Capítulo 25

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Ao longe ouvi passarinhos cantarem arpejos constantes, senti minhas pálpebras tremularam com certo incômodo perante algo morno que acariciava minha pele, estava imersa entre um lugar calmo e outro composto de vários ruídos que mais e mais me chamavam para fora daquela sensação acolhedora. Quando em fim cedi, me deparei com o teto do quarto iluminado pelo sol, de repente os ruídos do ambiente se fizeram cada vez mais presentes e me sentei na cama assustada.

Se o sol já se encontrava alto e o canto dos pássaros numerosamente elevado, só podia significar que eu estava atrasada. Afobada saio da cama e quase caio pela tontura repentina. Calma! Penso enquanto me apoio na parede, dou uma checada no celular e vejo a hora. Realmente estava atrasada se comparado aos outros dias, mas ainda tinha tempo o bastante para não perder a escola, por isso foco em me arrumar.

Passados alguns minutos, desço trotando até a cozinha, enfio a mão na vasilha que se encontra no balcão e pego a primeira fruta que me vem, uma maça. Ainda desnorteada corro em direção a sala abrindo a porta da frente com tudo, com a pressa meus reflexos só se deram conta de que havia alguém na minha frente quando já era tarde demais.

Me choco contra um corpo que não foi para trás com a força da trombada, diferente do meu que com o desiquilíbrio quase caio de costas se não fosse um par de mãos me amparando no lugar. Instintivamente olhei para cima buscando um rosto por mais que já sabia, suas mãos na minha cintura e o cheiro familiar não deixavam dúvidas.

— Igor? — seu nome saí em meus lábios em forma de pergunta.

— Bom dia, chaveirinho. — sua voz envolvente me saúda e incontrolavelmente meus olhos recaem sobre seus lábios.

Como num filme, imagens começam a rodar sucessivamente em minha cabeça, o jogo, Giovana lançando em mim um olhar tão venenoso que me tira do sério, Giovana marcando o último gol que nos leva a vitória e sendo ridiculamente venerada, depois Igor me levando para casa, Igor tentando me animar, Igor me pegando no colo, eu descontando minha raiva no Igor, beijo e Igor aparecendo na mesma frase, Igor confuso saindo que nem foguete para fora de casa, Igor voltando com aquele olhar alucinado. Igor, Igor e mais Igor. Estava quase ficando louca com todos aqueles pensamentos.

Meus olhos se arregalaram com a constatação de que não fora só mais um dos meus sonhos doidos, realmente acontecerá e toda aquela tensão entre nós, só servia para confirmar. Igor parecia divagar pelos mesmo pensamentos que eu, porque de repente seu sorriso se vai e o seu rosto tempo atrás relaxado se transfigura em uma expressão apreensiva.

Segundos se transformaram em horas com o meu corpo envolvido em seus braços, parecíamos paralisados o que era meio ridículo. Só queria entender como faço a proeza de empurrar um acontecimento desses para debaixo do tapete. Não se esquece assim o dia em que o garoto que você gosta te beija.

Instintivamente me debato ate ser liberta de seu abraço e ele se afasta um pouco atrapalhado — Igor, é... — arfo — Oi! Quer dizer... Bom dia! Como vai? — pergunto descontrolada.

— Estou bem — sua voz é serena ao responder — E você como esta? — pergunta depois de desviar o olhar para rua a nossa frente.

— Bem também — digo e meus pensamentos se esgueiram para a noite de ontem — Melhor a gente ir. — Sem esperar por resposta da parte dele tranco a porta da frente e me apresso em direção ao carro. Igor se matem um passo distante na nossa caminhada, porém quando chego perto da porta do passageiro este se apressa em abri-la me deixando esquisita.

Murmuro um acanhado "obrigada" e me acomodo no assento. Porque eu estava agindo assim? Só havia sido um beijo, não era como se fosse minha primeira vez. Claro! Não havia saído por aí beijando vários garotos, na verdade, minha experiência nesse quesito é quase nula considerando que só havia beijado dois garotos em toda a minha vida.

Não posso ser sua amigaWhere stories live. Discover now