Só fico a sós se for contigo, pt. 1, por Amanda Lomba

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Existem coisas na vida que a gente subestima. O sol em nossa pele, o ar puro do mundo exterior; um toque passageiro e o aperto de um abraço; um beijo na bochecha, dado pelas pessoas que te amam; a companhia daqueles que mais te importam; aquele sorriso que você dá para estranhos na rua quando se cruzam.

Só percebemos o que tínhamos quando perdemos, ou assim diz o ditado. A liberdade foi subitamente arrancada de nossas mãos. O medo tomava conta de todos nós, e em muitos brotava egoísmo. A necessidade de passar por cima dos outros, ignorando o coletivo. Estavam enganados, claro. Era evidente que tomar as precauções era a única maneira de sair daquela situação em que de repente nos encontramos.

Foi só quando sentiu que poderia perdê-la que a garota notou o que Rebeca significava realmente para ela.

Em retrospecto, o que mais doía era a incerteza de um tempo de tamanhas mudanças. A incerteza do amanhã causava enorme ansiedade em todos e, claro, criava momentos de impulsividade. Ela mesma às vezes se via quase surtando e saindo porta afora em busca de uma normalidade que não estava mais lá.

Em retrospecto, Natália percebia que algumas coisas haviam mudado irremediavelmente.

O cinza da apatia dos longos dias de isolamento dava lugar a liberdade retomada. Tudo aquilo que todos consideravam até então algo corriqueiro agora era precioso. A borboleta que pousava na flor ao seu lado quase levara Natália às lágrimas. Não conseguia pensar em nada mais bonito do que aquela criaturinha ali, existindo em completa liberdade.

A empatia de muitos também crescera. Durante a crise, apesar daqueles que se voltaram para o egoísmo, houve também vários atos de altruísmo. Uma proteção ao próximo, vinda de locais nos quais não se esperaria encontrar. Esquecidas as polarizações e diferenças por um tempo, o povo buscava passar pela escuridão e retornar à luz.

A luz para Natália era rever sua família, abraçar as pessoas que amava. Agradecer por sua segurança e proteção em tempos tão temerosos. Não esteve sempre certa de que passariam todos por isso, mas aqui estava ela, do outro lado da tempestade. O arco-íris brilhava no céu sobre sua cabeça e sabia que havia ainda um futuro.

Vai ficar tudo bemWhere stories live. Discover now