Doce Inocência

Capítulo 6: Confiança

"Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas." Provérbios 3:5-6

Alyssa estava sentada na cama de costas para a porta, observando a janela e imersa em pensamentos enquanto penteava os cabelos loiros. Naquela noite a cólica chegou, e era prenúncio certo de que no dia seguinte estaria menstruada.

Precisaria ir até a cidade comprar absorventes e remédios para as eventuais dores intensas que acompanham seu ciclo, e aproveitaria o fato de que o dia seguinte era sábado para isso. Jimmy não precisaria trabalhar, e de quebra abasteceriam a despensa que já estava claramente desfalcada.

A casa estava silenciosa, e a lua sorria no céu, em sua forma crescente. Uma cigarra cantava sua canção repetitiva em algum lugar no terreno embaixo da janela.

A distração com seus pensamentos e com a atmosfera tranquila contribuíram para o susto que levara quando ouviu o barulho de chaves caindo sobre a cômoda.

- Ah, é você... - Suspirou ela, aliviada. - Como foi o dia, querido? Conseguiu a promoção?

Não obteve resposta. Jimmy estava de costas, escolhendo uma muda de roupas na gaveta, a cabeça baixa e uma expressão diferente no rosto.

- Eu fiz macarrão. Está na geladeira. - Informou ela, tirando alguns fios de cabelo da escova tentando decifrar a postura do marido.

Novamente, ele não respondeu. Alyssa remexeu-se, incomodada com o silêncio, mas não disse nada. Talvez ele só estivesse cansado pelo dia exaustivo, e sua mente estivesse tão distante quanto a sua há minutos atrás.

- Você está feliz, querida? - Indagou ele, finalmente.

- Sim. - Respondeu ela, estranhando a pergunta. - Por que não estaria?

- E você me ama, não ama? - Perguntou novamente, ignorando o questionamento.

- É claro que eu te amo. Mas...

- E você não mentiria para mim, não é? Não trairia minha confiança?

- Jimmy...

- Responda, Alyssa. - Interrompeu pela segunda vez, controlando o tom de voz que beirava a brutalidade.

- Não. - Ela respondeu por fim. - Eu não trairia sua confiança.

- Isso é bom. - Ele aproximou-se da mulher, ajoelhando-se de forma a ficar no nível dos joelhos da mulher. - Isso é muito bom. Afinal, estamos casados há tão pouco tempo... Seria bem ruim termos de brigar por coisas tão bobas.

Ele beijou o pescoço de Alyssa, percorrendo toda a extensão do seu colo. O coração da mulher estava acelerado, mas dessa vez não era de prazer. Ela se sentia confusa pelas perguntas, e algo nos olhos e no tom de voz de Jimmy a faziam se sentir... temerosa.

- Você não concorda? - Ele acariciou seu rosto de forma delicada. Quando ela não respondeu, ele segurou seu queixo com força, forçando-a a olhá-lo nos olhos. - Não concorda?

Ela assentiu devagar, estremecendo perante o brilho esquisito nos olhos do homem.

- Bom. - Ele a soltou, mas dessa vez segurou as mãos da mulher entre as dele, depositando algo dentro delas. - Porque a base de um relacionamento bom, é a confiança. Você confia em mim, não confia?

Ela assentiu outra vez.

Ele sorriu e levantou-se, beijando sua testa. Sua postura mudou completamente, voltando a ser o Jimmy relaxado de antes. Como se nada tivesse acontecido.