— Quer saber, já chega. – falo e peço ao professor para ir ao banheiro, preciso de ar.

Saio rápido pelos corredores e só paro quando o ar que vem do pátio bate no meu rosto. É como subir a superfície depois de mergulhar muito fundo em um lago escuro e frio. Não sei por que tudo isso me afetou tanto, mas se eu não saísse de lá acho que teria uma crise de ansiedade.

Ando um pouco pelo pátio e respiro fundo algumas vezes para acalmar as batidas aceleradas do meu coração. Minhas mãos estão um pouco tremulas e minha respiração um pouco ofegante. Vou até uma torneira e passo um pouco de agua no rosto antes de decidir voltar para a sala, mas antes que eu possa fazer isso ouço passos chegarem ate mim.

— Roberta, está tudo bem?

— Sim. – respondo sem me virar.

— Não era meu objetivo te prejudicar postando aquele vídeo.

— Está tudo bem, você não tem culpa dos idiotas dessa escola serem como são. – finalmente viro e o encaro.

— Você gostou? – sua pergunta é tímida e um tom mais baixo.

— A melodia ficou perfeita. – sorrio de leve.

— Legal. – é tudo que ele diz.

— Acho melhor eu voltar, não quero criar mais confusão.

— Tudo bem. – ele me dá passagem.

Caminho de volta para a sala e Fabio me encara preocupado quando entro, mas o meu sorriso leve o tranquiliza e o vejo aliviar a tensão dos ombros. O professor pergunta se está tudo bem e eu apenas aceno afirmando. Os alunos não estão mais conversando tanto e parece que finalmente o assunto morreu, com isso a continuidade da aula volta a seu curso normal.

São quase seis e meia quando entro no consultório de Mauri e ele me recebe com um sorriso no rosto. Nós começamos conversando sobre a última reunião do grupo de apoio e sobre o tema da minha ultima leitura, ele me explica o real sentido da mensagem que o livro passa e fico muito encantada com a percepção tão diferente, porém interessante que tive e acabo dividindo isso com ele também.

— Bem, e quanto a sua rotina diária, alimentação, escola. O que tem de importante que queira ressaltar?

— Na verdade tem algumas coisas que gostaria de saber a sua opinião e até algum conselho.

— Ótimo, vamos a essas coisas então. – ele ajusta a postura na cadeira e me olha com atenção.

— Tem uma fofoca rolando pela escola, de que eu estive gravida do Fábio e que durante a nossa viagem de férias, quando fiquei doente, eu na verdade teria viajado para fazer um aborto.

— Isso é muito sério, seus pais já falaram com o diretor?

— É isso que gostaria de saber. Eu não contei a eles.

— E porque não?

— Porque na hora tudo que eu pensei foi em esfregar a cara da Babi no asfalto quente.

— Nossa.

— Desculpa, é que estou cansada de tudo. Tem horas que eu queria ter a capa de invisibilidade do Harry Potter e sumir por uns dias, deixar de ser o foco de tanta conversa e fofoca maldosa.

— Calma, vamos por partes. Se a sua duvida é se você fala ou não com seus pais sobre isso, a minha resposta é sim. Alias, com os pais do Fábio também.

— Eu sei que devíamos, mas queria tentar resolver sem envolver meus pais em mais uma confusão na escola.

— Tudo bem, é interessante você tentar resolver os próprios problemas, mas o assunto é bem grave. Porém, vamos tentar um meio termo, já que você quer resolver, tente você falar com o diretor.

Melodia do AmorWhere stories live. Discover now