Capítulo 28 - Jogadora

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-E agora, hein? O que é que eu vou fazer sem ela? - Perguntei nervosa enquanto Isa e Vitória me olhavam.


-Vai seguir tua vida, ué, tu mesma falou que disse pra ela que não ia tentar esquecer, segue tua vida! - Isabella falou como se fosse a coisa mais fácil do mundo de fazer.


-Eu falei que não ia tentar esquecer mas isso não quer dizer que vai ser simples! - Retruquei como se fosse óbvio e ela virou os olhos.


-Ninha, meu bem, vai ficar tudo certo! Sempre fica, tu achou que ia morrer quando terminou com a Cecilia, mas olha agora, nem lembra mais dela, isso vai acontecer de novo, tu pode até achar que não vai amar ninguém nunca mais, mas a gente bem sabe que amanhã já vai achar o novo amor da tua vida... - Vi tentou ser o mais didática possível e eu sorri.


-Tomara, Vi, tomara. E se eu não conseguir mais compor? - Perguntei quando essa ideia tomou minha cabeça.


-Mas é óbvio que vai! Para com essas ideia, coração partido é bom pra isso, e além do mais, só vamos lançar álbum de novo em 2021, pelo amor de deus! - Suplicou e eu concordei com a cabeça ainda pensativa.


Poxa, Ju nem pensou duas vezes em nós. Quando cheguei no apartamento dela achei que não sairia mais, achei que ela fosse perceber que é a minha coisa linda e que nada mais importa, que nós duas ninguém separa, mas ela nem viu.


Rolou toda aquela coisa e ela disse na hora que era um erro. Eu esperava, mas não assim tão rápido.


Saí do apartamento um pouco transtornada, nem de longe era minha ideia deixar um bilhete, um pen drive e sumir da vida dela. Eu queria dizer que a amo tanto que se pudesse mudaria da noite pro dia só pra ficar com ela, queria fugir junto dela, mas eu sabia que não era assim.


Julia era difícil, sabia bem o que queria, decidida. Acho que a vida a ensinou a ser assim. Logo com dezessete anos se mudou pro outro lado do continente e fez toda a faculdade longe da família, teve que amadurecer rápido e aprender a cuidar de si. Tudo isso depois de um fim traumático com a Lucy. A menina virou uma mulher completa, decidida e quando botava algo na cabeça não tinha pra ninguém. Também, não é pra menos né? No fim das contas eu tentei insistir mas ela tava certa, eu precisava amadurecer justamente nisso. Pra que fui ficar mandando mensagem e flertando? Talvez se tivesse dado o espaço que ela tanto pediu as coisas seriam diferentes agora. No fim das contas nunca vou saber.


Vi e Isa me levantaram do que parecia ser o meu fim. Tava decidida a não esquece-la e esperar que ela me encontrasse, mas poxa, tava difícil, ela desapareceu do mapa total, não via mais nada que se tratasse dela. Acho que tava ocupada demais com a nova vida em Los Angeles. Fiquei perdida por um tempo até que me achei na minha carreira, que tinha ficado meio de escanteio com tanto problema no meu relacionamento, mas o palco ainda tava ali, me esperando, e eu fui. Me concentrei total na nova tour e nos shows. Tinha que passar a verdade, por isso muitas vezes deixava cair uma lagrima ou outra durante as musicas. Cantávamos todo o novo álbum e mais alguns dos nossos maiores sucessos.


Nós terminamos a tour em novembro de 2019 e decidimos entrar numas férias prolongadas. Tínhamos lançado álbuns novos quase todo ano e saído em tours na mesma frequência. Um descanso era merecido. No ano de dois mil e vinte decidimos investir em pequenos trabalhos, como gravar um documentário da nossa carreira e finalmente lançar a parceria com John Mayer. Na época da composição John me ajudou muito. Eu lembro quando disse pro John, o empresário, que tinha algumas idéias e que achava que a musica se encaixaria com o trabalho do cantor ele deu voltas e voltas até que conseguiu fazer eu e as meninas nos encontrarmos com o ídolo. Ele se envolveu desde o começo com a canção e amou, disse que faria muito sucesso, e fez mesmo. Além disso também iriamos gravar uma musica com Ed Sheeran. Ele tinha uma canção pronta e queria nossa voz pra isso. 2020 seria bem tranquilo se Deus quiser.
Até que foi, tirando todo sofrimento de cantar Slow Dancing In a Burning Room em alguns shows avulsos que fizemos. Quando lançamos a musica com John Mayer no inicio do ano e ela entrou na nossa setlist eu quase morri. Não pensei que seria tão difícil cantar aquela musica ao vivo. E não foi diferente. Estourou em todas as rádios e plataformas, ficou semanas no topo da Billboard e era muitas vezes comentada como a parceria do século de tão grandiosa. Logo na segunda noite depois do lançamento nos apresentamos num show do John que tava acontecendo no Brasil. Os quatro sentados em banquinhos altos enquanto ele tocava guitarra e nós cantávamos apenas. Foi lindo, emocionante, e real. Não segurei as lágrimas, assim como as meninas. Eu tava muito emocionada, mas também triste.


Encaixes da Vida  |||  Romance LésbicoWhere stories live. Discover now