Chapter O1.

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Estava escuro apesar de não ser noite, e a neblina cobria o local de forma um tanto quanto mórbida. Jungkook não podia enxergar muito longe, tudo a mais de um metro e meio era um mistério escondido atrás de uma cortina branca de névoa.

Mas ele já conhecia aquele lugar muito mais do que gostaria de fato para saber tudo o que ele escondia.

Todos os dias ali eram noites cobertas pela neblina. Todos os dias eram frios como se estivessem sempre no inverno. Ele sentia o vento gelado cortar sua pele, embora a vegetação morta do local nunca se movesse com ele. Era um vento que apenas Jungkook sentia, como parte de sua punição para sabe-se lá o que. Ele havia perdido aquela parte, a do que havia feito para estar ali, mas aquele jardim era seu companheiro sempre que descansava a cabeça nos travesseiros e fechava os olhos, assombrando seus sonhos e o lembrando diariamente do que nunca poderia ter.

Hoje Jungkook entendia as palavras do avô, mesmo que preferisse não entender. Jungkook via-se perguntando quem o velho havia perdido, ou quem seu pai havia deixado para trás. Se perguntava como conseguiram viver uma vida daquela forma, sentindo todos os dias aquela agonia que o consumia um pouco mais cada vez que acordava pela manhã, após uma noite de angústia. Jungkook sentia-se mentalmente exausto, esgotado. Dormir não o deixava descansar, apenas o cansava mais e o deixava deprimido. Não havia um momento durante o dia ou a noite em que Jungkook pudesse respirar tranquilo. A maldição não o deixava fazer isso. Nunca, e por isso chamava-se maldição.

Jungkook respirou fundo e olhou em direção ao castelo, ou pelo menos onde ele deveria estar, a enorme construção de areia onde Jimin sempre ficava. Ele já deveria estar ali, costumava sentir quando Jungkook chegava. Ele, de certa forma, trazia alguma dose de alívio para sua sina, mas claro que era momentâneo. Momentâneo demais para realmente fazer algum efeito, mas Jungkook precisava daquilo, seu sorriso de dentinhos tortos era o único motivo pelo qual não havia enlouquecido ainda.

Ouviu passos atrás de si e virou-se imediatamente para trás, esperando vê-lo ali, mas isso não aconteceu.

Jungkook estreitou os olhos.

— Minnie? — chamou, o uso do apelido provando a intimidade que já tinham um com o outro, isso graças a enorme quantidade de vezes que havia estado ali.

Mas ninguém respondeu além da mais nova rajada de vento que o fez fechar os olhos por um instante.

Novamente ouviu passos, e virou-se de súbito, agora desconfiado. O jardim abandonado sempre foi o tipo de lugar que fazia um arrepio subir por sua espinha. Nenhum tipo de luz além da que vinha do castelo ao longe, o frio, a noite, a neblina. A folhagem alta, as flores mortas. A estufa de vidros quebrados e o rio seco ao fundo. O cenário perfeito para qualquer filme de terror, um dos bons, mas com o tempo ele parou de temer o local. Nada pior do que a maldição poderia acontecer ali. O cenário era apenas uma personificação do que ele sentia, de como ele estava: morto por dentro.

— Jimin, eu sei que é você. — disse novamente. Não existia nada vivo ali além dele. Nenhum animal ou planta, era apenas os dois e tinha a sensação de que sempre seria apenas os dois. Presos naquele ciclo sem fim de sofrimento.

Não sabia o que se passava na cabeça de Jimin, se é que se passava alguma coisa. Não sabia se o Jimin real também tinha aqueles sonhos, se aquele era o local onde ambos se encontravam a noite, se ele também sofria, ou se apenas Jungkook tinha aqueles sonhos, como um grito desesperado de sua mente para poder estar junto dele de verdade, ou pelo menos sem a máscara que Jungkook usava diariamente para esconder seu rosto. A verdade era que ele não entendia nada daquilo, nada além do pouco que seu avô havia dado a entender, mas o homem não estava mais vivo, assim como seu pai, as duas únicas pessoas que poderiam clarear um pouco as coisas.

Sandcastle's Prince [Jikook]Where stories live. Discover now