Capítulo 7: Memórias

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"Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, pois estes serão consolados (...)" Mateus. 5:3 - 10

Fora necessária uma longa conversa e muito jogo de cintura (sem trocadilhos) por parte de Alyssa para que a viagem fosse, enfim, marcada.

Jimmy se mostrava relutante em deixar a mãe e a filha sozinhas naquele sítio, e ela compreendia completamente.

­- E se contratássemos um ajudante? Serão só uns dois dias, se não estivermos muito cansados podemos fazer apenas um bate e volta! – Sugeriu, enquanto lavava os cabelos. – Eu ajudo com o pagamento, se for esse o problema. Eu trabalhava antes do casamento, esqueceu? Tenho lá as minhas economias no banco.

O marido apenas torcia a boca em silêncio, uma expressão pensativa no rosto enquanto fazia a barba na pia do banheiro.

- São cinco horas de carro daqui até a cidade dos seus pais. Está bem o suficiente para passar tanto tempo sentada? – Questionou por fim.

- Eu sou bem jovem ainda, meu querido. Não entendo o porquê de tanta preocupação.

Ele suspirou. Limpou a espuma restante do rosto, mirando uma gota grossa de sangue escorrer pelo seu maxilar. Mal tinha sentido o corte profundo que havia feito sem querer. Deu de ombros e grudou um pequeno curativo sobre o mesmo.

- Certo. Faremos as compras quando voltarmos, então. Preciso passar na casa de mamãe para ver se precisam de algo e informar sobre a viajem. Mas já aviso que não podemos ficar muito tempo, no máximo uma noite. Tenho trabalho segunda-feira.

- Eu te amo. – Sorriu ela, saindo do banho e se secando com uma toalha felpuda cor-de-rosa, presente de Brenda.

- Eu também. – Respondeu ele. – Eu vou lá, volto daqui a pouco, mas não precisa me esperar acordada. Não sei se precisarei sair para comprar algo.

- Quer que eu vá junto? – Indagou ela.

- Não será necessário. Descanse. Amanhã será um longo dia.

Jimmy então saiu apressado, enquanto Alyssa vestia seu pijama.

Deitou-se na cama com seu notebook sobre o colo. Apesar da falta de internet (que Jimmy dissera já ter tentado arrumar inúmeras vezes), a plataforma de escrita ainda estava lá, e como podia ser usada em modo offline, não tinha desculpa para não trabalhar além da irritante e persistente falta de inspiração.

Decidiu então fazer uma limpa pelos arquivos. Quem sabe não encontrava algo inspirador entre os incontáveis documentos e fotos que habitavam as profundezas do armazenamento interno?

A primeira pasta que abrira fora uma repleta de textos antigos. Velhas redações de escola, carcaças de histórias jamais finalizadas e poemas avulsos sobre problemas joviais dos quais ela já nem se recordava mais. Deletou tudo sem nem terminar de ler.

A próxima, uma aba que comportava playlists e mais playlists de músicas para cada ocasião. 'Aniversário do Gary", 'Primeira vez da Tina', 'Playlist para cozinhar'. Salvou algumas poucas canções interessantes e apagou as demais.

Passeou por mais algumas pastas, umas importantíssimas, outras completamente inúteis, quando finalmente chegou na galeria de fotos.

Se Alyssa achava que as outras pastas estavam cheias, a galeria a fizera mudar de ideia.

Haviam álbuns e mais álbuns de diversos anos. O mais antigo datava cerca de cinco anos atrás, e estava repleto de fotos da sua infância e da sua formatura do ensino médio.

Passeou por entre as fotos analisando e se perdendo em lembranças, uma a uma.

'Alyssa faz 7 anos'. Podia parecer loucura para alguns, mas Alyssa se lembrava de cada detalhe daquela festa. Uma das poucas onde seus não muito numerosos tios, tias, primos e primas estiveram reunidos todos juntos na fazenda de seus avós.

Doce InocênciaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora