1.3° Capítulo - Sob Meu Olhar

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Ajeitei meus seios dentro do sutiã. Um carro se aproximou. Não perguntei nada, apenas entrei. A expressão do homem era cansada. Logo percebi que era casado, uma aliança estava encaixada no dedo dele. Ele me olhou indiretamente.

Pelo modelo moderno do carro era alguém cheio da grana. Normalmente as preliminares começavam dentro do veículo, a mão direita corria pelas minhas coxas, seios, mas até o momento: nada.

Inalei o seu perfume forte, um cheiro viril, porém ele não imprimia a fragrância.

Não era a primeira nem a última vez que eu entrava dentro de um carro luxuoso. Era um padrão do meu público, e graças a tia Gertrudes.

Aquele homem me pareceu ser mais um. Sua aparência era comum, vestia terno e gravata, robusto, mãos firmes e grandes, pele clara, cabelos cheios e grisalhos. Ele não parecia ter a idade dos cabelos. Um semblante sério. Suas sobrancelhas eram grossas e se adequavam ao seu rosto.

Sua escolha de motel me pareceu justa, eles não frequentavam motéis de alta classe, a menos que fosse um jovem rico, solteiro e drogado. A não ser os divorciados, eles costumavam levar-me a motéis sofisticados.

Passamos pela recepção. A mulher nos entregou uma chave do quarto nove. Ele me conduziu indiretamente. Após começarmos a subir as escadas, já que o elevador estava quebrado, suas mãos vacilaram pelo meu dorso, mas eram retiradas rapidamente, seu toque era incomum.

Ele era incomum, agora.

Entramos no quarto. O cheiro selvagem impregnado. A cama desforrada entregava o sexo recente de outro casal. Ele desabotoou o paletó, deixou que caísse. Fiquei um pouco constrangida, ele não me olhou desde que entrei no carro - a não ser que um olhar indireto possa ser classificado como um. Mas também eu era apenas um objeto para ser usado, a qualidade pouca interessava. Os mais exigentes eram os velhos de barriga de chope, esses eu não via desde que sai de uma enrascada.

Assim que entramos, tratei de deixar a minha bolsa pendurada na maçaneta. A bolsa era pequena, tamanho suficiente para guardar o dinheiro.

Notando sua ausência, constatei que provavelmente era a sua primeira vez, pelo menos fora de casa. Pus as mãos atrás das costas e desabotoei o sutiã, mas o deixei no corpo. Eu queria mesmo facilitar e acelerar o processo, às vezes eu pensava em desistir, mas eu receava não poder manter-me viva. Realmente eu deveria continuar. Quem ajudaria a pagar o aluguel e as despesas da casa?

Minha tia mal sustentava um emprego, e quando o tinha recebia migalhas, e meu primo, por Deus, só vivia em encrenca e usava drogas.

Um acontecimento me chamou a atenção. As costas largas dele subiam e desciam, ele estava... chorando? Não entendi o que aquela oscilação queria dizer, muito menos o choro.

- Isso foi um erro.

- Me desculpe, o que disse?

Eu, determinada, me esgueirei pela cama, feito um gato predador. Alisei suas costas, beijei seu pescoço, decidida a trazê-lo para a uma hora de programa que teríamos. Mas ele não estava ali, inteiro. Ele fugiu das minhas investidas, levantando-se da cama e penteando os cabelos com os dedos, nervoso.

Fiquei estática na cama, sem entender.

- Qual o seu problema? - questionei.

- Desculpa - ele disse enxugando as lágrimas. - É a primeira vez que procuro outra mulher. Minha vida está um inferno. Mas eu não deveria estar aqui. Ela...

Acredito! Primeira vez? Me engana que eu gosto. Todos os homens casados já traíram suas mulheres. 0,001% dos homens se satisfazem somente com suas parceiras que convivem há um bom tempo, estudo feito e levantado por Victória Blanco, no caso eu.

Garota de ProgramaOnde histórias criam vida. Descubra agora