — respondeu soltando uma risada amarga.

— Se você quiser pode morar aqui em casa enquanto as coisas estiverem complicadas aí — sugeri. 

Ouvi uma respiração funda do outro lado da linha, porém nenhuma resposta. 

— Cássio? — chamei. 

— Acho melhor não! — ele disse finalmente. — Na verdade é melhor darmos um tempo. 

Senti como se tomasse uma paulada repentina na cabeça.

— Tempo? — disse exasperado. — Não, cara! Não faça isso, você precisa de mim. 

— O que eu preciso é de um espaço agora para poder colocar minha cabeça no lugar. — Ele respondeu firme. — Preciso entender o que devo fazer a partir de agora que meus pais sabem de mim e, então, decidir se devemos ou não continuar namorando. 

— Decidir se devemos ou não continuar? — repeti incrédulo. — Cara, não faça isso! Vamos conversar, por favor... Eu pego meu carro e conversamos aí por alguns minutos. 

— Não, Marcus! — ele disse firme. — Não! Se você me ama como diz,por favor, me dê um tempo. Espere as coisas esfriarem, espere eu te procurar.Agora não é o momento de nos vermos, espero que você entenda isso. 

— Mas... — Tentei falar, porém ele me cortou. 

— Espero que você respeite o tempo que preciso. Assim que me sentir melhor te procuro para falar se devemos namorar ou não. Até mais — ele falou bem firme e um pouco impaciente. 

Eu estava atônito, sem saber o que falar, não conseguiria argumentar naquele momento e ele estava fi cando irritado. Decidi acatar o pedido.

— Tudo bem — disse sentindo minhas lágrimas começarem a rolar pelo meu rosto. — O que for melhor para você. 

— Obrigado — ele disse friamente. 

— Beijo — disse sem obter resposta. 

Chorei boa parte da noite, peguei meu carro e fui em direção à casa de Cássio e voltei. Fiz isso duas vezes, mas desistia no caminho. Era melhor dar o espaço que ele precisava, mesmo não entendo o motivo desse distanciamento. 

Estava um caco quando me levantei para trabalhar no dia seguinte. Quando cheguei ao trabalho, Betânia, minha melhor amiga na empresa, percebeu no mesmo segundo que eu estava mal.

— E essas olheiras horrorosas? — perguntou assim que me sentei ao lado dela para enfrentar mais um dia de trabalho. 

— Cássio! — respondi sem querer entrar em detalhes. 

Liguei meu computador e tentei me concentrar no que tinha que fazer. Não conseguia me focar. Quase toda hora a nossa conversa martelava em minha mente, me deixando para baixo. 

Acabei indo com Betânia em um bar depois do expediente, em plena segunda-feira,para contar o que aconteceu. Foi muito bom desabafar. Olhava para meu celular a cada cinco minutos na esperança de uma ligação do Cássio. Cheguei em casa quase meia-noite, extremamente bêbado.

Nos dias seguintes não bebi perto do trabalho, mas quando chegava em casa,ligava para algum amigo e o chamava para sair, conversar e beber. 

Na terça saí para beber com Marcel, um grande amigo meu, gay, casado comum cara há cinco anos. Sempre invejei o relacionamento dele com o marido,Sérgio. Eles tinham algo que eu passei a desejar também durante meu namoro com Cássio. Se respeitavam, se amavam, moravam juntos e eram muito felizes. 

Marcel foi categórico ao afirmar que gostou do que ouviu. Disse que namorar alguém como o Cássio era perda de tempo. Segundo ele, eu tinha que aproveitar que estava livre dele para conhecer alguém que não tivesse vergonha de ser gay, pois isso já seria um avanço em qualquer relacionamento. 

Marcel não gostava do Cássio. Enquanto namoramos, Cássio nunca quis conhecer meus amigos gays. Marcel passou a detestá-lo desde o dia que eles se encontraram no meio da rua, e Cássio fingiu que não conhecia meu amigo. 

Na quarta saí com um amigo de infância, Juliano, ele é hétero e sempre foi tranquilo em relação minha sexualidade. Expliquei o pedido de tempo de Cássio, ele ouviu com calma e ficou do lado dele. Juliano disse para eu dar o tempo pedido, que devia ser complicado ser arrancado do armário como Cássio foi e que em poucos dias ele me ligaria para voltarmos. Bebemos muito também.

Na quinta saí para beber com Marília, uma amiga minha que conheci na faculdade. Nessa altura da semana eu estava com uma aparência péssima,barba por fazer, olheiras aparentes e visivelmente abatido

Assim como Marcel, ela me incentivou a buscar por outros caras, que eu não devia ficar em banho-maria como Cássio queria. Inclusive passou o perfil de uma rede social de um amigo extremamente bonito para que eu investisse nele.Eu neguei categoricamente, disse que esperaria até o momento que ele me ligasse e me explicasse o que estava acontecendo. Marília disse que era perda de tempo, minha insegurança começou a falar mais alto e passei a achar que ela estava certa. Também bebemos muito.

Na sexta-feira eu já estava acabado mentalmente e fisicamente. No momento que me sentei em minha mesa e tentei começar a trabalhar, foi quase uma tortura. Bethânia estava preocupada comigo, percebeu que meu rendimento não estava muito bom e me ajudou a tirar o atraso de alguns pedidos que eu estava devendo a alguns fornecedores. 

— Isso está destruindo você — ela disse preocupada enquanto revisava um pedido de compra cheio de erros que eu devia ter entregado na quarta. — Você não pode depender de uma resposta dele. Tá certo que ele deve estar com muitos problemas agora que os pais sabem, mas não deixe sua felicidade em segundo plano enquanto ele pensa se fica ou não com você. Vá atrás dele! 

— Não sei. Vou pensar — respondi evasivo, sem saber qual ação tomar.

Voltei para casa na torcida que Cássio me procurasse. A semana tinha passado e eu estava acabado. Esperava que ele entrasse em contato comigo. Meu celular não parava de tocar. Mensagens de Marcel, Marília e Juliano.Todos falando que eu não devia passar a noite de sexta sofrendo sozinho. Mas decidi ficar na minha aguardando uma ligação. Decidi esperar Cássio entrar em contato comigo até a noite de sábado. Caso isso não acontecesse eu iria atrás dele. Eu não podia ficar só esperando, precisava saber o que ele queria da vida.Eu estava pronto para ajudá-lo. 

Como eu estava muito cansado devido ao ritmo da semana, apaguei em poucos minutos. 

Quando acordei no dia seguinte já eram quase duas da tarde, olhei para meu celular e tive a agradável surpresa de ter uma mensagem de Cássio:

"Podemos conversar hoje à noite?" 

"Sim! Onde e que horas?" 

"Venha aqui em casa, espera meu sinal, tudo bem?" 

"Ok"

Respondi sem entender o porquê devia esperar um sinal dele. Mas estava aliviado em ter sido chamado por ele. 






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