VI - GRIMT'S

27 4 0
                                    


Kelmo recuou alguns passos enquanto sentia o calor do fogo aquecer sua pele. Sônia fez o mesmo. As duas se recolheram junto a Miro no batente da porta, enquanto assistiam assustadas o jovem mago infernal balbuciar palavras indescritíveis.

— O que ele está falando? Eu não entendo. — Miro falou.

— É sidelênico. — Kelmo respondeu.

— É a profecia. — Sônia adivinhou, tentando compreender o que o mago falava em sussurro.

Órion repetia aquilo como um mantra e a cada palavra ditada era como se arrancasse um pedaço dele. Ele emitia grunhidos e sua voz estava chorosa, parecia estar sentindo dor e sofrendo naquela tormenta infernal.

Jozariun urs sivie lusquie

I lai geormn nori

Us agin serogae debire

I lai nizosu ínfugos reiuitive

Lai fur gen lori boriji

Dello hiven lai jinmo despie.

As palavras estavam ficando mais nítidas e mais sombrias. Realmente era a profecia citada em sidelênico e a cada vez que ele repetia mais alto ressoava e mais rouca sua voz se tornava. As chamas pareciam se tornarem mais intensas, mais selvagens de uma forma ainda não vista.

Sônia não conseguia tirar os olhos daquele espetáculo infernal. Recuou mais alguns passos e se não agisse logo o jovem incendiaria a casa inteira.

— É... Acho que vamos precisar da água agora. — Ela falou.

Miro assentiu.

— Irei buscar.

O homem deixou o local, porém Kelmo não se convencia que água iria apagar aquelas chamas. O fogo infernal não era como fogo comum, era trabalhoso apagá-lo com água, apenas a água da chuva tinha tamanha eficácia.

— Creio que um balde de água nesse momento não vai resolver. — Kelmo falou, ainda estarrecida.

— Eu sei, mas eu tenho outro plano.

— Que plano? — Kelmo a fitou, um tanto receosa.

— Vai saber na hora, não se preocupe.

Sônia aguardou por mais alguns minutos, porém, com a demora de Miro para retornar — e ela sabia que a fonte de água deles deveria ser distante — o calor já se tornava eminente. Os lençóis começaram a se chamuscar e as paredes que já possuíam uma tintura degasta ganharam manchas negras por todos os quatros lados.

A maga se aproximou do garoto vagarosamente, sentindo suas bochechas aquecerem na medida em que chegava perto dele. Para alguém que vinha de um lugar tão frio era difícil lidar com o calor, ainda mais provindo de um mago infernal.

— O que pretende fazer? — Kelmo questionou, ainda não convicta.

— Apenas confie em mim, só peço isso.

Kelmo suspirou enquanto vislumbrava a cena horrenda que seu sobrinho se definhava. Ela não tinha outra escolha a não ser confiar, mesmo se tratando de uma maga desconhecida que afirmava trabalhar para a seita que a enfiou naquele buraco. Ela assentiu.

Sônia encarou Órion e a luz vermelha dava a sua face uma coloração rubra. O garoto estava sendo dominando pelo próprio poder. Ele estava inconsciente, embora com o corpo erguido e sussurrando freneticamente a profecia, como se invocasse algo. Isso a preocupava bastante. A maga conseguia sentir internamente as chamas ganhando força e que em breve tudo iria ser consumido. Ela precisava reagir.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Where stories live. Discover now