E se... cada dia trouxesse um novo toque de amor?

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– Parece mais fácil na televisão, né? – Paloma brinca com uma voz de sono, depois de levantar pela quarta vez só naquela noite. Marcos concorda com uma gargalhada, arrumando a coberta para aconchegar a mulher.

Desde o nascimento do pequeno Alberto há algumas semanas, eles não tiveram uma noite de descanso. As pessoas sempre comentaram que os primeiros dias dos recém-nascidos são complicados, mas Marcos nunca imaginou que fossem tanto. Troca de fraldas, cólicas, choro, fome... Além de precisar estar pronto no dia seguinte para aguentar um dia de trabalho e o resto dos afazeres da casa – quando os dois se casaram e passaram a dividir o mesmo teto, dividiram também as tarefas domésticas. Arrumar a casa, lavar o banheiro, fazer o almoço, levar Gabriela e Peter para a escola, arrumar a bagunça das crianças, dar atenção ao bebê, preparar o jantar, ajudar Peter com o dever de casa... os dois tiveram que se multiplicar! Era tudo prazeroso, no entanto. Sentir o bebê em seus braços, olhar para aquela carinha – a mistura perfeita dos dois – ou simplesmente passar um domingo em casa, assistindo a alguma comédia na tv, escutando todo mundo gargalhar, fazia absolutamente tudo valer a pena.

Marcos tem se esforçado para ser o mais presente possível, tudo que envolva a Editora Prado Monteiro ele resolve de casa mesmo, leva sempre as crianças para a escola, acorda na maioria das madrugadas. Não é justo deixar que Paloma tome conta de tudo, afinal ela também precisa de um tempo para si, um momento para se cuidar, se dedicar aos novos modelos que estão prestes a ficar prontos no pequeno ateliê que ela formara em Bonsucesso, ou simplesmente apenas descansar confortavelmente no sofá.

Nesta noite, porém, Alberto está dando trabalho. Chorou quase o tempo todo com cólica e só parava quando a mãe o pegava no colo. Enquanto Paloma tentava acalmar a ferinha, Marcos esquentava alguns paninhos para colocar na barriga do recém-nascido para aliviar a dor. Por isso, quando finalmente Alberto se acalmou e os dois puderam se jogar na cama, só sabiam agradecer pelo momento de paz.

Pouco tempo depois, menos tempo ainda para o jovem casal, eles escutam o chorinho de longe se transformar em berros. Paloma logo desperta, pronta para mais uma rodada de troca de fraldas, de leite e de paninhos quentes. Vendo o sono e o cansaço estampados no rosto da esposa, Marcos delicadamente faz com que ela se deite de novo, colocando-se prontamente de pé e sussurrando:

– Volta a dormir, meu amor, agora é a minha vez.

Paloma mal dá conta de concordar e volta a ressonar baixinho, fazendo Marcos sorrir com ternura, plantando um beijinho na testa da mulher.

O quarto do bebê fica bem ao lado do deles. É de um azul clarinho, com nuvens e aviões desenhados pela parede. Ele se aproxima devagar do berço do neném e segura com carinho o filho. Balançando o corpo de um lado para o outro, tenta se lembrar de alguma canção de ninar, mas o pequeno se remexe todo em seus braços. É quando Marcos percebe que a fralda do filho está pesada demais...

Por inexperiência e um pouco de cansaço, ele se atrapalha todo. É fralda para um lado, talco para o outro, lencinho umedecido no chão, pomada espalhada na bancada... Por fim, ele heroicamente termina de trocar o pequeno e o aconchega em seus braços.

Aos pouquinhos, o pequeno Alberto vai se acalmando, enquanto o pai passa de leve a mão por sua barriguinha dolorida. Marcos se senta na poltrona perto da janela e conversa baixinho com seu herdeiro.

– Hoje tá sendo uma noite difícil, né, campeão? – O bebezinho segura o dedo do pai, fazendo o homem sorrir – E se o papai te contar uma história? – Ele diz, brincando com o dedo preso pela mãozinha do filho – Uma história sobre um menino que não queria crescer, todos o chamavam de Peter Pan...

***

Os primeiros raios da manhã invadem o quarto, fazendo com que Paloma desperte com um sobressalto. Seu primeiro instinto é esticar o braço para alcançar o marido adormecido ao seu lado, mas, para seu espanto, o lado esquerdo da cama está vazio.

TERRA DO NUNCA MALOMAWhere stories live. Discover now