XI - O BORDEL

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Nádius olhava para o alto, para uma nuvem que finalmente encobriria o sol. Ele suspirava enquanto sentia uma gota de suor escorrendo por sua têmpora. O grupo seguia uma estrada, tanto a esquerda como a direita era comporta por paredes de arenito imensas. As rochas apresentavam camadas de cores intercalando entre o amarelo ao vermelho, ritmicamente, com alguns cactos de diferentes tipos no alto. Parecia até um deserto se não fosse a presença de gramas e de algumas palmeiras, entretanto, o caminho era arenoso.

Ao menos, os próprios paredões poderiam fornecer um pouco de sombra. Do alto de alguns, notava-se matas verdes e o canto alegóricos dos pássaros. Alguns arbustos espinhentos também cresciam sob o rochedo com raízes retorcidas que pendiam para fora da parte da rocha mais friável. Parecia a mistura de dois tipos de natureza, ou melhor, um ambiente de transição entre dois biomas.

Inarê parou com sua égua subitamente. Apeou-se e direcionou-se até um arbusto de folhas, mas com redondos frutos que lembravam tomates, porém, azuis. Náidius observou, parando ao lado dele.

— Meu padrasto sempre me disse para não confiar em frutos com cores tão vibrantes — ele indagou.

Inarê colheu cerca de quatro frutos maduros, com um sorriso, entregou um deles a Náidius.

— Não se preocupe, nem todos os frutos bonitos são venenosos. — ele falou.

Eles continuaram a caminhar. Kari observava que Inarê levava alguns sacos de linhos presos à sela de sua égua. Ela ficou curiosa.

— Me diga Inarê, o que exatamente você faz? Digo, em suas viagens?

Inarê caminhava puxando as rédeas de sua égua, tentava alcançar Kari que caminhava puxando as rédeas de seu cavalo. Lado a lado, ele pôde responder a pergunta dela.

— Sou o que vocês chamam de "curandeiro". Saio em busca de ervas, fungos, frutos e algumas outras plantas que posso preparar meus insumos, que naturalmente não existem onde eu moro.

— Humm... — Kari assentiu. — E onde exatamente você mora?

— Gnowa.

— Não sabia que Gnowa abrigava elfos — Diego falou, caminhando ao lado de Kari.

— Eu moro na floresta com a minha irmã. Já faz muitos anos que nos mudamos para lá, nunca nos apresentou nenhum perigo — Inarê se explicou.

— Eu sinto muito por isso — Kari falou, tristemente. — Mesmo depois de tantos e tantos anos, vocês ainda precisam se esconder. Já se passou tempo demais para não serem aceitos pelo resto da humanidade.

— Nos tornamos apenas sobreviventes. Digo, os que nasceram como eu, com as orelhas. Deve estar ciente da miscigenação. Não existe mais nenhum elfo puro. A maioria dos mestiços estão... bem.

— Sorte a deles.

Inarê ficou pensativo. Ele se preocupava com a sua irmã de todas as formas. Orelhas pontudas não eram somente uma característica dos elfos. O rosto fino era algo comum, até mesmo para os mestiços. Isso lhe atormentava, na questão dessa última característica ser mais atraentes para as mulheres, e Gnowa era um lugar repleto de pessoas de má índole. Possuindo orelhas, os elfos eram perseguidos, garotas então, como a sua irmã, era presa fácil para abusadores e comerciantes de escravos.

Apesar disso, como ele havia afirmado, em todos os anos que morou por lá, nunca sequer lhe surgiu algum perigo a não ser que saísse da floresta. Porém, uma adolescente como Irma, exigindo uma vida na sociedade era algo inconfiável.

— Já estamos chegando! — Diego falou, despertando Inarê de seus devaneios.

Chegando? Inarê estranhou, mas observou sobre o que se tratava. Era um tipo de sobrado, ou melhor, um casarão antigo na beira da estrada, era rodeado por muitas árvores até o fundo onde erguia um outro paredão rochoso. Pela estrutura do lugar e cor, poderia ser um tipo de pousada.

Legend - O Mago Infernal (Livro 3)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora