Capítulo Um

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Henrique tentava se concentrar nas palavras que saltavam para fora da boca da gerente, mas a tarefa era dificultada pelo timbre de voz agudo da mulher e a inclinação do garoto a distrair-se com qualquer coisa que parecesse mais interessante que o que estava à sua frente.

Depois de um longo monólogo sobre os dias em que ele ia trabalhar, quanto ia receber e a importância de ter ética em seu trabalho, ela finalizou dizendo que deixaria uma funcionária experiente o conduzir e explicar como as coisas funcionavam.

— Você entendeu tudo, não é?

— Entendi — Afirmou balançando a cabeça freneticamente, esforçando-se ao máximo em passar um pouco de veracidade a suas palavras. Porém, o olhar cortante da mulher o fez imaginar que ela sabia que ele não estava prestando atenção.

Quando ela começou a abrir caminho pelo pequeno corredor, foi rápido em tentar alcançá-la.

Trabalhar no cinema da cidade não estava em seus planos, assim como repetir o último ano do ensino médio também não. Mas Henrique estava começando a descobrir que forças maiores agiam sobre sua vida e que ele não podia fazer nada a respeito.

— Eu entendo que isso possa ser difícil para você — Começou a falar, tentando não demonstrar o tom de deboche em sua voz, mas falhando quase que instantaneamente. — A família Montenegro geralmente é a que é servida e não a que serve.

Naquele momento, o garoto sentiu vontade de mandá-la ir a merda e parar de intrometer-se em sua vida, mas tinha quase certeza que aquela não era a atitude mais recomendada em seu primeiro dia de trabalho e que se fizesse aquilo, corria um grande risco de ser demitido antes mesmo de conseguir falar bom dia. Então, limitou-se a responder:

— Não se preocupe, eu vou me adaptar.

Eles pararam em frente a uma grande porta branca e antes que ela a abrisse, o encarou com uma expressão presunçosa.

— Ah, é claro que você vai conseguir se adaptar — Afirmou, com sua fala assemelhando-se mais a uma ordem. — Não pense que por ser filho do prefeito vai ter privilégios por aqui — E abriu a porta, impedindo que ele lhe desse uma resposta a altura. — Ayla.

Henrique observou a garota, que estava pendurando um cartaz na parede, levantar o olhar ao escutar a voz da mulher.

— Sim, senhorita Fátima — Caminhou rapidamente em direção aos dois.

Logo de cara Henrique pôde notar que tudo na garota gritava politicamente correto, seus óculos de grau estavam bem posicionados em seu rosto, bem como seu cabelo estava amarrado em um perfeito rabo de cavalo.

Negócio FechadoWhere stories live. Discover now