XXX - SEM SURPRESAS

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Gabbe tentou disfarçar um sorriso. Continuava a encarar Salomon que se mantinha sério e com um olhar infeliz, quase de arrependimento.

— Você está maluco! Eu conheci os meus pais, eles foram mortos quando eu era criança, mas eu me lembro muito bem deles! O que você quer de mim realmente? Quer me humilhar?

— Eu não estou mentindo em afirmar em ser seu verdadeiro pai.

Salomon se aproximou alguns passos, mas parou ao perceber uma certa resistência de Gabbe ao recuar. Ele suspirou.

— A sua mãe biológica faleceu meses após o seu nascimento. Ela morava em um vilarejo há alguns quilômetros de onde o meu filho mais velho foi enterrado. Eu costumava... eu costumo, visitar o lugar. Ela se chamava Lana, me ofereceu água quando me encontrou no deserto certa vez.

— Você está enganado! Eu não vim de deserto algum.

— Certamente, não. Mas antes de sua mãe falecer, eu a prometi que a protegeria. E outra promessa que fiz a mim mesmo seria de nunca lhe trazer para esse lugar. Por isso, eu a entreguei a um casal de camponeses que não conseguiam ter filhos. Eles a adotaram e a criaram.

— Isso não pode ser verdade!

— Eu nunca mentiria sobre isso. Eu sempre estive presente em sua vida sem mesmo você perceber. Eu queria garantir que estivesse segura e nunca lhe deixei faltar nada de alimentos, roupas e ao menos um pouco de educação.

Gabbe franziu o cenho, desviava o olhar para longe, como se as lembranças a consumissem.

— Então... isso explica nas faltas de chuvas e com falta de colheita sempre tínhamos comida, e... sempre tínhamos dinheiro. Os meus pais sempre me apareciam com livros velhos, embora alguns estavam em uma língua que eu não conhecia.

— Em sidelênico. Eu queria muito que tivesse aprendido.

Gabbe o encarou, ainda chocada com aquela revelação e mesmo cética, muitas coisas estavam fazendo sentido. Talvez Salomon estivesse falando a verdade, mas de toda forma, ele se contradizia em afirmar que a protegia.

— Quando os meus pais morreram eu fui perseguida e vaguei sozinha por um deserto repleto de drácons. Aonde estava você?

— Lutando contra os assassinos de seus pais, salvando o seu vilarejo e mais tarde salvando-a dos drácons. Me perdoe por quase não chegar a tempo. Eu infringia regras da seita para poder te proteger, mas nem sempre eu podia estar presente.

— Deveria ter infringido um pouco mais quando eu fui abusada pelo rei!

Gabbe chorava, aquelas lembranças a feria, e agora sabendo que sempre teve alguém que se dizia dito a proteger, mas que nunca realmente fizera o bastante. Ela sofreu, o seu verdadeiro pai não estava lá para lhe aliviar da real dor.

— Eu não sabia disso. Eu a vi treinar com aquele homem de cabelos brancos, a vi fugir, mas o trabalho na seita me impediu de acompanhar o resto de sua vida. Pensei que houvesse lhe perdido, mas a encontrei anos depois na caçada do feiticeiro. E isso me fez ficar entre uma espada de dois gumes. Você estava envolvida, eu teria que matá-la se fosse necessário. Por isso eu nunca quis te trazer para cá, eu não queria perdê-la assim como perdi o meu filho. Queria que ficasse longe disso.

— Mas no final, você acabou me trazendo para cá? Por quê?

— Por você estar infeliz e após quase ser executada na caçada, sinto que aqui seria mais seguro pra você. Tomei essa decisão quando me procurou e insistiu em vir.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Where stories live. Discover now