XXIII - A DESPEDIDA

6 2 0
                                    


Do alto da estrada, acima de uma colina, conseguia enxergar a cidade ao longe e o mar que tocava o céu em sua imensidão azul. As margens das estradas eram rodeadas por campos e pastos, apesar da pouca quantidade de árvores tudo era verde e cheirava a ervas.

Náidius estava maravilhado com o mar, apesar de Itakiã ser uma cidade grande, não chamava a sua atenção, já que Sidelena era bem maior. A brisa fresca açoitava o cabelo curto do jovem e ele mal piscava os olhos para não perder de vista a paisagem maravilhosa.

Itakiã era quente, o calor assolava nas cabeças dos viajantes. Além disso, estavam sedentos. Sônia havia usado todo o restante de sua água para regar o broto de sana. Diego conduzia a charrete, embora Kari já estivesse recuperada. A garota de cabelos cor-de-rosa só queria ficar o máximo que poderia ao lado de Náidius, já que na naquela cidade eles se despediriam.

A medida que foram adentrando na cidade, o chão pedregoso foi dando lugar aos ladrilhos de paralelepípedos. Os sobrados apontavam os telhados triangulares para o céu, um tanto lembrava as moradias de Sidelena. Alguns prédios eram totalmente retangulares, com muitas janelas de madeira. Na base geralmente possuíam tendas de lona com muitos mercadores vendendo os seus produtos, algo que não era tão diferente de Sunira e Sidelena. Havia muitos casarões de pintura branca e colunas tingidas de cores pasteis, a fachada era coberta por trepadeiras floridas e uma pequena varanda de grades metálicas. Era belo, mas tanta beleza denunciava a alta burguesia daquele setor.

Até mesmo as carruagens eram luxuosas. Cavalos de crina bem aparada, com adornos de vermelho a dourado, puxavam as carruagens guiada por um cocheiro bem vestido. Muitas mulheres passavam pelas ruas, com chapéus e guarda-sóis. Elas encaravam o grupo de viajantes passando, algumas apenas empinavam os narizes e outras não conseguiam disfarçar um olhar de desprezo.

Náidius não se sentia confortável. Esperava sair logo daquela parte da cidade e ir de encontro novamente as ruas mais humildes repletas de mercadores, como em Sidelena. Ao menos, naquela parte as pessoas eram menos julgadoras. De qualquer maneira, só o fato dele carregar uma espada nas costas também lhe tornava um tanto ameaçador, sobre tudo, não incomum.

— As pessoas estão nos encarando — Sônia comentou. Um homem obeso de chapéu lhe mirou um olhar feroz.

— Não se preocupem — Diego falou, focando no caminho. — Eles não podem fazer nada. E raramente a guarda real de Algusti visita essa cidade. No máximo, daremos de cara com algum fiscal de meia tigela que se acham donos daqui.

Kari observava o caminho se estreitar após passar por uma praça com muitas árvores, bancos de madeira e arbustos floridos. A ruela em que se adentrava era tão estreita que mal sua charrete se encaixava. Começava a descer uma ladeira, onde os prédios — estruturas indefinidas, cerca de dois andares, como se houvesse encaixado uma casa sob a outra sem qualquer firmeza ou uma coluna de apoio — formavam um cerco ensombrado, com seus topos quase de encontro aos outros. As estruturas eram coladas uma as outras e geralmente o andar térreo era bem menor em vista dos andares superiores, evidenciando uma construção precária.

A garota observava a sua antiga moradia. Ficava no centro de tudo e ali funcionava o bordel. Era sujo e barato, frequentado por viajantes e os homens mais grotescos que já conheceu, além de também por homens de poder — parecia irônico, mas costumavam aparecer frequentemente as escondidas, afinal, eram apenas sujeitos infiéis. Estava tudo fechado, mas a jovem sabia que ainda funcionava bem. Fizeram pouco caso quando a sua mãe foi encontrada morta em um quarto. O dono dali nunca se importou com a vida de ninguém, e comumente as mulheres eram assassinadas por seus "clientes", mas como sempre diziam, não se passavam se mulheres baixas, sem valor algum. As vidas delas pouco agregavam a alguma coisa.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Where stories live. Discover now