Capítulo 1 - Good vibes

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- Está muito quente hoje. Você pode encontrar umas estações de hidratação no fim de cada quadra. Mantenham-se hidratadas, vocês duas. Vejo você por aí. Bem vinda ao bairro!

Eu quis saber o endereço, telefone e signo daquele príncipe, mas não fiz absolutamente nada. Esperei apenas ter a sorte de encontrá-lo novamente. Para isso, agindo ligeiramente como uma psicopata, no dia seguinte, acordei e fui levar Jackie para passear no mesmo horário que o da manhã anterior para arriscar a chance de esbarrar com Henry mais uma vez. Mas não funcionou. Teria sido demais pedir o telefone ou soaria como cantada brega? Eu realmente queria uma forma de vê-lo de novo.

Já chegando em casa, distraída com o que Jackie fuçava na grama, ouvi um caloroso "ei!". Era Henry.

- Oi! - Fiquei surpresa, mesmo que aquele tenha sido exatamente o meu objetivo ao sair de casa.

- Como está essa mocinha? - ele agachou pra fazer um afago no pêlo de Jackie. Dessa vez, ela não deu muita atenção para Kal.

- Ela está bem. - Quis responder por mim: "Eu estou ótima, melhor agora".

- Hmm, desculpe. Eu vivo tanto tempo com meu cachorro, que falho ao socializar com humanos. Como você está? - Ele se levantou rapidamente.

- Bem. Sem problemas.

Ri para mostrar que eu não estava nem um pouco chateada.

- Deixe-me corrigir isso. Eu a convidaria para uma bebida, mas ainda são - ele conferiu a hora no relógio - 7h da manhã. Acho que está um pouco cedo para isso.

- Sempre é 5h da tarde em algum lugar, é o que dizem. Brincadeira! Mas um chá gelado ou uma limonada é aceitável durante o dia, caso aceite sugestões.

Estava me oferecendo sim.

- Claro. Tem um parque aqui perto onde eles podem correr sem coleiras. Eles têm monitores que cuidam do pet por algumas horas. O que acha disso como forma de pagar minha indelicadeza? - ele disse, levando a mão ao peito.

- Imagina. Não foi nada. Mas aceito sim conhecer esse parque. Não hoje, pois estou com o horário apertado. Podemos marcar outro dia? - perguntei.

- Sim. Você se importaria em me dar seu telefone? - disse, sacando o celular do bolso da calça de moletom.

Dei meu número e mostrei que estávamos a três casas da minha. Não sei se era prudente dizer logo onde morava, mas se ele viesse me buscar para o passeio, aquela informação seria útil.

***

Achei que vestir roupa de ginástica seria certo, já que o encontro era uma caminhada. O dia estava quente logo cedo, como seguiam aqueles dias intensos de verão. Com o cabelo preso em um rabo de cavalo, peguei meus óculos no aparador próximo a porta e saí com Jackie para esperar por Henry do lado de fora, alguns minutos antes do horário combinado. Meu coração disparou ridiculamente dentro do peito quando o avistei dobrando a esquina com Kal e senti como se ele pudesse perceber isso à distância. Henry apareceu com seu estilo despojado usando uma calça de moletom, camiseta regata e chinelos. Pronto! Não precisava de muita produção.

Seu sorriso era encantador e ligeiramente tímido. Um charme! Não sei se Henry tinha noção do quanto era sedutor. Talvez fosse algo natural ou coisa da minha cabeça. Não parecia forçado, apenas fazia dele um homem interessante, daqueles que você tem interesse de cara.

Mas e se ele fosse casado? E se um belo dia ele aparecesse com o cachorro e mais duas crianças andando de bicicleta? Eu não sabia nada sobre ele, nem tinha tido tempo de perguntar. Um homem lindo como Henry, por volta dos seus 35 anos, tinha uma história e eu estava louca para conhecer.

- Então você é da Califórnia? - ele perguntou enquanto nos sentávamos no banco do parque, enquanto os monitores levavam nossos pets.

- Sim, nascida e criada em São Francisco. E você?

- Sou de Jersey... não New Jersey. Só Jersey, a ilha.

- Sei.

- O que te trouxe a Londres? Deixe-me adivinhar. Trabalho?

- Sim, na verdade, mudança no ramo de trabalho. É uma história longa. Basicamente, quis começar em um lugar novo. - Henry ficou me olhando e esperando por mais. - Pedi demissão de uma empresa de tecnologia e quero abrir minha própria cafeteria.

- Cafeteria? Interessante! Faz pesar a minha responsabilidade quanto ao lugar onde pensei em levá-la, mas tudo bem. Vou tentar a sorte.

- Não se preocupe. Pelas cafeterias que conheci aqui nas últimas semanas, me destacar com meu negócio será um desafio.

- O que acha de deixar nossos amigos aqui e conhecer algum café próximo que você não tenha visitado? Assim, você me dá seu parecer de especialista. - disse.

- Especialista mesmo é minha sócia. Eu vou apenas administrar o negócio, mas devo dizer que aprecio muito café e tenho bom gosto, viu.

- Não coloque essa pressão em mim, ok? Vou te apresentar a melhor cafeteria da cidade, na minha opinião.

Aquele encontro era algo que eu não poderia ter antecipado quando pisei em Kensington. A cafeteria era aconchegante e tinha diversos tipos de grãos e formas de preparo do café. Conversamos sobre a minha saída de São Francisco e a diferença entre as cidades, mas não poderíamos demorar a buscar os cachorros no parque. O céu escureceu cedo demais e começou a armar uma chuva que não parecia ser passageira. Nossa caminhada para casa foi mais breve do que eu gostaria.

- Henry, obrigada pelo passeio e pela companhia.

- Não há nada que agradecer. Foi um prazer, de verdade. - Ai, socorro.

Thanks, KalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora