Capítulo 25

5.4K 411 59
                                    

" – Mamma?

Paola arregalou os orbes cor de chocolate percebendo os olhos da filha em suas costas marcadas, tentou cobrir o corpo com a toalha de banho.

– Annabelle? O que está fazendo ai?

A garotinha se assustou com o tom da mãe, encolhendo-se na soleira da porta.

– Anna só tava vendo mamma... Mamma tão bonita... Perdonami.

Paola sorriu tristemente para a filha que portava uma carinha desolada, olhando para seus pequenos pezinhos. A mulher agachou-se, abrindo os braços para Annabelle. A menininha correu para o aconchego oferecido, descansando a cabecinha na curva do pescoço da mãe. O cheiro de morangos da mulher se fez presente, e a criança o inalou com gosto, sentindo-se protegida.

Por mais que fosse uma das melhores sensações estar no colo da mãe, a atenção da pequena Annabelle estava nas marcas que havia visto no corpo dela.

– O que é esses roxos na mamãe? Dodói? – Os olhinhos azuis ficaram marejados.

Paola suspirou audivelmente, abraçando a filha um pouco mais forte.

– Mamãe caiu, Anjo. Mas ela vai ficar boa logo, va bene?*

*está bem.

A menina franziu a testa de criança lembrando-se de dois machucados nas costas da mãe. Tocou a roxo que estava no ombro da mulher.

– Tombo feio, machuco mamãe. Tá doendo?

Uma lágrima teimosa rolou pela bochecha de Paola e ela apertou a filha mais em seu peito, para que a pequena não visse que chorava.

– Nada dói com você perto de mim, Anjo. A mamma te ama muito, capisce? Nunca duvide disso.

A pequena Annabelle depositou um leve beijinho na marca arroxeada da mãe.

– A Anna também, mamma. Ti amo.

Paola sorriu.

– Você é meu tesoro, Belle. – A mulher de Gianpietro Ferraro pegou o delicado rosto da filha entre suas mãos e beijou carinhosamente a testa dela – Vá brincar com o seu tio Giancarlo enquanto a mamma se veste, va bene?"

– ANNABELLE!

O grito de horror tirou a mafiosa do que se recordava sem nem mesmo dar-se conta. Não foi surpresa. Era o que aquele lugar fazia. Aquele porão frio parecia lhe tirar todas as lembranças boas, mesmo que Annabelle tentasse se apegar a elas.

Só restava o frio. O ódio. A vingança.

Annabelle ficou momentaneamente cega graças a um foco de luz, o que mais tarde a mafiosa perceberia se tratar de uma lanterna. Seu corpo foi puxado para os braços de alguém, mas a mulher não queria, nem tinha vontade de lutar contra. Estava perdida entre a sensação de realidade e fantasia. Seria aquilo outra lembrança?

– Minha menina – era a voz de Lorenza, a mafiosa reconheceu. A avó a embalava em seus braços como a um bebê, mas o gesto não trouxe conforto. A cabeça de Annabelle doía e girava, a tontura potencializada com os movimentos de vai e vem.

– Eu peguei Mara preparando uma bandeja para trazer para cá, meu amor.

Mara, Annabelle raciocinou. A velha empregada era a única coisa que lhe dava uma noção dos dias que se passavam. A mulher vinha duas vezes. Uma com a comida e com uma bacia de água, a outra para levá-la até o pequeno vaso sanitário, instalado anos atrás por Giancarlo justamente por causa da menina, e garantir assim que Annabelle fizesse suas necessidades.

Rede de SegredosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora