E se... do fim do dia viesse uma nova vida?

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Búzios sempre pareceu um paraíso, um lugar mágico e encantador. Até mesmo as coisas ruins que viveram lá não mancharam a imagem de lugar paradisíaco para Marcos e Paloma. Por isso, enquanto caminhavam de mãos dadas pela orla da praia, era inevitável não estampar sorrisos tão sinceros em seus rostos.

É a primeira vez que saem todos juntos de férias e não poderia ter sido mais bagunçado. Primeiro foi Gabriela que se recusava a ir sem o namorado. Foi preciso Marcos intervir prometendo um final de semana a dois ao casal de adolescentes para que ela aceitasse ir. Depois, o zíper da mala de Alice não fechava, a boia de flamingo do Peter estourou, Paloma só não foi à loucura porque Marcos estivera o tempo todo com ela, fazendo graça da grande algazarra que aquela família provocava. Ela ficava tão feliz por vê-lo ali, completamente inserido no seu caos de grande família, que a notícia que guardava tão fortemente, apesar de lhe dar frio na barriga, acalentava seu coração também.

Marcos a puxa pela mão, tirando-a do devaneio e a envolvendo num abraço. O homem apoia o queixo em seu ombro e aponta para um ponto exato na areia.

– Tá vendo aquele montinho de areia?

Ela concorda, passeando as mãos pelos fios negros do cabelo do rapaz.

– Foi bem ali, ó, que uma sereia se apaixonou à primeira vista pelo Peter Pan.

– Se organiza, Marcos Prado Monteiro! – Ela diz, batendo de leve no namorado, antes de puxar os braços dele para mais junto da sua cintura – A sereia não se apaixonou pelo Peter Pan coisíssima nenhuma. – Marcos se faz de ofendido e ela ri, continuando – Foi o Peter Pan que ficou perdidinho de amor pela sereia e teve que ralar muito para conquistar a moça.

Marcos solta uma gargalhada gostosa e sussurra no ouvido da amada

– E valeu cada esforço, sabe por quê? – Ele gira Paloma para que fiquem frente a frente – Porque agora os dois estão completamente – ele dá um beijinho rápido nos lábios dela – apaixonados e – continua dando beijinhos por todo o rosto da mulher – têm uma família linda.

Paloma abre um sorriso enorme e, antes que possa falar algo, Alice os chama para mergulhar no mar.

***

Já no fim da tarde, com as crianças ainda brincando no mar, Marcos e Paloma encontram um lugar na areia e se sentam abraçadinhos, esperando o pôr do sol. Ela deita a cabeça no ombro de Marcos, limpando a areia que ficou da guerrinha que ele fizera com Peter mais cedo. Um sorriso largo brota no rosto do homem quando vê os três pulando as ondas. Paloma olha na mesma direção e também sorri.

– Que maravilha ver essas crianças assim, sabe? Cheios de vida, com saúde, felizes...

– Eu também tô muito feliz, meu amor. Na verdade, eu sou o cara mais feliz do mundo por ter você. Ou melhor, vocês! – Ele diz, dando um beijinho na bochecha de Paloma.

Ela olha para ele, emocionada: Marcos reconhece os filhos dela como parte importante da vida dele e isso não tem preço. Ela não pretendia contar ali, queria fazer um jantar especial, algo bem íntimo. Mas sentiu que aquele momento era plenamente ideal. Não só pelas palavras que ele acabara de dizer, mas pela onda súbita de amor que ela sentiu e por ter todas as pessoas que ela mais amava na vida bem ali, tão pertinho.

Paloma pega a mão do Marcos. Ele sorri, beijando a mão dela. Mas ela puxa a mão dele para baixo, pousando-a em seu ventre e espera.

Por alguns poucos segundos ele fica sem entender. Olha a mão dela sobre a dele, ambas sobre a barriga dela, mas parece ainda confuso. Somente quando ergue seus olhos e encontra os dela, verdes e cheios d'água, é que finalmente entende:

– Paloma, você tá...? Nós vamos...? – Marcos é incapaz de encontrar a própria voz para concluir sua fala.

Ela só balança a cabeça, fazendo que sim, com uma lágrima lhe escapando no olho esquerdo.

Pela primeira vez, Marcos não precisa de controle algum para conter um grito, uma comemoração exaltada demais.

O silêncio dele é a resposta. O silêncio e a expressão maravilhada que ele faz quando as lágrimas também se acumulam em seus olhos.

– Agora tem um pedacinho de você aqui dentro, meu amor. Ou melhor, um pedacinho de nós dois. Um fruto da nossa história...

– Um fruto do nosso amor, Paloma! – Marcos consegue finalmente falar, com uma voz embargada, a mais pura emoção tingindo cada palavra. – Eu nem sei o que dizer. Sério. Não sei mesmo. – Ele balançava levemente a cabeça, um pouco incrédulo, com uma felicidade inexplicável. – Acho que nenhum poema poderia expressar... nenhuma canção. Nada. Eu só sei que nunca pensei que meu nível de felicidade pudesse aumentar tanto assim a ponto de transbordar!

– E transbordou bem aqui, né? – Ela diz, unindo seus dedos com os dele. Os dois riem, as mãos ainda sobre a barriga dela.

– As crianças já sabem? – Ele ergue os olhos em direção aos filhos de Paloma, alheios ao universo extraordinário que acontecia a poucos metros daquelas ondas onde eles, tão distraídos, brincavam.

– Ainda não! Eu pensei em contar pra eles hoje à noite... Tô com medo de como eles vão reagir, Marcos...

– Se organiza, Paloma! – Ele consegue brincar, trazendo-a ainda mais para perto e enfatizando cada palavra ao olhar em seus olhos: – Você é a mãe mais incrível que eu já conheci e seus filhos vão adorar saber que terão mais um irmãozinho pra receber esse seu amor.

Ela se derrete com essas palavras de admiração

– Eu te amo, viu? – Ela olha pra baixo, sorri e imita uma voz de criança: – Te amamos, papai!

Marcos a contempla, inteiramente maravilhado. Um raio de sol escapa, ilumina a mulher ao seu lado e faz resplandecer as mãos do casal unidas sobre o ventre dela.

Com o cuidado para não ser percebido pelas crianças, o futuro papai se inclina um pouco e, com a maior ternura que já sentira na vida, pousa um leve beijo sobre a barriga de sua namorada. Bem ali, onde agora cresce o seu filho. A semente do amor mais puro e verdadeiro que ele poderia sentir na vida.

Como ele poderia imaginar? Logo ele, o menino que não queria crescer... Agora estava ali, diante do amor da sua vida com seu primeiro filho no ventre. Não, ele não era mais um menino perdido. O amor lhe trouxe ao eixo e lhe deu tudo o que realmente importa: a felicidade de ter sua sereia e poder formar a família mais bonita que poderia existir. 

TERRA DO NUNCA MALOMAWhere stories live. Discover now