CAPÍTULO 39

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A noite chegou.

Enquanto eu me arrumava no quarto eu podia ouvir a agitação de mamadi que tagarelava sem parar do lado de fora, Mahara estava ao meu lado e fazia um belo esfumado preto em seus grandes olhos verdes. Ela estava empenhada a conquistar Antoni. Deva também se arrumava ao meu lado de uma forma mais genuína, assim como eu. Eu encarei o vestido pendurado e me perguntei se aquilo estava certo, se era isso que eu devia fazer.

– Se está confusa, é melhor esperar um pouco mais! – diz Deva, e eu sorrio –Nossa família não se importaria em adiar a data ou...

A interrompo.

– Se acalme, Deva. Tenho tudo sob controle – digo, e solto o ar com força dos meus pulmões.

Enquanto mamadi corria pra cima e para baixo, eu tentava relaxar. Um enjoo constante me atingia, e eu tentava expulsa-lo de mim, como se fosse possível fazer pelo controle da mente. Meu estomago doía, minha mente girava e tudo que eu tentava fazer ela colocar o cílio postiço, mas minhas mãos tremiam de tal forma que era impossível coordenar algo.

– Me deixe te ajudar! – pediu Mahara, e eu entreguei o cílio para ela.

Ela girou a cadeira da penteadeira e me posicionou de frente para ela, e fechei os olhos. Foi como se um flashback me atingisse. Eu me lembrei de todos os momentos, e de tudo que eu passei até aqui. A chegada do Lucca a Índia, nossos olhares enquanto eu dançava para meu futuro esposo, sem imaginar o que me aguardava, o nosso casamento surpresa e que dia, o que em que eu resolvi lhe dar uma chance. Nossa vinda para a Itália, e início de todos os problemas. As mudanças de humor, as traições, a Regina, sua agressividade e fim de tudo, ou melhor, o início. Quando tudo realmente começou. Quando eu me conheci, e me transformei. Quando eu expulsei toda e qualquer oportunidade de ser feliz por simplesmente nunca ter conseguido esquecer Lucca. Todos os momentos me levaram a onde eu deveria realmente estar.

Eu coloquei o longo vestido, e calcei o salto escolhido por minhas irmãs. Mamadi havia parado de se agitar no corredor, sinal de que estava finalmente tudo bem. Eu desci, totalmente ciente das minhas ações, a família de Lucca ocupavam as cadeiras juntamente com a minha família, todos nos olhavam com olhares curiosos. Uma surpresa nítida.

– O que está acontecendo, Lucca? – questiona Alessandra, com os olhos arregalados.

Lucca estava no altar a minha frente, de terno, ao lado de um juiz de bem, pronto para nos casar. Mais uma vez. Seria uma renovação de votos, seria. Usaríamos a oportunidade para fazer o que deveria ter sido feito a anos atrás, mas agora por vontade própria, nós nos casaríamos na sua cultura. Foi como uma surpresa. Eu não pensei ao aceitar o seu pedido, e ele decidiu que seria hoje o casamento e eu mais uma vez, não consegui opinar. Eu estava surpresa. Em choque. Não imaginaria.

– Vocês foram convidados para o meu casamento com a mulher que eu escolhi, mais uma vez, mas dessa vez, dá forma correta...– ele pausa – Para ser a minha esposa.

Eu sorri sentindo meus olhos marejarem.

– Sendo assim, vamos logo com isso! – diz Gabriela, com um sorriso enorme nos lábios.

Alessandra permanecia em estado de choque.

Uma melodia suave começou a tocar, e de braços dados ao meu baldi eu comecei a caminhar lentamente em direção ao altar onde ele me aguardava. Minhas pernas me guiavam de forma automatica, elas me levavam em direção ao meu destino, mas dessa vez eu não sentia medo, eu não tinha dúvidas e nem angústias. Ele era o amor da minha vida. Sei que a nossa história será longa, teremos muito pela frente, mas eu não abriria mão de viver ao novo ao lado da pessoa que um dia eu tanto amei. Talvez a vida seja feita de mudanças, e eu quero poder vivenciar cada mudança ao lado de uma pessoa que agora, eu sei que, cuidará de mim.

