— Claro, não se preocupe — Disse Ayla de imediato. A gerente acenou com a cabeça e virou-se para ir embora, balançando com desdém seus longos cabelos loiros. Para Henrique, seu andar quase que dizia de forma sutil que era ela quem mandava naquele cinema, mesmo que não fosse, de fato, uma verdade.

Quando ela finalmente se foi, relaxou seu corpo, olhando para sua futura colega de trabalho, que escrevia algo em um bloco de notas.

— Você trabalha aqui há muito tempo? — Perguntou, apoiando-se na parede de tom azulado. Ayla levantou o rosto, soltando um pequeno pigarro antes de começar a falar.

— Desde o começo do ano passado — Afirmou o olhando de cima para baixo e Henrique levantou a sobrancelha direita para a ação da garota. Suas roupas desleixadas em geral não conseguiam transmitir seu comprometimento com as coisas. Amaldiçoou-se por não ter vestido uma blusa social para a ocasião. Em vez disso, usava uma camisa preta surrada com a logo dos Beatles. — Deixa eu adivinhar, esse é o primeiro emprego da sua vida?

Henrique desencostou-se da parede e adotou um postura ereta, tentando transmitir um ar de seriedade, talvez? As pessoas tendiam a pensar que ele não poderia ser levado a sério.

— Sim, esse é o meu primeiro emprego. Mas por que a pergunta?

— Só tentando descobrir com quem eu tô lidando — Respondeu, passando depressa por ele. — Parece que vou ter muito trabalho pela frente — Resmungou, guardando o bloco de notas no bolso do colete de seu uniforme. — Vem, vou te explicar como tudo funciona.

Ele balançou a cabeça, confuso com o que a garota acabara de falar, mas resolvendo deixar aquilo de lado e segui-la de qualquer forma.

Imaginava o que seus amigos deviam estar fazendo naquele momento. Com certeza não era aprendendo sobre como um cinema funcionava.

Saber disso o desanimava um pouco, já que o que ele deveria estar fazendo era ingressando em uma universidade — ou seja lá o que a sociedade espera que os jovens façam quando completam 18 anos.

Mas ali estava ele, desvendando os mistérios da arte de fazer pipoca.

— Tirando os serviços gerais e a parte administrativa, há basicamente três funções aqui — Disse Ayla, iniciando sua explicação. — Resumindo, na bilheteria os ingressos são vendidos — Apontou para as três cabines vazias logo a frente dos dois. — Na bombonière, é feita a comida — Henrique balançou a cabeça, observando a pequena lanchonete atrás de si. — E temos o usher. A função que ele desempenha são várias, mas as principais são: recepcionar as pessoas e limpar as salas. Entendeu?

— Sim — Disse e não mentiu, pela primeira vez durante aquela tarde conseguiu assimilar alguma coisa sobre aquele lugar. A voz de Ayla era bem diferente da de Fátima, Henrique não conseguiu desgrudar os olhos da garota um segundo sequer enquanto ela falava.

Ele colocou as mãos dentro dos bolsos de sua calça jeans, observando-a pegar o bloco de notas mais uma vez.

— O que você tanto escreve, aí? — Questionou, sem pensar muito a respeito.

— Não acho que seja da sua conta — Proferiu sem tirar os olhos do pequeno caderno.

Ele levantou as mãos em rendição ao escutar a resposta ácida da garota e as levou ao peito esquerdo, fazendo rapidamente uma expressão de dor.

— Ai, essa doeu no fundo do meu coração — Disse, parecendo magoado.

Ayla o ignorou, guardou o bloco novamente em seu bolso e começou a andar em direção a bilheteria.

— Você não gostou de mim — Afirmou, chegando rapidamente ao seu lado. — O que foi que eu fiz?

Ela respirou fundo antes de encará-lo.

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