E se... a vida fosse mais gostosa que pipoca e macarrão?

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O barulho da pipoca na panela é abafado pelos sons dos trovões do lado de fora da janela. Paloma se afastara um pouco do fogão para atender depressa o celular, deixando a tarefa de fazer a pipoca para as mãos inexperientes de Marcos. Ele olha assustado para a namorada sem saber se deve apagar o fogo ou deixar que ele continue estourando a pipoca, mas ela segue concentrada no telefonema. Marcos acaba se perdendo ao olhar o perfil perfeito de Paloma, ao notar como a regata branca simples cai bem em seu corpo e a maneira como o short jeans contorna suas curvas, que esquece completamente a panela no fogo. Só quando o cheiro de queimado atinge seu nariz e Paloma aparece correndo, tirando a panela de suas mãos, é que ele se dá conta de que queimou a pipoca toda.

– Meu Deus, Marcos, não sobrou uma pipoquina pra contar história! – Ela está de costas para ele, jogando os restos da comida no lixo – Essa sua cabecinha foi parar onde, hein? Na Terra do Nunca?

– Em você. – Ele diz, envolvendo a cintura dela com seus braços e deixando um beijinho em seu ombro nu – Meu eterno pensamento mais feliz...

Paloma se vira para ficar frente a frente com o amado, dando um selinho nele, antes de estreitar os olhos.

– Deixa de besteira, Marcos Prado Monteiro, que eu te conheço. Tava pensando em safadeza, né?

Ela sai do abraço dele, arrumando a toalha da pequena mesa da cozinha. Ela olha de soslaio para ele que se aproxima devagar, encaixando-se na curva de seu corpo.

– E se for? – ele pergunta de forma sedutora em seu ouvido – Esses pensamentos também envolvem você...

Paloma fecha os olhos e morde a boca, escondendo o sorrisinho de satisfação que surge ao ouvir tais palavras. Ela queria ter o namorado só para si e aproveitar esse dia de chuva bem juntinhos, mas tinham combinado de fazer uma sessão de cinema com as crianças e, apesar de Alice ter recusado o convite, uma vez que ia dormir na casa do pai, e de Gabriela acabar de ligar avisando que passaria a noite com o namorado, Peter chegaria a qualquer momento, vindo da casa da sua cunhada. Mesmo assim, ela se encosta no corpo no amado, que aperta sua cintura com a mão, enquanto ela lhe faz carinho pelo rosto, passando a mão pela barba até encontrar os fios bagunçados do cabelo do namorado.

Neste momento, porém, o celular de Paloma toca novamente, obrigando-os a interromper essa sessão de carícias. Ela se afasta para escutar melhor, fazendo Marcos resmungar.

– Fala, Cunha...

Marcos observa a amada conversar com a cunhada apoiado na parece que separa a sala da cozinha e, quando ela caminha em sua direção, o sorriso dela se alarga.

– Sabe o que a Lulu queria? – Pergunta Paloma, puxando Marcos pela camisa de algodão. Eles caminham até a sala com os olhos fixos um no outro – Ela tava falando que tá caindo um temporal lá fora... – Ele concorda, prestando mais atenção à boca da mulher do que em suas palavras – Sabe o que isso significa?

Ele nega com a cabeça. Seus corpos se encostam no sofá quando Paloma responde.

– Significa que o Peter vai passar a noite lá e... – Ela empurra seu corpo contra o de Marcos fazendo com que caiam lentamente sobre o sofá. Ela se ajeita por cima dele e sussurra em seu ouvido – E que eu tenho a noite toda pra aproveitar com meu Peter Pan da praia...

Marcos sorri e, com a duas mãos pousadas nas bochechas dela, traz seu rosto para perto, até que suas bocas se grudem em um beijo. Ele começa calmo, até que se torna ardente. É paixão, desejo e amor misturados, fazendo seus corpos dançarem numa melodia própria.

Paloma de repente interrompe o beijo com uma gargalhada e se coloca de costas para o amado, deixando seus corpos em formato de concha. Marcos fica sem entender por um momento e espera que ela explique, mas a namorada apenas gargalha.

– O que tá acontecendo aqui? – a indignação na voz dele só faz Paloma rir mais. Ela se vira pra ele, com um olhar travesso.

– Eu disse que a gente ia aproveitar a noite, só não disse como... – e, toda dengosa, se aconchega nele – A nossa sessão de cinema ainda tá de pé, viu? Vem. – Ela puxa o braço do namorado pra cima de si, enquanto ele ri frustrado.

