XX - CONVALESCENÇA

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            Foi rápido. Náidius apenas havia se jogado no chão e não viu mais nada. Uma nuvem de poeira se levantou e ele se viu junto aos seus amigos rodeado por uma cerca de chamas azuis.

Sônia havia descido dos céus, tão rápida quanto o disparo da arcabuz. Era impressionante a velocidade. A maga havia invocado sua cerca de chamas, projetando-as como um escudo. Por mais inacreditável que fosse, funcionou. O poder dos magos Cosmos era admirável!

Náidius do chão assistiu incrédulo ao espetáculo azul. Sônia olhava para o velho na janela nada amistosa. O homem estava boquiaberto, trêmulo, os olhos estavam esbugalhados como se vissem um fantasma. Ele tentou reagir nervosamente, tentou recarregar a sua arma, mas deixou o saquinho de munição cair.

A maga Cosmos franziu o cenho, apertando os olhos, colérica. As mechas do seu cabelo azulado caíam sob os seus olhos que refletiam a fresta da janela, assim como o semblante do homem com sua arma que mostrava a sua face aterrorizada.

— Não! — Um grito feminino ecoou de dentro da casa.

Uma mulher jovem saiu de dentro, ao abrir a porta ela tropeçou e caiu de bruços. Usava um lenço na cabeça e vestes longas, certamente uma das moradoras camponesas dali.

Sônia não tinha a intenção de atacar aquele homem, queria apenas impor medo já que os três rapazes estavam sob ameaça da arcabuz que ele portava. Mas após a aparição daquela mulher, ela dissipou as suas chamas.

— Obrigada...

A mulher suava, estava abatida e a face chorosa. Respirava pesadamente, parecia cansada demais até para falar. Sônia agachou-se diante dela, observando cada detalhe, a qual fazia a mulher estranhar. Logo a maga percebeu, ela estava machucada no braço, um hematoma roxo e grande.

— Não nos faça mal — ela implorou. — eu prometo dar o que quiser.

— Mas só queremos ajuda — Inarê falou.

A mulher olhava para o elfo assustada, tentou se recolher no chão, ao notar Inarê se aproximando.

— Aconteceu alguma coisa aqui? — Sônia perguntou, já sentindo algo errado naquele lugar.

O velho saiu da casa, se posicionando no umbral da porta segurando a sua arma. A pele era queimada, talvez de tanto trabalhar sob o sol no campo, barba e cabelos desalinhados e corte desinforme, era enrugado como visto pela fresta da janela, mas parecia menos abatido que aquela mulher.

— Um elfo — ele falou, observando Inarê, desconfiado. — Como esse seu amigo, mas mais parecia um demônio.

— Foi horrível!

A mulher estava arrasada, parecia ter vivido um episódio traumático. Inarê estranhou. Um elfo de aparência demoníaca teria atacado aquela vila? Elfos eram pacíficos, não ousariam machucar ninguém, as vezes nem para se defender.

— Como era esse elfo? — Inarê perguntou.

— Não muito diferente de você — o homem falou, áspero. — Cabelo comprido, branco, vestes brancas.

— Tinha uma... estrela — a mulher completou — bordada em vermelho.

— Uma estrela, então... — Inarê já imaginava quem poderia ser, mas não queria acreditar.

— Um pentagrama — Sônia concluiu, mas não fazia ideia, já que não existia elfos na seita.

Inarê se distanciou, caminhando em direção a charrete de Kari, tentando reorganizar os seus pensamentos diante daquele fato.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Where stories live. Discover now