Capítulo 7 - Parte II

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Naquele dia os irmãos Ferraro completavam 49 anos, mas a única coisa que Giancarlo podia pensar enquanto saboreava o jantar com Lorenza, era que no ano que vem, aquela casa estaria tomada pelas vozes, risos, e música de boa qualidade.

Afinal, era de bom tom que todo homem proeminente na sociedade desse uma festa de 50 anos. E Giancarlo abominava a ideia.

Claro que ele já teve sua época de festeiro... Não perdoava um dia na noite Italiana. Mas então tudo aconteceu e, simplesmente, não tinha mais graça.

Pensar no ocorrido, por muitos anos, o deixava possesso. Sempre fora um homem que não sabia o significado do perdão mas, olhando para trás, e concentrando-se nos bons momentos, Giancarlo ficava quase entristecido.

Terminou o jantar, e olhou para Lorenza. Sua mãe lhe sorriu, largando a faca e pegando em sua mão. Não era dado aqueles gestos de afeto, mas no momento deixou que a mão da matriarca lhe fizesse um afago. Iria sair da mesa dispensando o pudim quando uma figura conhecida para ele apareceu pela porta e Giancarlo teve que se controlar para não sorrir.

– Parabéns, Tio Giancarlo. – Annabelle proclamou, chamando a atenção da avó para si. Lorenza logo sorriu e fez um gesto com a cabeça para que adentrasse mais a sala de jantar.

– Belle, minha querida... Não poderia ter usado alguma coisa para propícia para a ocasião? – Lorenza perguntou, escrutinando a jaqueta de couro e a calça jeans da neta - Vou pedir para trazerem um prato para você...

– Annabelle não vai comer conosco, Lorenza – Giancarlo a cortou, antes que a sobrinha tivesse a chance. – Já acabamos.

– Giancarlo...

– Tudo bem, Lorenza. – Annabelle falou, jogando os ombros em um gesto displicente – Não vim para jantar.

Giancarlo deu uma risada.

– Bom saber que o seu senso de horário ainda está funcionando, Annabelle. Mais duas horas e não poderia nem me desejar os parabéns.

Annabelle abaixou a cabeça olhando para as mãos ocupadas por um embrulho. Sabia que deveria ter mandado um cartão, e não aparecido ali. Suas mãos agora pesavam quase uma tonelada, mas ela iria até o fim.

– Trouxe para o senhor.

Ela estendeu o embrulho, colocando-o em cima da mesa. Giancarlo o pegou com desinteresse aparente, mas quando livrou-se do embrulho teve que se controlar para não expressar nenhum sentimento.

Era um tabuleiro de xadrez. Todo feito de mármore, as arestas eram trabalhadas com uma substância dourada, que Giancarlo logo percebeu se tratar de ouro. Aquilo tinha sido feito por encomenda, com toda a certeza.

– Sei que o senhor gosta, e lembro que quando mudei para cá... Sempre jogávamos.

– Era o único modo de cansar a sua cabecinha. – Giancarlo murmurou, antes mesmo de se dar conta que o fazia.

Lembrou-se da menininha, que pela idade, jogava surpreendentemente bem. A carinha de frustração toda vez que perdia, praticamente o obrigando para mais uma partida. Mas logo ela deu lugar a outra pessoa. Uma mulher. Ela acabava de ganhar, porque Giancarlo deixara, e sorria abertamente por pensar se tratar de uma vitória genuína. Seus cabelos longos e levemente avermelhados, os olhos castanhos brilhando de felicidade.

– Pensei que podíamos jogar hoje mais tarde. – Annabelle disse, arrancando-o da lembrança feliz, Giancarlo passou a mão pela borda do tabuleiro.

– Hoje não.

Ela apenas meneou a cabeça, e preparou-se para ir embora quando Giancarlo a interrompeu.

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