Capítulo 40 - This is us

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Londres, Inglaterra

Junho de 2019

Amber

Quando cheguei à casa de Henry, no sábado, ele estava no meio de uma sessão de fisioterapia. Para não desviar sua atenção ou deixá-lo de alguma forma constrangido com minha presença, fui conferir as refeições congeladas que Marianne deixou no freezer. Deduzi que todos na casa já haviam tomado café, pelos pratos e xícaras dentro da pia. Coloquei tudo na lava-louças e resolvi fazer um bolo para o café da tarde.

Após a sessão, o fisioterapeuta foi embora e fiquei finalmente sozinha com Henry. Perguntei se teríamos mais alguém para o almoço, com a gaveta de jogos americanos aberta.

- Não. Somos só... Nós dois. - ele falou com certa hesitação. Mais uma vez, Henry estava evitando me olhar de perto, enquanto eu colocava os pratos na mesa.

Sentei-me à sua frente e percebi o quanto ele evitava o contato visual. Debrucei sobre a mesa com firmeza, mas minha voz saiu mais suave do que pude controlar.

- Henry, olha pra mim. - Ele abaixou os talheres. - Eu não quero deixá-lo desconfortável com minha presença aqui. Se você ainda estiver magoado ou com raiva de mim, tudo bem. Aceite pelo menos minha ajuda como... amiga?

- Você está perdendo o seu tempo comigo, ao invés de passar seus finais de semana de uma maneira menos penosa.

- Ok, já entendi. Se não me quiser aqui, você vai ter que dizer. Diga! Diga e eu vou embora. - Meu tom de voz não soou tão doce.

Henry gaguejou diante do confronto e voltou atrás.

- E-eu jamais faria isso. - Com os olhos fechados, ele soltou um doloroso suspiro. - Desculpe, estou agindo como um idiota mimado.

- Pode apostar que sim. - Pus os talheres ao lado dos pratos de forma mais vigorosa que o necessário.

Almoçamos trocando poucas palavras. Notei que a área antes esfolada acima de sua sobrancelha e sobre os ossinhos da bochecha direita tinha sarado, deixando apenas uma marca esbranquiçada. O mesmo aconteceu nas feridas do dorso da mão.

Entre uma garfada e outra, Henry me observava. O som dos talheres se tornou irritante. Esperava que eu quebrasse o silêncio e não aconteceu. Então, fingiu que não tínhamos nos estranhado minutos antes e começou a fazer perguntas sobre minha mãe, sobre o café, etc. Dizer que estava tudo bem foi a resposta padrão para todas elas.

Só voltei a construir uma frase completa quando terminamos o almoço.

- O que você gostaria de fazer agora? Ficar lá fora, descansar um pouco? - perguntei, como se não estivesse aborrecida.

- Hmm...Tem um jogo pro PC que saiu essa semana e quero testar. Já que não posso fazer muita coisa...

- Tudo bem. Vamos lá. - falei, sem nenhuma empolgação.

Quando ameacei pôr a mão na cadeira para levá-lo, ele deu meia volta se conduzindo pelas rodas.

- Não se preocupe. Eu vou sozinho. - ele disse.

Ao invés de tentar resolver aquele clima esquisito, ele escolheu jogar videogame? Só podia ser brincadeira.

Passamos horas em silêncio no mesmo cômodo nos ocupando com coisas que não exigissem nossa interação. Ele jogando videogame e eu lendo com raiva cinco vezes cada frase do livro no meu e-reader. Aquele dia não estava, nem de longe, sendo como planejei. Henry não quis me pedir para ir embora, mas estava agindo como se eu não fizesse diferença alguma ali.

Dei uma pausa na leitura para preparar o café e quase me arrependi por ter sido tão atenciosa preparando aquele bolo mais cedo. Eu não poderia prever que meu papel ali seria mais parecido com o de mãe do que namorada. Sim, eu estava insistindo nisso. Procurando em cada palavra, um sinal de que ele ainda me considerava como tal.

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