Epílogo P.1 - Véu e Grinalda

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Era um novo capítulo em minha vida.

Todos os envolvidos da família Bittencourt foram presos em flagrante quando tentavam fugir do Brasil no aeroporto internacional. Graças a Augusto que comandou duas operações muito bem sucedidas, ele e sua equipe chegaram a tempo de impedir o embarque. Foram levados do Brasil para os EUA e lá seriam julgados e presos por todos os crimes, mas ainda assim a outra parte da máfia continuava de pé, um perigo para quem ainda estava na mira deles.

Em uma conversa com Jonas, eu descobri que Gabriel, seu amigo, estava fazendo teste para a polícia federal. Segundo ele, Gabriel tentava repelir seu verdadeiro eu por medo, mas ele disse que não poderia mais viver longe do que gostava de verdade.

E eu, bem, eu estava sendo sugada neste momento por uma princesa de cabelos escuros, pele clara e sedosa, que rolava seus olhos azuis cheios de curiosidade, mãozinhas delicadas e uma pré-disposição a mordiscar o bico do meu seio, o que era uma tortura a ser lidada. Ana Júlia estava com um ano e meio, e por mais que minha mãe e as tias Gertrudes e Marli, muito corujas, pedissem para eu dar papinha, falei que esperaria mais um pouco, meu dever era deixá-la bem saudável.

Augusto e Isaac chegariam amanhã, prontos para vestirem-se em ternos pomposos e ficaram enfileirados no altar como padrinhos de casamento. Não havia outra forma de selar um pacto de felicidade e respeito com Jonas sem um casamento. Seu pedido foi autêntico. Ele pusera o anel dentro de uma fralda a ser usada. Quando eu a abri para trocar Ana, o objeto redondo de ouro lapidado de diamante caíra sobre a cama. Eu fiquei paralisada, olhei para a porta do quarto, ele estava escorado no vão, o olhar brilhando, e o sorriso no rosto. Por um momento eu esqueci de trocar minha filha e corri para os seus braços, o beijei, o agradeci por tudo que ele fez e vinha fazendo.

As maravilhas não pararam por aí. Jonas conseguiu convencer Abelardo a internar-se numa clínica para dependentes químicos. Ontem, enquanto eu colocava Anna para dormir, recebi uma ligação que fez-me ter mais esperanças. Era Abelardo, perguntando como estava meu bebê, se eu sentia saudades dele. Disse a ele que não tinha um dia que eu não pensasse nele.

- Como está indo o tratamento?

- Estou muito bem. Já estamos no quinto mês de tratamento, estou em sentindo muito bem, e devo tudo a você que abriu meus olhos, e a Jonas que foi tão educado e compreensível. – dissera. – Amanhã estarei no seu casamento, e preparei uma surpresa para você.

- Sério, e qual é?

- Resolvi ocupar minha mente, e comecei a ler vários romances. E eu resolvi escrever um. Se chamará Garota de Programa. Contará a história de uma garotinha que sofreu muito cedo, Falará também como ela é animada, determinada, guerreira, e faz o impossível para proteger quem ama, jamais desiste daqueles que perderam as esperanças, sabe perdoar, e finalmente terá sua vida devolvida a ela.

Engraçado, me parece que eu conheço essa história de algum lugar.

- Acho que será muito bem sucedido...

Desligáramos.

Tia Gertrudes voltou a sorrir mais, voltou a ser a tia que todos queriam. Por saber que Augusto a veria todo ano, passou a ser sua nova forma de terapia, vê-lo a trazia para o mundo. Jonas a presenteou com um apartamento que ele tinha no centro da cidade, ela ficou feliz e ninguém poderia contê-la, agradeceu diversas vezes a Jonas, o beijou até que cansasse. Augusto mobiliou todo o apartamento. Na verdade aquele presente serviria não só para um recomeço dela, mas também de Abelardo, que poderia ter outra visão, e pôr em prática sua maior qualidade: contar histórias. Ele teria um teto digno quando saísse do tratamento.

Garota de ProgramaWhere stories live. Discover now