A cerimônia foi simples e emocionante como deveria ser, a deixando simplesmente perfeita. Era algo emocionante, único. Quando o juiz de bem ordenou que ele me beijasse, quando seus lábios vieram de encontro ao meu, foi algo tão leve que eu não gostaria de parar. Ele era incrível. Eu me sentia completa. Feliz e completa.

– Eu te amo! – ele sussurrou.

Me tum say pyar karti hu – eu te amo. Ele franziu o cenho – Eu te amo, Lucca.

Ouvi todos que estavam presentes bateram palma, sem controlar as minhas lagrimas eu apenas encostei minha testa em seu peito largo e sorri. Eu literalmente estava pronta para viver uma vida ao lado dele.

A família de Lucca veio nos parabenizar, junto com a minha família. Todos desejam coisas basicamente parecidas, incluindo, boa sorte nessa nova etapa, coisa que eu também desejo a nós. Muita sorte.

Meu corpo se arrepiou ao ver que a sorte era uma coisa muito sugestiva ao ouvir a voz de Giovani, fazendo com que todos o olhasse. Eu devia esperar que isso aconteceria, eu não devia ter acreditado tanto que passaria de uma forma tão única a perfeita.

– Vocês vão casar o meu próprio filho e não pensaram em me convidar?

– Pai, por favor! – se posiciona Gabriela – Você não tem direito de interferir na felicidade de Lucca. Ele está tão bem. Saudável. Você não pode tirar momentos assim de nós.

– Me poupe, filha! Me poupe da sua ladainha!

– Giovani, vá embora, por favor! Ouça sua mama e vá! – diz nona, e eu engulo seco sentindo o coração de Lucca pulsar forte no peito.

– Se acalme! – sussurro para Lucca.

– Se ele fizer algo com você, eu juro que eu o mato! – ele sussurra entre dentes.

– Ele não fará! – sussurro.

– Olá, meu filho! – diz aparentemente desequilibrado.

"Chame a polícia, o manicômio, precisamos tira-lo daqui!" ouço Alessandra dizer, e vejo todos pegarem os celulares para o fazerem. Giovani caminhava em passos lentos em nossa direção, e sorria. Um sorriso tristonho, e ao mesmo tempo sombrio. Lucca me empurrou levemente me posicionando atrás das suas costas.

– O que você quer, pai? – pergunta Lucca.

– Eu queria te ver, antes que me colocassem naquele lar de doido dos infernos! – ele diz, e gargalha – Eu só queria ver se você estava bem.

– Eu não acredito! – diz Lucca.

– Depois daquele dia na clínica, que eu te fiz surtar... Eles me levaram para uma consulta médica, e adivinha? Quiseram fazer exames, conversar comigo para saber se eu estava bem após meu filho me jurar de morte, eles me diagnosticaram com Transtorno Explosivo Intermitente, mas...– pausou – Eu não me importo com as outras pessoas, eu não estou nem ai pra elas, eu aprendi imitar reações, mas eu não sinto nada! E depois de dias, e mais dias, descobriram finalmente o que todos sabiam, que eu sou psicopata...– ele gargalha, e eu apenas fecho meus olhos sentindo um calafrio na espinha – Me diagnosticaram com psicopatia. Não precisa ter medo, Maya... Se eu quisesse te matar, eu já teria feito a muito tempo. E eu sonhei por várias noites com esse momento! Mas, o último ponto, eu decidi, foi uma decisão mesmo, porque eu queria que todos aqui se explodissem, eu vou deixar vocês serem felizes. Por agora. Eu só vim dar a minha benção, não precisa ligar para o manicômio – ele dirige o olhar para Alessandra – eu estou com eles!

Homens de branco se aproximaram do altar, e nos observava cautelosamente.

– Que você tenha uma vida próspera, filho. Não abandone o ramo da família, mude-o, faça-o crescer! Até breve.

Ao dizer isso, ele nos deu as costas e seguiu o caminho da saída de casa acompanhado dos homens de branco, quando Lucca se virou para me encarar, ele me encontrou uma mulher de olhos arregalados e com medo. Ele me abraçou apertado, e me pediu para ter calma. Era como se as suas palavras tocassem a minha alma.

Será que Giovani voltará a nos perturbar? Eu espero que o prendam o máximo de tempo possível.

PROMETIDA AO MAFIOSOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora