II- A VISITA

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 Miro estava agachado diante de uma fileira de alfaces. Os seus olhos estavam atentos a pequenos brotos de ervas daninhas que hora ou outra nasciam em sua horta. O enorme chapéu de palha cobria os seus olhos, protegendo-o do sol escaldante. Ele cultivava de tudo: Couve, cenouras, tomates, abóboras, ervas medicinais, entre outras para a produção de especiarias. Era um misto de vegetais, além de conter algumas árvores frutíferas diversas no leito de um riacho que corria logo nos fundos. Já estavam ali quando ele chegou naquele lugar há uns anos. O antigo proprietário daquela terra havia cuidado bem do terreno.

Ele enxugava o suor da testa com as costas das mãos. Suspirou exaurido, ainda tinha muito trabalho para fazer. Após a colheita da matinal, ainda seria necessário levar sua produção para comercializar na cidade. Não era tão distante, ficava há cerca de dez quilômetros, mas seus clientes féis já lhe aguardavam cedo.

Miro às vezes sorria de relance, achando graça daquela vida que ele foi obrigado a escolher para sobreviver. Ele era um biólogo, um professor e não um camponês. A sua formação em Sagnows não tinha tanta importância, principalmente em uma cidade fechara como Sidelena. Era angustiante trabalhar tanto por troca de migalhas. Se não fossem pelas plantações e pela criação de animais, mal teriam o que comer.

Ele olhou para a estrada de terra na frente do terreno por trás das cercas de madeira e arame liso. Um jovem de preto vinha caminhando, carregando a sua espada nas costas. Era Nádius, filho de Kelmo com Meicy. Por mais irônico que fosse e coincidentemente, aquele rapaz nasceu sob as mesmas circunstâncias que ele, sem conhecer o pai. Ele o tinha como um filho ainda mais estando unido à Kelmo, entretanto, Náidius era apático demais, como um adolescente rebelde.

Ele o observou até o jovem fechar a porta de madeira da humilde casa de arquitetura antiga, porém conservada. Apresentava-se em uma estrutura de dois andares, as portas e janelas possuíam formato em arco destacado pelos tijolos vermelhos. As portas eram pesadas e de madeira escura, estavam bem arranhadas e fissuradas. Era difícil determinar a cor da pintura das paredes, já que estavam bem velhas e descamadas, além de amareladas pelo tempo e pela poeira. Tanto a moradia quanto o terreno pertenceram aos antepassados de Bern, que gentilmente permitiu que Miro, Kelmo e Marta morassem ali.

Kelmo estava em pé diante de uma mesa de madeira no fundo da sala de sua casa. Ela usava um moinho de ferro maciço que era parafusado na extremidade do móvel. Ela despejava alguns grãos de coentro pela abertura superior do equipamento com o auxílio de um recipiente de madeira. Começou a girar a manivela sem muito esforço e moía os grãos.

Era um trabalho rotineiro que calejava suas mãos. O cabelo estava extremamente curto, pouco abaixo da nuca e ela usava um lenço azul na cabeça. Vestia uma saia longa e rodada com estampas de flores rosadas e uma blusa justa de mangas longas e ombros nus. Por cima usava um avental desfiado na borda.

Os seus olhos reptilianos estavam atentos ao trabalho, concluindo a moagem daquela porção de grãos. Ela organizava o condimento em um enorme frasco para poder comercializar na cidade logo mais.

A ex-caçadora percebeu a porta da entrada se fechar e viu o seu filho entrar. Ela foi ao encontro dele, limpando as mãos no avental. Ela fechou a cara ao se aproximar do jovem de olhos negros.

— Por onde você andou? — Kelmo o questionou, aborrecida.

Náidius manteve a sua plenitude e a ignorou. Caminhou até um sofá velho no meio da sala e se acomodou no estofado ressecado e rachado. O jovem se vestia totalmente de preto, usando um casaco de lã grosso e de gola alta, as suas botas eram marrons e usava uma correia de couro atravessado no tórax, onde embainhava a sua espada nas costas. O cabelo negro era curto, com algumas mechas mais compridas que caía sob os olhos.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Where stories live. Discover now