Capítulo 45

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Matthew verteu álcool no ferimento causado pelo tiro no braço direito, fazendo a dor pulsante que antes o acompanhara durante a viagem dar lugar a uma sensação de atear fogo ao próprio corpo.

O que era bem parecido com o inferno particular que sua vida se tornara e ao qual já estava mais do que acostumado.

Não se importava com as dores físicas.

A que sentiu, no entanto, assim que o projétil atingiu sua carne, Matthew não estava muito certo se poderia esquecer.

Quem diria que um tiro de raspão fosse figurar no topo da lista de coisas que doíam mais.

A imagem que o retrovisor da motocicleta refletira.

Alexander empunhando a arma de fogo.
O alvo? Ele.

Matthew tentou desviar, com eficiência, aplicando um zigue e zague sem constância.

Mas seu menino era muito bom.

E era controversa a forma como aquilo o enchia de orgulho.

Claro que Alexander não poderia saber que atirara justamente nele, seu pai, um pai que deveria estar morto há 17 anos. Ainda assim, a percepção doía.

Matthew bufou, encarando a própria figura no espelho. Os olhos verdes vermelhos, as bolsas escuras abaixo deles.

Levar um tiro no lugar do filho é uma coisa que o Whitehill faria sem hesitar, mas nunca havia cogitado levar um tiro vindo do próprio Alexander.

Matthew olhou para o sangue que manchava o mármore branco da pia, diluindo-se a água corrente, empossando-se no ralo. Aquele sangue que Alexander derramara, também corria em suas veias.

Matthew socou a bancada, uma, duas, e ainda assim, parecendo insuficiente, arriscou um terceiro soco, e um novo ferimento a ser cuidado.

— Maldita, Ferraro. Maldita seja!

Porque tudo aquilo era culpa dela.

Que Matthew já estava preocupado com o relacionamento dos dois, era evidente. Tudo o que fizera até aquele ponto fora pensando naquilo. Ou melhor, em acabar com aquilo.

Lembrando do que presenciou mais cedo naquele dia quando os dois saíram do apartamento da mafiosa, o modo como Alexander assumira a direção do veículo e, então, mais tarde, o modo determinado como o seu filho sacara aquela arma, e disparara contra ele... Matthew tinha a certeza de algo que já desconfiava:

Alexander tinha caído na teia tecida por Annabelle Ferraro.

E agora era a hora de Matthew parar de usar cartas brancas.

Ignorando os utensílios que o esperavam para uma realizar um curativo improvisado, Matthew pegou o celular no bolso da calça.

Buscou o nome de um subalterno, discando e dizendo as ordens do que precisava ser arranjado. A ligação objetiva acabou, e Matthew cedeu a atenção para seu ferimento no braço direito. A pele dilacerada onde a bala alcançou.

Tinha que ser cauteloso. Ainda que estivesse farto das intenções pouco claras de Annabelle para com seu menino, mexer com a Ferraro seria como cutucar um ninho de vespas.

E não teria volta.

Não poderia deixar a máfia russa de fora daquilo por muito tempo, porém tinha que conseguir fazê-lo, por enquanto.

Mordeu uma toalha enquanto vertia álcool em uma atadura, levando-a até o ferimento e esfregando a área, para se livrar dos pequenos fragmentos de couro da jaqueta que ainda estavam ali. Matthew urrou, parando por alguns segundos enquanto sentia o suor encharcar os cabelos loiros e brancos da nuca.

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