O pecado dos anjos - Uma nova história de Kuroshitsuji

I.III.IV

O quarto em que o jovem duque Everfree estava hospedado naquela mansão fantasmagórica estava em completo silêncio, Devon arrumava seu mestre com todo o cuidado enquanto o menor olhava em volta, estava paranóico como sempre que alguém mencionava a possível presença de um anjo, teria que esperar até que o sol nascesse para fazer qualquer coisa naquele fim de mundo e por isso foi direto ao quarto sem nem explorar a cidade, veria o resto de manhã.

- Eu não quero dormir. - O jovem duque reclama, não era totalmente verdade - Devon, fique aqui, eu quero companhia.

- Como desejar, bocchan… Já que não quer dormir, devo distraí-lo?

- Deve. Ainda não terminei de ler "A arte da guerra", leia para mim.

- Esse livro em específico não é um pouco… Tenso demais para essa ocasião bocchan? Karin embalou alguns contos de fadas, não seria mais confortável ouvir um deles?

- … Deixe para lá. Quero um mapa, vamos brincar de guerra, que tal?

- Está focado neste assunto não é? - Devon deixou uma risada baixa escapar - Tudo bem, bocchan, vou pegar o mapa do vilarejo.

- Seja rápido.

Devon foi até a mala e pegou um mapa detalhado do vilarejo, seu jovem mestre não iria descansar até que sua mente se acalmasse, mas planejamento não era o problema, o pequeno duque estava mentindo, e ele sabia disso. Devon levou o mapa e alguns bonecos de madeira até o pequeno duque que os ajeitou em seu colo e posicionou os bonequinhos no mapa com cuidado, não é como se aquilo fosse uma operação militar, mas o pequeno duque estava agindo como se fosse, planejando e fazendo suposições sobre o que acontecia naquele pequeno vilarejo.

- Bocchan? - Devon o chamou, seu jovem mestre não parava de olhar pela janela, ancioso - Não há nada lá fora, nada mais forte que eu ao menos.

- Se eu dormir, você irá embora não é? - Sapphire finalmente admitiu em voz alta, suspirando - Não quero ficar sozinho nesse lugar outra vez…

- Sente-se desprotegido, não é? - Devon riu baixinho, conhecia o pequeno duque o sulficiente para não precisar de uma resposta - Posso ficar e montar guarda se desejar bocchan, sabe que não preciso dormir, não seria problema.

- Então faça, por favor.

- Como desejar, bocchan - Sorriu, tirando aqueles brinquedos e mapas da cama e ajeitando seu pequeno mestre para dormir - Já sei, o que acha de um forte de travesseiros jovem mestre? Como os que faziamos logo depois de chegar a mansão?

- … É uma boa idéia…

O pequeno duque sorriu enquanto seu mordomo tirava alguns travesseiros e cobertores da bagagem e montava um belo forte na cama de seu pequeno mestre deixando apenas espaço o sulficiente para poder entrar com ele e para que o jovem duque pudesse se mover durante a noite, mas estava óbvio que só aquilo não seria o sulficiente para distrair seu pequeno mestre do perigo lá fora, então Devon entrou no forte com seu pequeno mestre e insistiu que o pequeno tentasse imaginar o que iria descrever, e o jovem duque realmente fechou os olhos, tentando visualizar o lugar que seu mordomo lhe descrevia.

- Bocchan? Estamos aqui, o novo forte… - Devon começou, a voz calma em tom baixo. - Você pode ver em volta? As paredes reforçadas como pediu já estão todas coloridas com vários padrões, a sala principal e o salão são enormes não acha? Podemos brincar de caçar neles com todo esse espaço… Mas temos que ter cuidado para não estragar a decoração com vasos de flores coloridas e o carpete felpudo vermelho, foi difícil encontrar este… - Devon puxou seu jovem mestre para pertinho de si, o envolvendo em um abraço protetor - Teremos muito o que fazer amanhã, então por quê não ir até o seu quarto e descansar um pouco? Vamos? - O pequeno duque concordou devagar, se ajeitando para que sua cabeça ficasse sobre o peito do mordomo, podia ouvir as batidas do coração de seu demônio de estimação, Devon tinha um coração ao qual podia ouvir mas não conseguia sentir pulso algum. Devon fez uma pequena pausa para observar seu jovem mestre, então continuou - … Prontinho, aqui estamos bocchan… Não é tão grande quanto o quarto na mansão, mas com certesa é mais seguro, as janelas são reforçadas com grades de aço e as cortinas foram fechadas para manter a escuridão, espero que não se importe…

Devon parou de descrever o forte imaginário assim que percebeu que seu jovem mestre dormia calmamente, a respiração seguindo o rítmo de seu coração, como dizer que não estava maravilhado com aquilo? Não faziam esse tipo de coisa há muito tempo e dês de a última vez a confiança de seu pequeno mestre em suas palavras havia aumentado bastante, há final, da última vez teve que descrever o forte inteiro, enfatizar que estavam seguros ali e inventar uma pequena história sobre o forte ter barrado um ataque de bárbaros até que o garoto dormisse, dessa vez foi muito mais rápido… Devon aconchegou seu jovem mestre com cuidado no colchão que servia de chão para o forte e o cobriu com cuidado, ouvia passos lá fora e sentia o cheiro do maldito do lado de fora do forte, os instintos de Devon nunca deixariam aquilo passar, o demônio se afastou de seu jovem mestre para ficas na frente do forte, olhando diretamente para o canto do quarto aonde um certo anjo com uma capa roxa clara se escondia.

- Sabe, roxo não é uma cor muito discreta… - Devon rosnou para o homem no canto do quarto - É péssimo para se esconder.

- Quem disse que preciso me esconder de uma criatura inferior como você? Além do mais… O quê um DEMÔNIO como você faz com o MEU marido?

- Ora, relações entre homens não é considerado pecado? - Devon sorriu sarcástico com seu riso contido misturando ao seu rosnado, aquele ser o dava nojo. - E ele é apenas uma criança, seu "marido" é um menininho que não consegue se defender ainda, e eu sou o escudo dele, sempre vou ser.

- Hah, como se o seu tipo fizesse algo por pura bondade assim! Além disso, ele não precisa de um escudo, ele tem a mim!

- Quer dizer a criatura que torturou tanto o irmão mais velho que o pobre garoto morreu? Vá embora de uma vez antes que o acorde.

- Não - Aquele homem sorriu e se aproximou do forte onde o jovem duque estava - Ele foi feito para mim, não para um demônio sujo, e ele virá comigo.

O anjo pegou o jovem duque do forte, a essa altura o pequeno já estava acordado e chorando rios, ele estendeu as mãos em direção de seu demônio pedindo por ajuda, isso foi a gota d'água.

"Silver and gold will be stolen away,
Stolen away, stolen away,
Silver and gold will be stolen away,
My fair lady."