Diário de uma quarentena

Relato 18 - Dia 18

Mais um dia ou menos um dia?

As piadas de fim dos tempos hoje parecem mais próximas do que nunca. Mas vamos ser realistas, o mundo não vai acabar.

Não, ele continua, com ou sem a gente, ele continua.

Hoje uma de nossas maiores emoções é pegar o elevador para levar o lixo para fora e ficar vendo se alguém vai entrar no mesmo elevador que você.

Ir no mercado então, recriminar cada pessoa como se ela fosse a infectada que iria trazer a doença para mais perto de sua família.

Era estranho ver as notícias que aconteciam lá na China, lá na Itália, lá na Espanha... estarem cada vez mais próximas...

A vontade de sair para a rua, para o bar, para a balada aumentam. Como sempre, acabamos pensando que "comigo isso não vai acontecer".

Até hoje bebemos e dirigimos, realmente rimos na cara do perigo, e ninguém tem mérito por isso, não é louvável, não é digno, é apenas insano e burro.

Negar que o pior está próximo é inevitável para alguns, e isso acaba colocando muitos frente-a-frente com o perigo.

Fiquei um dia em casa, fiz minha parte, agora é hora de inventar uma desculpa para sair e tentar me livrar do peso na consciência.

Atitudes vistas por alguns como uma forma de suicídio também poderia ser vista como uma forma de assassinato em massa.

Enquanto uns temem morrer de tédio, outros temem morrer de solidão, outros temem enfrentar as escolhas erradas, outros temem morrer de fome.

Afastamento e reclusão estão mostrando que somos frágeis e inseguros.

Como quando desejávamos voltar ao tempo de escola onde nossa maior preocupação era com a prova final, hoje gostaríamos de voltar apenas a ter a nossa vida de alguns meses atrás.

Sabe quando você vê que você não tem uma vida tão ruim? Quando você passa a viver uma pior.