E se... o futuro contasse uma história?

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A porta da biblioteca se encontra entreaberta e de lá é possível ouvir gargalhadas e gritinhos estridentes. Todas as tardes de domingo têm sido assim. Depois do grande almoço em família, que às vezes inclui amigos vindos de Bonsucesso, o casal se reúne com seus pequenos gêmeos no grande chão da sala. Rodeados pelos livros que foram do patriarca daquela família, seu Alberto Prado Monteiro, o casal e seus filhos passam horas e horas mergulhados na magia dos livros.

O menino, o mais velho, por exatos dois minutos e trinta segundos, pega o livro surrado da estante mais baixa, perto da mesa enorme de magno puro. Com seus cinco anos e sua energia de criança atrevida, Alberto, que ganhara o nome em homenagem ao avô, escolhe Peter Pan. Ele se parece muito com a mãe, com o cabelo claro formando redemoinhos de ondas no alto da cabeça e expressivos olhos verdes, mas carrega consigo o jeito do pai: livre, corajoso, levemente irresponsável. Caminha por entre as almofadas que a mãe jogou no chão e se aconchega no colo do pai, entregando-lhe o livro.

– Eu quero esse, papai – Marcos, então, olha o pequeno exemplar e não pode deixar de sorrir.

– Peter Pan de novo, campeão?

– Ah, não... – Do lado esquerdo de Marcos, se ouve um muxoxo de reprovação. É Cecília, sentada no colo da mãe, Paloma. Apesar de gêmeos, Alberto e Cecília não se parecem muito. A menina carrega mais traços do pai, cabelos escuros, com pequenos cachinhos nas pontas e o sorriso fácil; os olhos, por outro lado, são de um verde musgo, quase mel. Da mãe herdara a personalidade forte, por isso sempre acaba batendo de frente com o irmão, mas basta um sorriso banguela do mais velho para fazer o coração da irmã se derreter.

Paloma abraça a filha, que ainda olha contrariada para o livro do Peter Pan.

– Hoje é dia do seu irmão escolher, Cecília, mas eu e seu pai prometemos que na próxima vez vamos ler seu livro preferido, "Alice no país das maravilhas", combinado? – Paloma sorri com cumplicidade para o marido que lhe observa ternamente a contornar a situação entre os gêmeos, apesar de Alberto fazer uma careta ao ouvir "Alice no país das maravilhas".

– Combinado – Diz Cecília, ainda um pouco ressentida – Mas dessa vez a mamãe tem que ler. O papai não sabe fazer a voz da Wendy muito bem.

– Ei!! – Marcos se finge de ofendido, só para ganhar um beijo apressado da menina na bochecha.

– Vamos, mamãe, eu quero logo chegar na parte dos piratas – Alberto pula imitando uma espada. Marcos e Paloma não resistem e caem em uma gostosa gargalhada.

– Nada disso, eu prefiro a parte das sereias. – Cecília fala com seu jeitinho sonhador – Elas são muito mais bonitas e poderosas!

– Poderosas? Mais poderosas que os piratas? Nunca!

– Ei, você dois, podem parar – Paloma trata logo de acabar com a discussão entre os gêmeos, enquanto Marcos tenta apenas controlar o riso. Ele sempre foi mais frouxo com as crianças – Os piratas são poderosos, – Alberto estufa o peito, como se tivesse ganho um campeonato, Cecília faz cara feia e mostra a língua para o irmão – mas as sereias são também muito poderosas, elas podem encantar os marujos...

Nisso, Paloma abre um sorriso para Marcos e eles se olham com ternura, cumplicidade e muito amor.

– E tenho certeza que em alguma versão aqui nesta biblioteca existe uma história onde uma sereia encanta o Peter Pan – Marcos complementa a frase sem tirar os olhos da amada.

As crianças pulam extasiadas, loucas para encontrar essa tal versão. O casal logo acalma os dois, prometendo que um dia contarão essa história, mas que hoje é dia escutar a história mais famosa, a que Peter leva Wendy para a Terra do Nunca e luta contra o temível Capitão Gancho.

TERRA DO NUNCA MALOMAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora