14- Avisos Atrasados

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CAPÍTULO 14|
A v i s o s  a t r a s a d o s


          Como foi que isso aconteceu? Em um momento eles estavam verdes e no outro eles estavam negros como a escuridão. Um infinito buraco negro. Com as mãos tremendo, toco meus olhos sem acreditar no que estou vendo, não há mais verde e nem branco nos meus olhos, tudo não passa de negro.

Parece não haver mais ar, e meu pulmão implora por ele. Fecho os olhos, apertando-os e desejando que tudo isso não passe de um pesadelo, um grande e horrível pesadelo, eu não quero que seja real, eu não quero acreditar que isso está mesmo acontecendo. Tudo não deve passar de um pesadelo.

Mas não, não é um pesadelo e eu confirmo assim que abro os meus olhos e encaro o meu reflexo, eles continuam iguais, negros como à noite. Eu respiro fundo várias vezes, buscando o ar que meus pulmões imploram, eu estou paralisada, petrificada, enquanto vejo o meu reflexo.

O que eu fiz para merecer isso? Por que isso está acontecendo comigo, justo comigo? Eu, que abri mão da minha liberdade apenas para salvar o mundo, que condenou a própria alma apenas para salvar bilhões de pessoas, por que justo comigo?

Desprendo os olhos do espelho e olho ao redor do quarto, tudo está bagunçado e revirado, é como se um tornado tivesse passado aqui dentro e tudo que ele deixou foi caos. Nada mais que caos e destruição. Mas não foi um tornado e nada parecido, foi eu, apenas eu. E eu não sei porque fiz isso, não sei o que me levou a fazer isso.

O que está acontecendo comigo? O que eu estou me tornando?

— O que aconteceu aqui? — alguém murmura atrás de mim.

Estou de costas para porta, o que me dá a vantagem de a pessoa não ver os meus terríveis olhos. Ouço os passos dele, que se aproxima pouco a pouco, ouço quando ele pisa nos cacos de vidro e caminha em minha direção. Eu estou parada como uma estátua, não consigo me mexer e nem quero, é como se eu não tivesse forças.

Meus joelhos cedem e caio ajoelhada no chão, sem me importar com os cacos de vidro embaixo.

— Clary, o que aconteceu aqui? — Sebastian pergunta atrás de mim.

Eu não consigo formar nem uma palavra, parece que por mais que eu queria falar, eu não consigo, eu apenas fico ali, ajoelhada no chão com o olhar perdido. Eu sei que ele espera uma resposta, qualquer que seja, mas eu apenas fico em silencio. Eu não consigo falar nada.

Ele se baixa e toca o meu ombro, será que ele está com raiva por não o responder ou por ter feito todo esse estrago no quarto? Seu toque é quente na minha pele fria, me trazendo arrepios pelo meu corpo. Eu não me importo de ele estar no mesmo cômodo que eu ou estar tocando em mim, eu não me importo com isso.

Eu tenho problemas maiores agora, como o porquê de meus olhos estão assim, e por que tudo isso estar acontecendo comigo. Minha vida era perfeita (ou quase) até eu vir parar nesse lugar, depois que cheguei as coisas tenderam a piorar, cada vez mais e mais, e eu sei que não vai parar por aqui.

Algo de muito pior vai acontecer, e vai piorar mais ainda.

Fecho meus olhos com força, eu não quero que ninguém os vejam, eu não quero que me encarem enquanto eu tenho esses olhos negros. Não quero. O que iram pensar quando me virem assim? Que sou igual ao meu irmão?

— Saia — peço ainda de olhos fechados.

Não ouço ele mexer um músculo se quer, ele ainda continua parado atrás de mim com a mão no meu ombro. O quarto está silencioso, apenas as nossas respirações são ouvidas. Alguns minutos se passam, mas parecem ser uma eternidade, ele ainda continua aqui junto a mim, neste caos de quarto.

Os Reis de Edom | 𝖢𝗅𝖺𝗌𝗍𝗂𝖺𝗇Where stories live. Discover now