A cozinha foi inundada pela claridade alaranjada do entardecer, e uma música acústica suave e deliciosamente calma preenchia o ambiente me fazendo companhia. Cozinhar escutando música é um tipo diferente de terapia, porque me sentia relaxada e inspirada.
Eu lavava os legumes com toda calma do mundo, reparando nos detalhes de suas cores, formas e texturas. A panela de cozi legumes borbulhou ao atingir temperatura alta, e depois de lavar tudo coloquei as batatas, cenouras, brócolis e vagens para cozinhar, meus legumes preferidos.
Pego outra panela dourando o alho e a cebola no azeite, jogando em seguida meu frango desfiado, amo uma comida bem temperada, por isso capricho no sal e pimenta-do-reino, não esquecendo dos meus temperos favoritos cebolinha e salsinha.
Nesse meio tempo confiro as instruções de como se fazer uma lasanha de frango com catupiry, no caderno de receitas da minha mãe. O pequeno caderninho que antes era sempre usado, estava com folhas amarelas e borrado em algumas partes do que eu imaginava ser efeito de pequenas gotas d'água.
A lembrança da época em que minha mãe passava um tempo na cozinha arriscando fazer diferentes pratos, me inundou. Nem sempre a receita dava certo, mas nós duas nos divertíamos muito tentando fazê-la.
Minha barriga sempre roncava ansiando o momento de comer logo, e quando chegava eu me abarrotava de contentamento. Eram momentos ternos e especiais que marcaram uma fase despreocupada que vivemos.
Depois que o frango se refogou, acrescentei o catupiry com algumas azeitonas picadas, misturando até ficar tudo cremoso. O passo seguinte era o molho de tomate que foi fácil de preparar. Conferi também se o legumes já estavam cozidos, os espetei com o garfo e em seguida coloquei todos eles em uma vasilha e temperei.
Parti logo para a montagem da lasanha, abusando também de algumas fatias de mussarela e presunto, ao terminar tudo coloco ela no forno.
Lavei todos os utensílios que usei e joguei fora todo o resto de casca de legumes na sacola orgânica. Eu a mantinha separada do lixo comum, já há algum tempo venho reaproveitando tudo relacionado a hortaliças e frutas para fazer meu próprio composto orgânico.
Decido tomar um banho rápido nesse meio tempo. Subo as escadas correndo em direção ao meu guarda-roupa, pegando meu pijama fresquinho com estampa de cacto. No banheiro espero a água do chuveiro ficar morna, e enquanto me ensaboo os acontecimentos inesperados do dia me invadem.
Um sorriso se formou em meus lábios enquanto penso no Igor mais cedo. A forma como ele transparecia ser importante que eu o perdoasse. A verdade é que eu o perdoei, só não conseguia dizer as palavras. De alguma forma na minha cabeça, eu não podia dize-las por causa da restrição que eu mesma impunha-me.
O medo de ele poder vislumbrar as palavras apaixonadas, que se escondiam nos meus olhos iluminados me assustava de uma forma, que um simples "sim" poderia ser uma declaração de amor. O que era absurdo, mas eu não conseguia evitar esses sentimentos idiotas.
Comecei a gargalhar quando meus pensamentos se esgueiraram para a lembrança da aranha em seu ombro. A forma como ele clamava pela minha ajuda, era bonitinho. Ainda estava rindo que nem uma hiena quando terminei o banho. Passava meu hidratante de pera com cassis nas pernas, quando me lembrei da lasanha no forno.
— Minha lasanha! — grito levando as mãos na cabeça, saindo do banheiro correndo em direção a cozinha. A toalha de banho em que havia me enrolado ficando para trás, na loucura de chegar logo.
Antes mesmo de abrir o fogão o cheiro da lasanha já se alastrava por todo o ambiente, temia por abrir o forno e encontra-lá queimada, mas ao olha-la com mais calma vejo que estava só cozida.
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Não posso ser sua amiga
RomanceOlívia é o tipo de garota que ama ler um livro debaixo de uma árvore. Tudo que é natural a atraí, observar o sol, sujar as mãos de terra, é isso que a faz feliz. Apaixonada pelo amigo de infância que nunca percebeu seus sentimentos. Ela sofre com a...