– Ah, não, Paloma. – Marcos tapa a cara com a outra mão livre – Isso é tortura! – Ele olha entre os dedos o sorriso da mulher aumentar – É isso que você quer né? Me torturar?

Paloma concorda com malícia, mordendo o lábio. Ela se vira para televisão e, entrando no joguinho, Marcos passa o braço pela cintura dela e sussurra em seu ouvido:

– Você pode até colocar um filme... – Paloma pega o controle só pra provocar – mas eu não vou deixar você assistir de jeito nenhum.

Ele começa então a dar pequenos beijos pelo pescoço dela, cada vez mais demorados, subindo devagar até chegar na orelha, fazendo com que ambos se arrepiem. Paloma não se aguenta e larga o controle, se virando bruscamente para ele. Suas bocas se procuram, suas peles anseiam pelo toque. Ele tira a regata dela que, em troca, tira a camisa dele e joga no chão. Marcos puxa o corpo de Paloma para cima do seu e quando os beijos começam a ficar mais profundos, um barulho alto faz a mulher cair na gargalhada novamente.

– Isso foi o seu estômago, Marcos Prado Monteiro?

Marcos não se aguenta e começa a rir também, fazendo com que os dois caiam no chão em um riso descontrolado, em sincronia. Bem no melhor momento, o estômago dele resolveu roncar.

Paloma começa a fazer cosquinhas nele, que escondera a cara com uma almofada, morrendo de vergonha por sua fome ter estragado toda a magia da situação. Paloma tira o objeto das mãos dele para encher o rosto do namorado de beijinhos. Ela rola para o lado para se levantar e ajudá-lo a fazer o mesmo.

– Vem, – ela estica a mão pra ele. Marcos a segura e se levanta – deixa eu preparar alguma coisa pra gente comer, antes que essa fera que mora no seu estômago te mate.

Ele pega a camisa no chão e entrega para a namorada, que a veste prontamente. Marcos ama ver sua amada vestindo suas roupas. Eles caminham de mãos dadas até a cozinha e quando estão chegando perto, ele a gira, trazendo-a para junto de seu peito.

– Hoje – o homem diz, arrumando o cabelo claro atrás da orelha dela – quem vai cozinhar pra você sou eu.

– Marcos... – Ela ainda tenta protestar, mas ele a silencia com um beijo.

Pela hora seguinte, Marcos tenta se entender com as panelas, o fogão, o sal e o macarrão. Paloma ainda tenta dar algumas dicas, mas a única coisa que o "chef" aceita são alguns beijinhos de vez em quando. Mais que isso, ele perderia a concentração.

Ela precisa segurar o riso quando, depois de arrumar a mesa e servir suco de uva como se fosse vinho, Marcos serve sua especialidade: macarrão levemente passado com salsichas levemente salgadas demais. Assim que dá a primeira garfada, ela precisa de muito esforço para elogiar.

– Tá uma delícia, meu amor...

Animado pelo elogio, Marcos come logo um tanto e, fazendo uma careta, solta:

– Isso aqui tá horrível, Paloma! – ele corre até o lixinho da cozinha para jogar o que tem na boca fora.

Enquanto isso, Paloma gargalha.

– Você é um ótimo namorado, Peter Pan, mas um péssimo cozinheiro. – Ela fala quando ele se senta de novo. Marcos sorri, um pouco envergonhado.

Nisso, ele tem uma ideia. Pega um fio de macarrão e mostra para a namorada, que não entende nada.

– Eu sei que tá ruim, mas pelo menos dá pra gente imitar aquela cena clássica de A Dama e o Vagabundo... – Ele coloca uma ponta de macarrão na boca e espera que Paloma faça o mesmo, mas ela está morrendo de rir.

– Vamos lá, amor! Cadê seu romantismo? – ele incentiva a namorada.

– Ai, Marcos, – Ela se recupera – você é tão brega às vezes... – Paloma balança a cabeça, mas, com um sorriso, coloca a outra ponta na boca.

Os dois, ao mesmo tempo, comem o fio do macarrão até que suas bocas se unem. O beijo que vem em seguida é inicialmente doce, depois passa a ser quase feroz. Marcos se levanta e faz com que Paloma pule em seu colo. Entre risos e macarrão, ele a leva até o quarto e ali eles se amam. Uma, duas, três vezes... até a chuva passar, a noite virar dia e o sono vencer o desejo.

TERRA DO NUNCA MALOMAWhere stories live. Discover now